O Dia do Trabalhador em Havana e as impressões de um brasileiro
Havana, primeiro de maio. Durante os preparativos da comemoração do Dia Internacional do Trabalho, Cuba se transforma. Logo no início da manhã, as ruas começam a perder sua tranquilidade bucólica. As crianças deixam suas brincadeiras de lado e os idosos interrompem suas partidas de dominó. As ruas com suas velhas casas são tomadas por bandeiras e cartazes que deixam claro o grande patriotismo cultuado pelo povo cubano.
Publicado 02/05/2012 10:31
Durante toda a semana que antecedeu o primeiro de maio, a rádio e televisão estatal conclamavam ao povo para participar das festividades. Movimentos sociais e políticos organizavam multidões que preparavam o material que seria usado no dia desfile. O lendário periódico Granma, anunciava no dia anterior as ruas e avenidas que seriam fechadas e também as orientações para quem fosse utilizar as linhas de ônibus que partiriam de toda Havana e das cidades próximas para o grande desfile na Praça da Revolução.
Bastava dar uma volta pelas ruas de Havana, para ver nos bares, farmácias, pontos de ônibus, cartazes com palavras de ordem escritas a mão em apoio ao socialismo e as políticas de desenvolvimento econômico e social aplicadas pelo governo de Raul Castro. "Melhorar e aperfeiçoar o socialismo. Ao capitalismo não voltaremos jamais!", são algumas das frases escritas pelos cubanos e espalhadas por toda cidade.
Voluntários
Centenas de jovens voluntários formavam um cordão humano para organizar o desfile das caravanas de trabalhadores, estudantes, militantes, que chegavam a todo o momento. A organização lembra a disciplina militar, mas a alegria do povo cubano faz o desfile lembrar os mais animados carnavais brasileiros.
Com instrumentos musicais, apitos e bandeiras, as caravanas eram conduzidas para ruas próximas à Praça da Revolução, local de eventos épicos e discursos lendários do período revolucionário. Uma a uma as caravanas eram chamadas pelo microfone, e tomavam seu lugar na ampla Avenida Passeo, que em poucos minutos recebe o tom multicolorido de bandeiras cubanas, cartazes e grandes faixas.
O grande papel desempenhado pelas novas gerações de cubanos na organização deste, que é um dos maiores atos políticos do mundo, é um dos destaques do evento. Elomar Cuello, militante da juventude comunista cubana, acordou às três da manhã e junto de outros companheiros foi organizar a caravana de sua escola. Em entrevista para o Vermelho, ele diz que o socialismo é uma obra coletiva que será maturada cada dia mais pelas novas gerações.
"Acredito no socialismo por que ele é um sistema justo. E é isso que importa em um momento que o mundo caminha para crises e guerras fomentadas pela ganância humana. Em Cuba temos um povo livre, culto, que tem em suas dificuldades o combustível de suas mudanças", defende Elomar. O pensamento expressopelo jovem justifica os dizeres de um dos maiores cartazes da passeata, que dizia em letras garrafais: "A Juventude não falhará".
Durante a passeata, fotos dos heróis revolucionários e dos cinco cubanos presos pelo governo estadunidense são carregadas por jovens, crianças e idosos. Quando o povo passa em frente ao Memorial de José Marti, saudavam os dirigentes cubanos e as delegações estrangeiras. Sob o olhar das enormes esculturas de Camilo Cinfuegos e Ernesto Guevara, estava o comandante Raul Castro. Portava um chapéu de palha, entre crianças e chefes militares. Animado, balançava uma pequena bandeira cubana.
No meio de tanta gente, um senhor barbudo de 81 anos chama a atenção. Ao ver a bandeira do PCdoB, o cubano aborda os brasileiros e em expressão de grande alegria saúda a presença do Brasil em Cuba. Fala da admiração por Dilma Rousseff e emocionado defende que a luta não pode ser de um país, mas deve pertencer a toda humanidade. Alejo Monterrey Turillo tem em seu peito uma dezena de medalhas e condecorações. É um conhecido militante, que conta com milhares de horas em trabalhos voluntários.
Brasileiros
Entre os milhares de participantes da marcha, centenas de estrangeiros, militantes de organizações progressistas de todo o mundo, não demorou em que os brasileiros e militantes do PCdoB se encontrarem e, timidamente, formarem uma pequena caravana no desfile.
Ao final do ato, a Internacional Socialista foi tocada e acompanhadas vozes italianas, gregas, venezuelanas, brasileiras e ecoada pelos alegres manifestantes cubanos. Uma militante do Partido Refundazione Comunista da italia, entre lágrimas, carregava um estandarte de Vladimir Lenin.Várias línguas, uma só melodia e a certeza que o socialismo não é obra de um país e sim um anseio dos trabalhadores de todo o mundo.
De Havana,
Pedro Leão