Marcha na Colômbia leva 35 mil às ruas por nova esquerda

Mais de 1.700 organizações representativas da sociedade civil da Colômbia se foram às ruas nesta segunda-feira (23) para oficializar a criação da Marcha Patriótica, um novo movimento de esquerda que tem como principais reivindicações a reforma agrária e o fim do conflito armado vivido pelo país.

Colombianos enfrentaram chuva para participar da fundação da Marcha Patriótica/ Foto: Efe

Cerca de 35 mil pessoas, em sua maioria famílias de camponeses, indígenas e estudantes foram a Bogotá para participar da Marcha.

“Queremos ser governo”

Em entrevista à Prensa Latina, David Flores, membro da Coordenadora Nacional da Marcha Patriótica, ressaltou que este é um movimento político e social que nasce da confluência e dos acumulados de um número muito importante de organizações.

Leia também:

Socorro Gomes: Colômbia busca união para superar conflitos

 

Grupos que, segundo Flores, estão decididos a participar da disputa política, dos elementos que afetam o conjunto dos colombianos e a dar discussão sobre o Estado e obviamente sobre o Governo.

"Queremos ser governo", sublinhou Flores e detalhou que a Marcha Patriótica aspira a que exista na Colômbia um governo que governe para as maiorias.

A Marcha Patriótica, explicou, luta pelo que deseja as pessoas, o movimento estudantil, camponês, de bairro, trabalhadores, que são fundamentalmente a Paz, a solução política e a democratização do Estado.

Lutamos também para que a gente possa ter acesso à educação, à saúde, ao emprego digno, ao trabalho, isto é, combater as lógicas neoliberais que existem em nosso país, enfatizou.

"Obviamente lutamos para que a Colômbia seja um país realmente soberano", disse.

Histórico

A ideia de articular o movimento surgiu há dois anos, em julho de 2010, durante as comemorações do Bicentenário da Independência. O Polo Democrático, que representa formalmente os partidos da esquerda colombiana, não participa ativamente do movimento. “Alguns políticos nos apoiam isoladamente, mas não temos respaldo formal deles. Nós queremos independência”, comentou Romero.

O movimento busca se tornar uma “voz” para grande parte da sociedade colombiana. A maioria é composta por camponeses e indígenas, mas pessoas que têm outras demandas também participam em busca de apoio. É o caso da professora Cristina Hernandez, que perdeu a casa em uma enchente no ano passado na cidade de Santa Luzia, na Costa Pacífica. Ela conta que a cidade ficou completamente inundada e que a família dela ficou sem trabalho. “Vivemos da terra e agora não temos o que fazer. O governo nos ajudou por dois meses, mas, desde agosto, não recebemos mais dinheiro e não temos nem onde viver” relatou.

Para o cientista político Mauricio Romero, da Universidade Pontificia Javeriana, em entrevista ao site Ópera Mundi, o surgimento do movimento pode ser um indício de que se caminha para uma negociação pacifica com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia). Para ele, milhares de famílias afetadas pelo conflito armado estão cansadas da situação no campo. “Quem está nesta Marcha quer paz, e também quer terra e trabalho. Quanto à reforma agrária, é o mesmo discurso das Farc. Só que quem veio às ruas de Bogotá não lutou com armas”, opinou o professor.

Com informações do Ópera Mundi e da Prensa Latina