“A Privataria Tucana” e a crise na Biblioteca Nacional
Depois da publicação, no site da Revista Historia da Biblioteca Nacional, de uma resenha do livro que denuncia as privatizações tucanas, seu autor e o editor da revista foram demitidos.
Por José Carlos Ruy
Publicado 11/04/2012 20:04
A publicação de uma resenha elogiosa ao livro "A Privataria Tucana", de Amaury Ribeiro Jr., foi o estopim para uma grave crise na Revista de História da Biblioteca Nacional, envolvendo a redação da revista, a Fundação Biblioteca Nacional e a Sociedade de Amigos da Biblioteca Nacional (Sabin), responsável pela publicação da revista. O início da crise foi a demissão, primeiro, do jornalista Celso de Castro Barbosa (autor da resenha) e, depois, do editor Luciano Figueiredo.
A resenha fora publicada em 24 de janeiro no site da revista, e ficou no ar durante nove dias. A reação de líderes e parlamentares tucanos foi furiosa, a começar pelo presidente nacional do PSDB, Sérgio Guerra, que ameaçou processar a publicação. Para o jornalista Elio Gaspari (que divulgou a crise em sua coluna na Folha de S. Paulo, em 28 de março), a intervenção de Guerra teria sido decisiva para a demissão do jornalista.
O mais recente desdobramento da crise foi a ameaça de demissão coletiva do conselho editorial da revista, em apoio ao ex-editor Luciano Figueiredo. O Conselho Editorial é formado por pesos pesados entre os historiadores brasileiros, como José Murilo de Carvalho (UFRJ), Lilia Moritz Schwarcz (USP) e Alberto da Costa e Silva (da Academia Brasileira de Letras). Além da demissão do editor, eles reclamam que o Conselho não foi consultado sobre essa decisão.
Uma conclusão possível sobre este acontecimento é reveladora da compreensão tucana do que seja liberdade de imprensa: ela não inclui críticas ao partido ou a seus cardeais. Outra conclusão aponta a ainda forte influência conservadora em setores importantes da cultura, que acatam pressões dessa natureza e agem de acordo com elas. Mas há também uma conclusão positiva, que engrandece historiadores como os membros do Conselho Editorial: eles não compactuaram contra a restrição à liberdade de pensamento representada por este triste episódio.