Zona do Euro: "Espanha, a próxima Grécia"
Nos muros, a predominante palavra de ordem "a reforma trabalhista conduz à escravidão". Os sindicatos convocaram greve geral, advertindo o governo de que "não pretendemos parar, o combate começa agora". E alguns jovens em Valência dançavam na rua cantando com grande ironia "Rajoy, Rajoy, somos tão felizes", enquanto, em todos os jornais da Europa aumentam os comentários com título "Espanha, a próxima Grécia".
Por Maria Segre, no Monitor Mercantil
Publicado 08/04/2012 18:20
Não passou sequer meio ano desde novembro do ano passado, quando os eleitores da Espanha depositaram sua confiança ao direitista Mariano Rajoy para tirá-los da crise, com as "armas" da frugalidade e das reformas. E sequer três meses não passaram desde que Bruxelas (União Europeia, Comissão Europeia) congratulava, efusivamente, o novo governo espanhol "pela seriedade e decisão com que enfrenta a crise e o povo espanhol pelo seu amadurecimento".
Entretanto, ao que tudo indica, os espanhóis chegaram ao seu limite. Atenderam, em massa, à convocação dos sindicatos para greve geral e inundaram as ruas das cidades espanholas protestando contra as reformas no mercado de trabalho. A Espanha vive agora tudo aquilo que a Grécia viveu nos últimos dois anos, mas, de forma mais concentrada. O governo Rajoy avança com mais rapidez e decisão nas reformas trabalhistas em relação ao grego, enquanto os sindicatos espanhóis respondem mais maciçamente e com mais organização em relação aos sindicatos gregos. A greve geral registrou participação da ordem de 77%.
Obviamente, a Espanha não assinou nenhum mnemônico, porque não solicitou sua integração ao Mecanismo Europeu de Apoio. O governo Rajoy acredita que enfrentará a crise sem ajuda direta. Mas, o Banco Central Europeu (BCE) continua adquirindo debêntures estatais da Espanha e cada vez mais analistas internacionais avaliam que a Espanha não evitará, finalmente, o caminho da Irlanda, da Grécia e de Portugal.
Com ou sem mnemônico
Mesmo sem mnemônico, o gerenciamento da crise pelo governo Rajoy é minimamente diferente da receita da Grécia, Portugal ou Irlanda. Adequação fiscal, frugalidade e, entre outros, "liberalização" do mercado de trabalho em um país onde o desemprego supera o da Grécia, com 23% dos trabalhadores procurando emprego em vão, enquanto, 50% dos jovens não encontram sequer um emprego de ocupação parcial.
O país não pode sair da queda, a qual neste ano estima-se que superará 1,7% do Produto Interno Bruto (PIB), enquanto, apesar das medidas de frugalidade (totalizando 35 bilhões de euros), não pode reduzir o déficit público ao percentual comprometido de 4,4%. Na melhor das hipóteses o governo espanhol compromete-se reduzi-lo neste ano em 5,3% do PIB, mas não existe nenhuma garantia de que conseguirá.
"Chave", demissões
O governo Rajoy considera que, a "chave" para enfrentar a crise é a facilitação das demissões, para facilitação das contratações! Supõe-se que o que impede aos empregadores novas contratações são os prazos obrigatórios (de avisos prévios) e as indenizações em caso de demissão. Por isso, o governo determinou redução, tanto do tempo de avisos prévios quanto do total das indenizações em 1/3.
A verdadeira "bomba"
Se, por um lado, a Espanha não pode ser acusada de mau gerenciamento de suas finanças públicas, por outro está evoluindo em "verdadeira bomba da Zona do Euro". Até certo ponto, a Espanha paga por seu desleixo em modernizar a economia durante os anos de seu crescimento.
Nos últimos anos, a maior parcela de investimentos foi canalizada ao mercado de imóveis. A Espanha tornou-se um gigantesco campo de obras, os jovens encontravam emprego facilmente na construção civil, os preços dos imóveis aumentavam seguidamente, assim como as margens de lucro, enquanto a produção dos bens de consumo despencava, resultando em incessante aumento das importações.
Assim, enquanto o custo de endividamento era baixo, crescia o mercado de imóveis até que a bolha estourou. Os bancos da Espanha parece que não tinham exposição nas debêntures tóxicas norte-americanas dos empréstimos hipotecados e não sofreram com a "falência" do Lehman Brothers. Mas eram extremamente expostos no mercado doméstico de imóveis e estouraram junto com a bolha.
Foi quando o déficit público espanhol foi lançado às alturas para tapar os "buracos negros" dos bancos e quando os investidores internacionais começaram a temer as evoluções na Zona do Euro, voltaram sua atenção à Espanha. Atrás desta frase inocente dissimula-se a alta dos spreads das debêntures espanholas (de seus desempenhos em relação com as alemãs, isto é, também, o aumento do custo de endividamento).
Círculo vicioso
O governo Rajoy, em seu esforço para reduzir o déficit e reconquistar a confiança dos mercados, insere a Espanha no mesmo círculo vicioso em que foram inseridos Grécia e Portugal dos mnemônicos: Queda, desemprego, fracasso das metas fiscais. Só que a Espanha – ou melhor, seus parceiros – não desfruta o luxo de uma reestruturação de dívida. A duras custas poderão resistir os mecanismos de apoio a um programa para a Espanha. E se este fracassar, a "bomba" explodirá.
Quem será atingido pelos estilhaços? A resposta está lista dos credores da Espanha: Bônus: US$ 51 bilhões em poder dos bancos britânicos, US$ 187 bilhões dos bancos norte-americanos, US$ 224 bilhões dos bancos franceses e US$ 244 bilhões dos bancos alemães. Mas o risco agora é que o primeiro-ministro italiano, Mario Monti, começou a vociferar que "a Itália não é Espanha"!