Victor Martins: Caixa lidera a queda dos juros
Os consumidores que quiserem se beneficiar do corte de juros anunciados pelos bancos devem pesquisar bem para não serem vítimas de propaganda enganosa. Levantamento realizado pelo Estado de Minas nas seis maiores instituições financeiras do país mostram que apenas na Caixa Econômica Federal o crédito realmente ficou mais barato em todas as modalidades de empréstimos e financiamentos oferecidas nas agências.
Por Victor Martins*
Publicado 25/04/2012 09:02
No Banco do Brasil, que têm alardeado a redução, em quase todos os casos, os juros só mudaram depois da vírgula — ou seja, nada. As taxas menores valem para poucos e com condições impostas em contratos, que amarram os clientes à instituição. Nos bancos privados — Bradesco, Itaú Unibanco, HSBC e Santander —, também a diminuição de custos ainda é contida.
Não à toa o Palácio do Planalto já emitiu sinais de que está insatisfeito com as baixas anunciadas pelas maiores instituições, sobretudo com o BB, que recebeu orientação direta da presidente Dilma Rousseff e do ministro da Fazenda, Guido Mantega, para baratear as operações com pessoas físicas e empresas. Assessores de Dilma estão com tabelas comparativas mostrando que, no cheque especial, no qual boa parte dos correntistas está pendurada, as taxas permanecem em quase 10% mensais na maioria dos bancos.
"As instituições ainda têm muita gordura para queimar. Infelizmente, a maior parte das reduções anunciadas vem acompanhada de um asterisco com ressalvas, em letras miúda, informando que os clientes precisam cumprir muitas determinações para obter juros menores”, disse um assessor da presidente. “É por isso que Dilma continuará batendo pesado nos bancos e pregando a diminuição do spread (diferença entre o que os bancos pagam aos investidores e o que cobram dos devedores). Só com um spread menor o crédito realmente ficará mais barato”, acrescentou.
BC comprova
Dados do Banco Central comprovam as desconfianças do Planalto. Ao calcular a taxa média praticada nas concessões de crédito, a autoridade monetária mostra que, com exceção da Caixa, o BB, o Bradesco, o Itaú Unibanco, o HSBC e o Santander continuam com encargos do cheque especial praticamente nos mesmos níveis de um mês antes do anúncio das reduções — entre 8% e 10% mensais. Na Caixa, os juros médios dessa linha de crédito passou de 8,05%, em 14 de março, para 5,09% ao mês em 10 de abril. Segundo especialistas, como o banco promoveu a maior queda nesse segmento, nas próximas avaliações do BC, a taxa média deve cair para um nível inferior, situando-se, possivelmente, abaixo dos juros mais altos praticados pela instituição, de 4,27% mensais.
Luiz Carlos Angelotti, diretor-executivo do Bradesco, em entrevista sobre os resultados da instituição no primeiro trimestre de 2012, usou um tom cauteloso ao falar sobre a queda de juros. Segundo ele, o banco cortou taxas para acompanhar a concorrência. Porém, pretende avaliar o mercado antes de se colocar em uma posição mais agressiva. “Adotamos medidas iniciais, em linha com o momento e a tendência atual. Vamos continuar avaliando eventuais novas medidas dentro do possível a ser feito”, afirmou.
Na Caixa Econômica, o projeto é ganhar mais escala com as novas taxas de juros, tentar aumentar a eficiência na liberação de recursos, para depois pensar em mais quedas. “Se conseguirmos, com isso, reduzir o custo das nossas operações, teremos as condições necessárias para cortar novamente as nossas taxas aos consumidores e às empresas”, disse Fábio Lenza, vice-presidente de Pessoa Física da instituição.
Outras frentes
Ainda segundo Lenza, o projeto da Caixa é diferente dos outros bancos porque oferece juros bem menores para todos os clientes, mesmo aos que não levaram o salário para o banco. “Qualquer cliente que abre conta na caixa vai encontrar taxas menores. No cheque especial, a maior é 4,27% ao mês. Para as empresas, no capital de giro, é de 0,94% mensal”, argumentou. A instituição também está atuando em outras frentes para tentar bater a concorrência. Para isso, reduziu as taxas de administração de alguns fundos em renda fixa, de 3% para 1,5% ao ano, e passou a financiar móveis e eletrodomésticos para clientes do programa Minha Casa, Minha Vida. Entre os consumidores de menor renda, os juros são de 1% ao mês. Para os de maior poder aquisitivo, de 2% mensais.
Segundo Alexadre Abreu, vice-presidente de Varejo, Distribuição e Operações do BB, os juros da instituição devem começar a aparecer em menor nível nas próximas pesquisas do Banco Central. Ele argumentou que as reduções ainda são recentes e os dados da autoridade monetária captaram poucos dias depois o anúncio do banco. “Essa redução é um posicionamento estratégico e agressivo do BB e a receptividade tem sido boa. Os desembolsos diários cresceram, na média, 44% depois da queda dos juros”, afirmou. “Isso agora vai ficar mais dinâmico. Mas vamos avaliar o mercado, esperar baixar alguns custos, para depois pensar em novas reduções.”
Bradesco lucra R$ 2,79 bi
O segundo maior banco privado do país, o Bradesco, registrou lucro líquido de R$ 2,8 bilhões no primeiro trimestre de 2012, resultado 3,4% maior que o obtido em igual período do ano passado. Pelos cálculos da consultoria Economática, o desempenho foi o quarto maior já registrado por uma instituição financeira do país em um primeiro trimestre. Os ativos totais do banco atingiram, no período, R$ 789,5 bilhões, 16,9% mais que em março de 2011. A carteira de crédito, por sua vez, avançou 14,6%, ao bater em R$ 350,8 bilhões. Entre os 10 maiores lucros do setor na história, quatro são do Bradesco, quatro do Banco do Brasil e dois do Itaú Unibanco.
Para Luiz Carlos Angelotti, diretor-executivo do Bradesco, o resultado foi satisfatório e dentro do esperado. Segundo os dados divulgados pela instituição, 68% dos lucros decorreram de operações do próprio banco e 32%, da seguradora. “Tivemos um bom resultado, principalmente pelo aumento de base de clientes e pelo maior resultado de tesouraria (operações com títulos públicos e privados), além de redução das despesas operacionais”, explicou. “E, apesar do salto da inadimplência, nossa margem de cobertura se manteve elevada”, disse.
O calote total na instituição ficou em 4,1% no primeiro trimestre. Entre as pessoas físicas, atingiu 6,2%. Se dessa taxa forem retirados os devedores de cartão de crédito, o índice cai para 5%. “Esses números não surpreenderam. Havia uma expectativa de aumento da inadimplência neste início de ano”, afirmou Angelotti. “Entendemos que a inadimplência, pelos efeitos da (queda da) taxa Selic e das medidas adotadas (pelo governo) para impulsionar a economia, deve estar chegando próxima do pico e, em seguida, estabilizar-se”, observou.
*Victos Martins é jornalista.
Fonte: Estado de Minas