Cúpula dos Povos debaterá temas omitidos da cúpula oficial
Os povos da América se farão ouvir em Cartagena das Índias, na Colômbia, em um foro totalmente independente da 4ª Cúpula das Américas, que ocorrerá a partir da próxima semana nessa cidade do Caribe colombiano.
Por Alberto Corona, na Prensa Latina
Publicado 05/04/2012 19:03
Foi dessa forma que Enrique Daza, diretor nacional do Centro de Estudos do Trabalho, membro da Aliança Continental e organizador do foro dos povos – que acontecerá de 12 a 14 de abril – se expressou em uma entrevista à Agência Prensa Latina.
Daza explicou que a Cúpula dos Povos é a outra face do encontro oficial do hemisfério ocidental, no qual as propostas de integração e as exigências dos movimentos sociais são ouvidas e atendidas.
Nesse sentido, o representante disse que na Cúpula das Américas serão abordados temas previamente escolhidos pela sua neutralidade e que não tratam dos problemas reais que preocupam os povos do hemisfério.
"São temas que foram escolhidos porque, segundo o governo colombiano, não implicam em nenhuma divisão, ao mesmo tempo em que a Cúpula Social discutirá também esses assuntos", indicou.
"Em troca, a conclamação da Cúpula dos Povos é que eles também têm direito a opinar sobre os grandes problemas no continente e não fazer um espetáculo de aparente participação, que na verdade não há", observou
"Por exemplo, a Cúpula das Américas não vai se pronunciar sobre a exclusão de Cuba, enquanto a nossa cúpula fará isso", apontou.
Os povos da América consideram que é indispensável que os movimentos sociais marquem posição sobre diversos temas, como a exclusão de Cuba, a militarização e o fracasso da guerra contra as drogas.
Além disso, é necessário uma mudança no modelo econômico, o apoio aos processos alternativos de integração, que não são sequer analisadas na Cúpula oficial nem na de chefes de Estado e de governo.
Para Daza, essas são as diferenças cruciais que distinguem a Cúpula organizada pelo governo da Cúpula dos Povos, que tem sua origem nos movimentos sociais.
Para ele, no caso da Colômbia e de muitos outros países, a sociedade civil que participa dentro do marco da Cúpula das Américas "é uma sociedade civil cooptada pelos governos".
São organizações não governamentais criadas quase para participar nas cúpulas oficiais, com uma determinada representatividade e que, depois do encontro, desaparecem e só ressurgem no próximo encontro, advertiu.
Por outro lado, na Cúpula dos Povos participam movimentos sociais que existem sem a Cúpula das Américas e têm trajetória histórica de lutas na América Latina.
"Dessa maneira", assinalou, "no foro dos povos há uma ampla vontade para que os movimentos sociais debatam, prolonguem e analisem os problemas críticos para a região, que não são nem as tecnologias da informação, nem a infra-estrutura, nem a conectividade", observou.
Daza advertiu também que os Estados Unidos aproveitarão a Cúpula das Américas para fazer propaganda dos seus interesses e de seu modelo econômico.
“Washington vai tratar de alinhar ao seu lado os governos mais dóceis e vai tentar isolar aqueles que estejam em discrepância consigo”, observou.
Entretanto nós, na Cúpula dos Povos, teremos muita clareza em condenar um conjunto de políticas dos Estados Unidos que estão afetando à região.
A Cúpula dos Povos contará com três jornadas: a primeira será no dia 12, na qual serão abordados diferentes temas.
Entre os quais se destacam o modelo de desenvolvimento, integração, militarização e direitos humanos, mudança climática e economia verde, terra, território e soberania alimentar, tratados de livre comércio e crise econômica.
No segundo dia, 13 de abril, mulheres, estudantes, igrejas, sindicalistas e defensores dos direitos humanos se reunirão em diferentes encontros para abordar temas setoriais.
Tudo isso culminará em uma assembleia, no dia 14 de abril, na qual se definirá o pronunciamento da Cúpula dos Povos, que será levado à Cúpula presidencial por meio de uma mobilização social pelas ruas de Cartagena das Índias.