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Guimarães: Não deixem que a mídia impeça que Dilma baixe os juros

Nos últimos dias, surgiu uma surpreendente e insistente pressão contra medida do governo Dilma para reduzir os juros ao consumidor. Nas TVs (abertas e a cabo), nas rádios, na internet e, sobretudo, na imprensa escrita, estão tentando vender que baixar os juros seria ruim para o Brasil, acredite quem quiser.

Por Eduardo Guimarães*

A medida em pauta, para quem não sabe, é uma forte redução da taxa de risco que os bancos públicos (Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil) cobram do tomador de empréstimos em qualquer das modalidades (empréstimos pessoais, cartão de crédito e cheque especial) – o mercado financeiro chama essa taxa de “spread”.

No sábado (7), publiquei artigo de um executivo dos quadros da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) que há anos vem se dedicando a “explicar” na imprensa por que diabos, no Brasil, cobram-se os juros mais altos do mundo.

Roberto Luis Troster escreveu, escreveu e não explicou nada. Nos programas de TV a cabo como os da Globo News, em rádios e nos grandes jornais, uma penca de “economistas” afiança ao distinto público que, por razões que não consegue explicar, os bancos públicos oferecerem juro de 2% no cheque especial quando os bancos comerciais cobram de 8% a 12%, seria ruim para o país.

Se você pensa que ninguém que não seja banqueiro ou empregado da mídia financiada por banqueiros cairia nessa, leitor, está enganado. No próprio post em que desconstruí o artigo de Troster apareceram comentaristas dispostos a pagar mais por um empréstimo bancário porque o tal executivo da Febraban seria “dotô” no assunto e se ele falou, está falado.

Mas a gritaria da mídia em defesa dos juros extorsivos que se cobram no Brasil não visa exatamente o público, mas o governo. E por que? Porque essa mídia sabe que tem poder de pressão sobre esse governo.

Assim como a mídia conseguiu impedir políticas públicas como a do kit anti-homofobia nas escolas ou a de implantação de um marco regulatório nas comunicações, esses veículos fustigam o governo na ânsia de fazerem com que abandone essa ideia de diminuir os maiores juros ao consumidor da Via Láctea.

Não é por outra razão que, de sexta-feira para cá, a Folha de S. Paulo já publicou dois artigos contra a política de redução da taxa de risco determinada pelo acionista majoritário da Caixa e do BB. Um texto saiu no sexta-feira e o outro, hoje (9).

O autor dessa segunda pérola de embromação escrita, propositalmente, em bom economês, na esperança de que o leitor termine o texto concluindo que se um “dotô” disse é porque deve ser verdade, chama-se Gustavo Cerbasi. É apresentado pela Folha como autor de livros de autoajuda chamados “Casais Inteligentes Enriquecem Juntos” e “Como Organizar a Sua Vida Financeira”.

O texto, com chamada na primeira página da Folha, é de congelar até os ossos de tão ruim e desonesto. Reproduzo o texto de Cerbasi abaixo. Após cada parágrafo dele, um comentário meu [entre parêntesis].

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Folha de S. Paulo

9 de abril de 2012

Caderno Mercado (B12)

Carteirada no mercado

Na semana passada tivemos mais um triste episódio de interferência do governo em uma empresa pública com a imposição ao Banco do Brasil e à Caixa Econômica Federal de uma política de redução forçada de juros.

(Se o governo não determinar os rumos de empresas que administra será melhor, então, privatizar a Caixa e o BB.)

Os interesses do governo são louváveis, afinal o objetivo é estimular o crédito para o consumo e para a produção interna, trazendo como consequência o aquecimento da economia. Para sustentar o crescimento equilibrado, cabe ao governo contar com todas as ferramentas disponíveis, incluindo a desoneração fiscal, o corte de gastos e – por que não? – seu poder de decisão como acionista-mor das empresas públicas.

(Como se vê, o sujeito está sugerindo privatização “branca” da Caixa e do BB, mas o que parece querer mesmo é privatização nua e crua. Poderia ser ideologia, mas é 171 mesmo para defender os ganhos dos banqueiros.)

Porém, os interesses nacionais deixam de ter propósito quando objetivos de curto prazo – aquecimento temporário da economia – atropelam regras de credibilidade e de equilíbrio do mercado que são construídas no longo prazo.

(Que aquecimento temporário? Será que ele não se dá conta do que aconteceu no país na década passada? Será que não sabe que o Brasil é hoje campeão de geração de empregos, de distribuição de renda e de tudo que o mercado despreza?)

BB e CEF são instituições que sempre estabeleceram suas políticas de acordo com interesses políticos. Consequentemente, supõe-se que as políticas de crédito adotadas até então já vinham atendendo, em situação limítrofe, aos interesses de aquecimento da economia.

(É muito bom que interesses políticos influam em políticas públicas, pois o povo quer uma economia dinâmica, quer os empregos e a distribuição de renda que só fazem aumentar no Brasil e isso só foi possível porque o Estado quis agradá-lo.)

Mas, ao forçar o preço do crédito para níveis abaixo do equilíbrio saudável a essas empresas, a interferência governamental afeta não apenas as contas dos dois bancos de propriedade da União. Sendo o Banco do Brasil uma empresa de capital aberto, são afetados também investidores que, até então, acreditavam que a gestão guiaria suas decisões no sentido de priorizar o crescimento dos resultados e da capacidade de crescimento.

(Meeeu Deus! Será que existe algum cristão que se lembra de que durante a crise de 2008 e 2009 esses “especialistas” disseram a mesma coisa, que a Caixa e o BB iriam naufragar e provocar prejuízos aos acionistas por terem aberto linhas de crédito fartas quando as bancas nacional e estrangeira privadas fecharam todas as suas linhas? O país teria quebrado se tivesse ouvido essa gente.)

Definir uma política de negócios com base na expansão de mercado e não de resultados é caminho certo para a deterioração da saúde de uma empresa. Isso explica por que as ações do BB caíram quase 6% no dia do anúncio das medidas.

(Aconteceu a mesma coisa em 2008/2009 logo no primeiro momento em que o governo Lula anunciou que supriria a escassez de crédito no mercado. Houve queda das ações por conta da gritaria de que a crise se agravaria e os empréstimos que estavam sendo concedidos não seriam pagos. No ano seguinte, o mesmo BB assumiu a liderança dos bancos brasileiros, tornando-se o maior de todos e com inadimplência menor.)

A interferência do governo Dilma reitera uma prática antiga no país, que nos últimos anos afetou significativamente os resultados e os investimentos de empresas como Petrobras, Infraero, Correios e Furnas, entre outras, e que gerou como consequência de longo prazo a desconfiança de investidores e da população quando à sustentabilidade das medidas.

(Gente… Preciso dizer alguma coisa? Todas essas empresas estão batendo recordes de produção, rentabilidade, etc. A credibilidade do Brasil só faz aumentar no mundo. A população confia cada vez mais na “sustentabilidade das medidas”, pois, do contrário, não estaria avaliando o governo cada vez melhor e nem ao menos teria eleito Dilma Rousseff.

O que será que esse cara fumou ou cheirou ou bebeu?)

Investidores de qualquer lugar no mundo sabem que, ao investir em uma empresa pública brasileira, correm o risco de ter parte do lucro tomado pelo governo para cobrir um rombo no INSS ou de ter preços manipulados para incentivar políticas de curto prazo. A imposição de preços irreais para o crédito não é diferente do que tem sido feito com o preço dos combustíveis. Enquanto a Petrobras funciona à margem das regras de mercado, sua credibilidade é questionada e a dificuldade para captar recursos aumenta, limitando investimentos e, consequentemente, o crescimento da empresa e do preço de suas ações.

(Deve ser por isso que os investimentos chovem no Brasil, que os investimentos aumentaram tanto na Petrobras que o país descobriu e já explora o pré-sal enquanto investidores se acotovelam para conseguir um pedacinho do negócio. Esse cara só pode estar falando do Brasil da era FHC. O Brasil que tem moeda supervalorizada por excesso de dinheiro para investimentos chegando não pode ser o mesmo que Cerbasi comenta.)

Fossem empresas públicas mais confiáveis e menos manipuladas, seria mais fácil expandir suas atividades e diminuir o custo de financiamento dessa expansão. Isso poderia ser feito com aumento do capital em Bolsa. O que muitos chamam de privatização é, na verdade, um jogo de confiança na criação de resultados sustentáveis.

(O articulista dá voltas, dá voltas e volta ao que tanto almeja: privatizar os bancos públicos e, agora se vê, também a Petrobras. O Brasil paga menos até do que países ricos como Espanha, Itália, etc., quando se financia no exterior. Isso é devido ao fato de que atingiu avaliação de risco conhecida como “grau de investimento”, que lhe propicia juros menores no mercado internacional.)

Existem outros mecanismos para interferir na economia sem quebrar regras de mercado. Por exemplo, se o governo crê que o crédito não cresce porque a concorrência é entre poucos e esses poucos cobram muito, poderia facilitar a concorrência e, com políticas mais flexíveis, permitir o crescimento de bancos menores ou a entrada no país de mais bancos estrangeiros.

(Agora o cara forçou a amizade. O Brasil recebeu todos os bancos estrangeiros possíveis e imagináveis e até estendeu a mão aos pequenos, na última década, mas o fato é que a concentração bancária é um fenômeno mundial. Os bancos estão se fundindo no mundo inteiro. Os bancos estrangeiros que quiseram, vieram para cá. Cerbasi tenta nos fazer a todos de idiotas.)

Poderia também acelerar a reforma fiscal e aumentar a arrecadação com maior atividade na economia, mesmo que cobrando alíquotas menores de impostos. Como se diz no meio empresarial, ganhando no giro e não na margem.

(Caraca! Mas é exatamente isso o que os bancos públicos estão fazendo – não na questão dos impostos, mas na questão de ganharem no giro ao concederem mais empréstimos com margem de lucro menor via redução do spread. Agora, pedir menos impostos aos bancos mais lucrativos do mundo, isso é “neoliberalês” pra boi dormir. E que, aliás, quebrou o Primeiro Mundo.)

Essas interferências que surpreendem o mercado nada mais são do que o resultado da incapacidade de planejar a longo prazo. Enquanto o horizonte máximo de planejamento público continuar sendo a próxima eleição, governar continuará sendo sinônimo de apagar incêndios e de manipular regras. Afinal, no Brasil, somos pródigos [sic] em esquecer, com o tempo, as grandes bobagens que são feitas no presente.

(É por isso que a situação do país é tão ruim, não? Cerbasi está muito enganado. Não somos “pródigos” em esquecer governos que fazem bobagens. Até hoje os brasileiros não esquecem as bobagens econômicas que FHC fez e que tanto agradavam a essa gente. Por isso, nas últimas três eleições presidenciais o povo chutou o traseiro do partido que pensa como esse “especialista”.)

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A Folha é o exemplo que uso, mas podemos encontrar o mesmo na CBN, na Globo News, em O Globo, no Estadão, etc. Todos dando espaço a “analistas” que estariam desconsolados com o “populismo” da medida do governo.

Se eu pedir à minha neta, que tem dez anos, para apertar um desses sabichões, ela, por certo, não teria maiores problemas para encurralá-lo. Bastaria perguntar o que justifica que no Brasil, que tem uma das economias mais organizadas do planeta, os bancos cobrem uma taxa de risco de não serem pagos maior do que a de países em graves crises econômicas.

Venho usando dois exemplos, nessa questão, que vale repetir. No Iraque, por exemplo, um país que ainda vive um conflito sério e que vem de uma guerra que o arrasou, ou na Grécia, sufocada por uma crise que está levando cidadãos ao suicídio, os bancos cobram taxas de risco – e, portanto, juros – menores do que os bancos brasileiros.

Aquele post de sábado, intitulado “A grande jogada administrativa e política do governo Dilma”, também ofereceu outra explicação para a artilharia contra a medida desse governo para baixar os juros. Se ela vingar, Dilma estará reeleita e fim de papo.

Expor o risco para o país que essa questão encerra já produziu resultados. O site Viomundo, do jornalista Luiz Carlos Azenha, também está repercutindo o assunto e dando valiosa contribuição ao trazer exemplo de medidas de combate a esses “analistas” espertalhões financiados por banqueiros que estão sempre levando a sociedade no bico, fazendo-a aceitar os interesses do grande capital como se fossem seus.

Eis um trecho do post do Azenha:

(…) Na edição de março do Le Monde Diplomatique, Renaud Lambert relata que, desde janeiro deste ano, a Associação Norte-Americana de Economia, AEA, faz uma exigência a seus associados. (…) Os artigos publicados nas revistas científicas por membros da associação devem revelar os eventuais conflitos implicando seus autores. Os economistas deverão, assim, identificar e mencionar as ‘partes interessadas’ que lhes tenham pago uma remuneração financeira (…)

E não ficou por aí. Entrei em contato com importante liderança política ligada ao governo Dilma Rousseff que tem possibilidade de conseguir espaço condizente na imprensa para defender a redução da taxa de risco pelo BB e pela Caixa. Isso porque, se não nos mexermos, a pressão da mídia pode fazer o governo recuar em uma medida tão importante para o país.

*Eduardo Guimarães é jornalista e colunista.

Fonte: Blog da Cicadania