Dilma reclama para Obama de expansão monetária dos países ricos
Em encontro com o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, a presidente Dilma salientou que existe uma “preocupação do Brasil com a depreciação da moeda de países desenvolvidos”. A declaração foi dada durante reunião na manhã dessa segunda-feira (9) na Casa Branca.
Publicado 09/04/2012 16:28
“Manifestamos a preocupação do Brasil com a expansão monetária dos países ricos sem que esses países equilibrem sua política fiscal, o que leva à desvalorização das moedas dos países em desenvolvimento, levando ao comprometimento dos países emergentes”, disse a brasileira.
Falando ao lado de Obama após o encontro, Dilma se estendeu sobre o assunto e afirmou que o desequilíbrio cambial no mundo prejudica os países emergentes. A primeira parte da reunião entre os presidentes durou 1h30, o dobro do tempo previsto. Participaram ministros e secretários dos dois países. Após a declaração dos presidentes, foi oferecido um almoço na Casa Branca para os representantes brasileiros.
Obama, que falou antes de Dilma, agradeceu a visita e ouviu atento as palavras da presidente brasileira. O tema cambial foi um ponto divergente durante a reunião de trabalho.
Objetivos
Entre os objetivos programados da reunião entre ambos, estava fazer uma avaliação dos resultados dos 24 diálogos de alto nível estabelecidos entre Brasil e Estados Unidos, em áreas que vão de energia a ciência e tecnologia, e temas da agenda internacional, como a política nuclear do Irã, o conflito na Síria, as reformas do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) e do Fundo Monetário Internacional (FMI) e o enfrentamento da crise internacional e comércio global.
Os presidentes também marcaram a reunião para conversar sobre formas de aumentar o comércio entre os dois países e sobre os instrumentos necessários para alcançar este objetivo. Um dos objetivos centrais de Dilma é aproveitar a oportunidade de conversar com Obama e empresários norte-americanos para reduzir o déficit comercial brasileiro nas trocas com os EUA, agora que a maior economia do mundo entrou em recuperação.
O superávit comercial de US$ 6,9 bilhões que o Brasil registrou em 2006 se converteu em um déficit de US$ 4,4 bilhões em 2009, após a eclosão da crise financeira em 2008. As exportações brasileiras voltaram a crescer significativamente em 2011, alcançando US$ 25,9 bilhões. Este ano começou ainda mais promissor, com embarques de US$ 6,9 bilhões no primeiro trimestre, quase 41% de alta sobre o mesmo período do ano anterior.
Dilma afirmou que o Brasil tem uma relação comercial sólida com os Estados Unidos. “O que nos preocupa é que o déficit brasileiro cresceu desde 2008 e hoje é um déficit significativo. E a gente quer equilibrar. O ideal de uma boa relação é que ela não seja superavitária para um país nem para outro. Que seja equilibrada. Então vamos pensar em uma forma de reequilibrar isso.”
Equilíbrio
Um dos ministros que acompanha Dilma, Fernando Pimentel, do Desenvolvimento e Comércio Exterior, disse que para o equilíbrio ficar mais próximo tem que se tomar iniciativas em setores específicos. “Estamos com algumas dificuldades no setor de carne bovina, carne de frango. Não há nenhuma restrição legal, mas há uma demora muito grande nas decisões de algumas áreas e isso vai ser registrado não somente pela presidente mas por mim também nas reuniões bilaterais com as minhas contrapartes.”
A disputa sobre suco de laranja, que o Brasil levou à Organização Mundial do Comércio (OMC) e venceu, o que obriga os EUA a cancelar uma manobra antidumping ilegal, está sendo solucionada, segundo o ministro Pimentel. Os EUA ainda não começaram a rever a sua política, conforme determinado pelo organismo multilateral.
Dois novos consulados
Durante a visita, foi feito o anúncio da abertura de novos dois consulados estadunidenses no Brasil. A medida é uma das formas de acelerar a entrada de turistas e negociadores brasileiros nos Estados Unidos.
No começo de abril, a embaixada dos Estados Unidos informou que o número de vistos concedidos a brasileiros apenas em março deste ano aumentou 62% em comparação ao mesmo período de 2011. No total, foram concedidos vistos a 115.269 brasileiros.
Em janeiro deste ano, Obama assinou ordem executiva para agilizar em 40% a capacidade de tramitar vistos em seus consulados no Brasil e na China, em 2012, entre outras medidas para potencializar o turismo.
Pelos dados do governo dos Estados Unidos, nos últimos cinco anos, os pedidos de vistos de não imigrantes aumentaram 230%. Apenas em 2010, o consulado geral em São Paulo emitiu cerca de 320 mil vistos – mais que qualquer seção consular dos Estados Unidos no mundo.
Agenda de negócios
Dilma já se encontrou com empresários brasileiros na noite de domingo (8). Ela encerra no início da tarde desta segunda-feira o Fórum de Altos Executivos (CEOs) brasileiros e norte-americanos, que reúne um seleto grupo de representantes dos maiores pesos-pesados das duas economias.
Em seguida, ela fará o pronunciamento final do seminário “Brasil-EUA: Parceria para o século 21”, na Câmara de Comércio Americana, com mais de 400 convidados, especialmente empresários, dos mais variados setores econômicos.
Nesta terça-feira (10), Dilma voa para Boston, onde se encontrará com as dirigentes da Universidade de Harvard e do Massachusetts Institute of Technology (MIT), firmará acordos de cooperação com as instituições – no âmbito do programa “Ciência sem fronteiras”, que custeia estudantes e pesquisadores brasileiros no exterior – e fará um discurso na Escola Kennedy de Governo de Harvard.
Acordos
Dilma também se encontrará com o governador do estado, Deval Patrick, que enviou uma missão ano passado ao Brasil para tratar de "Economia Inovadora". Os governos de Brasil e Estados Unidos vão assinar nesta segunda-feira sete acordos de cooperação e entendimento econômicos, ambientais, administração publica e urbanismo e 14 acordos na área de educação, no âmbito do programa "Ciência sem fronteiras", que custeia educação e pesquisa de estudantes brasileiros no exterior.
Um dos destaques da visita brasileira é a troca de cartas de reconhecimento da cachaça e do bourbon (uísque de milho) e do sour mash (uísque de batata doce, também chamado de Tennesee Whisky) como produtos de origem brasileira e americana. O acordo será assinado pelo ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, e sua contraparte, o Representante de Comercio dos Estados Unidos (USTR, na sigla em inglês).
Haverá acordos ligados ao tema do desenvolvimento sustentável, caro à presidente Dilma, em ano de realização da Rio+20. Será assinado um acordo para cooperação técnica em segurança alimentar em terceiros países e outro visando ao aprimoramento dos mecanismos de proteção ambiental. O Ministério das Cidades será signatário de um entendimento sobre moradia sustentável. Haverá também assinatura da ata da última reunião de alto nível entre os dois países na área de ciência e tecnologia.
Em Boston, serão assinados 14 acordos ampliando o programa "Ciência sem fronteira" e o intercâmbio da Capes e do CNPq com o Massachusetts Institute of Technology (MIT) e a Universidade de Harvard. Atualmente, 555 estudantes brasileiros já estão nos EUA fazendo pós-graduação dentro do programa, Outros 1.500 já foram selecionados. O objetivo global do programa e oferecer bolsas de estudo a 100 mil alunos ate 2014, em vários países do mundo.
No cômputo geral, trata-se de uma visita de Estado, com foco em questões econômicas. A presidente brasileira foi aos Estados Unidos para estabelecer um diálogo de igual para igual, defendendo pragmaticamente os interesses econômicos do país.
De Brasília, com agências