Jorge Hereda: Pobres bancos
Imagine um estrangeiro que chegasse ao Brasil sem nenhum conhecimento prévio da nossa economia e lesse algumas análises feitas por especialistas sobre a decisão dos bancos públicos de reduzir o custo do crédito para famílias e empresas.
Por Jorge Hereda*
Publicado 17/04/2012 10:25
A que conclusão este visitante chegaria? Entenderia, provavelmente, que o setor bancário brasileiro está passando por período de vacas magras, com baixa rentabilidade, até mesmo com prejuízo, decorrente de níveis de inadimplência estratosféricos, de um elevado padrão de insegurança jurídica e de tributos escorchantes.
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Impossível não imaginar que se trata de um setor com margens de lucro muito estreitas e que, portanto, induzido a comprimir ainda mais seus "spreads" (diferença entre o que os bancos pagam ao captar recursos no mercado e o que eles cobram nos financiamentos), seria atirado rapidamente a uma situação de insolvência generalizada.
"Pobres bancos!", talvez dissesse o viajante.
Mas, curioso, nosso turista poderia acionar o Google para conhecer um pouco melhor a situação. Ao fazer isso, ficaria confuso e surpreso ao descobrir que, dos oito maiores lucros auferidos por empresas no Brasil em 2010, cinco foram obtidos por bancos.
Sua confusão aumentaria quando lesse que, segundo pesquisa feita pela empresa de consultoria Economatica, no ano passado o setor bancário foi o de maior volume de lucro entre as empresas de capital aberto, excluídas da amostra a Petrobras e a Vale. E abocanharam 39,4% do total de lucro obtido pelas 344 empresas avaliadas.
"Pobres bancos?", agora se perguntaria o turista estrangeiro, a esta altura disposto a abandonar suas conjeturas para se dedicar a conhecer país tão bonito e acolhedor.
Para o cidadão acostumado a pagar os juros mensais nas dívidas do cartão de crédito e do cheque especial, assim como o pequeno e médio empresário, conhecedor das taxas cobradas em empréstimos para capital do giro, a resposta para tal pergunta é um óbvio não.
Para o cidadão e para o empresário, a resposta ficou ainda mais taxativa ao observar que nos últimos meses a Selic vem caindo, mas as taxas de juros cobradas pela maioria dos grandes bancos tiveram pouco decréscimo.
Fica difícil justificar os níveis de "spread" bancários no Brasil apenas pelo argumento de elevação da inadimplência, da existência de tributos ou de compulsórios, sem mencionar as margens líquidas nesses "spreads", diante dos recorrentes recordes de lucros das grandes instituições financeiras nos últimos anos.
Compreendendo isso, a Caixa quer demonstrar que os bancos podem, sim, reduzir seus "spreads" neste momento em que o Brasil tem controle da inflação e estabilidade de todos os seus indicadores econômicos. A queda da taxa básica de juros precisa se refletir na vida real dos brasileiros.
A Caixa está reduzindo os seus "spreads" porque oferecer crédito mais barato a um número muito maior de pessoas é um ótimo negócio para qualquer instituição bancária que tenha objetivos estratégicos pautados pela rentabilidade e pelo dever de atender aos interesses dos seus acionistas.
Em 2008 e em 2009, quando o setor bancário se retraiu para se precaver dos efeitos da crise internacional, a Caixa fez o oposto: facilitou o crédito e ampliou sua participação no mercado. Andou na contramão e ganhou dinheiro.
Hoje, a situação não é muito diferente. Apoiada na baixa inadimplência de seus clientes – bem menor que a média do mercado –, a Caixa planeja ampliar a sua carteira de crédito em mais de 30% neste ano.
Vamos oferecer crédito mais barato e, com isso, atrairemos mais 2 milhões de clientes. Vamos ganhar dinheiro vendendo dinheiro, como os bancos costumam fazer, sempre de forma bastante lucrativa. E talvez, na próxima viagem, aquele turista não tenha de se esforçar para entender o Brasil.
*Jorge Hereda é presidente da Caixa Econômica Federal