Desfrutando conquistas ainda buscamos emancipação – Parte 2

Infelizmente ainda é recorrente encontrarmos militantes e dirigentes que insistem na argumentação de que a luta de classes é superior a qualquer outra, perderam pois o fio da meada. O PCdoB já avançou neste debate e sobre isso se debruçou por décadas, novamente fica a ressalva das mulheres comunistas empenhadas e persistentes, rotuladas, ridicularizadas e sem medo enfrentaram esse debate e construíram as bases sólidas que temos hoje. Houve contradições, vai-e-vem, dedos em riste, não foi fácil. Não é fácil. Basta uma breve conversa, um café com muitas que ainda estão conosco empenhadas, persistentes em busca do que ainda almejamos: equidades de gênero em todos os espaços, inclusive aqui, dentro de nosso Partido. Loreta Valadares, que partiu em 2004, afirmava em várias publicações da revista Presença da Mulher, mais tarde alguns desses artigos compilado no livro As Facetas do Feminismo (2004), que “não será fácil a efetivação de medidas deste tipo. A força estrutural/cultural da opressão de gênero certamente será sentida durante todo o processo de construção do socialismo (…). Por isso, a luta no terreno da ideologia e da concepção teórica sobre o real caráter da opressão de gênero é tarefa que se põe desde já”.

É consenso entre feministas emancipacionistas (mulheres e homens) que as árduas conquistas nos campos dos direitos humanos, dentro de uma sociedade capitalista, representam avanços e melhores condições de vida, em sua concretude, para aquel@s que sentem na pele as discriminações raciais, por orientação sexual, por geração ou outras; assim como é consenso entre feministas emancipacionistas que enganado está quem pensa que a verdadeira emancipação humana pode ocorrer numa sociedade onde permeia a opressão de classes, isso é seguramente irreal! Reside aqui uma tranquilidade imensa de nós – feministas emancipacionistas – que conseguimos estabelecer então a necessária “alquimia das lutas sociais” não uma após a outra, mas num entrelaçamento. Como fazer uma e deixar outra prá depois? A esse respeito basta reler o parágrafo 30 do documento que norteia este debate, é límpido.

Neste caminho temos os debates acerca das políticas afirmativas das cotas na política e também nas instâncias de nosso Partido, para ficar num exemplo apenas – neste texto breve, um ensaio a retomada do escrever. Absolutamente em acordo com os parágrafos 35 a 41 do Caderno em debate, onde foram apontadas as “lentas conquistas através de históricas resistências” das persistentes mulheres brasileiras no século 19. Para muitas pessoas soa fora de moda reivindicar direitos para mulheres, afinal “elas já têm tudo”: são livres pra fazerem o quiserem. Há ainda aquelas que dizem nunca terem sido discriminadas. Se, como defende Beauvoir (lá em 1949), somos um “nós”, então ainda sofremos violência doméstica, somos estupradas, humilhadas com salários mais baixos para trabalho igual, estamos nos trabalhos mais precários; nos partidos estamos distantes do poder decisório, na política não alcançamos os 10% em nenhuma esfera da nação; nosso corpo ainda é arena de disputa de religiões e sofre com a ausência de um estado laico de verdade; sofremos com as duplas e triplas jornadas e com a maior parcela da responsabilidade no cuidado de crianças, idosos e daqueles que adoecem na família. Dentre todas essas destacam-se as mulheres negras, de modo incrível, estão entre as que mais sofrem todas as discriminações. E mesmo assim há quem brada “o machismo acabou”, às favas, não acabou, uma lástima! “Os pássaros que mal saíram do ovo das concepções burguesas creem-se sempre terrivelmente inteligentes. É preciso ter calma” (2) dizia Lênin a Clara Zetkin em uma das muitas de suas longas conversas .

Temos muitas pedras no caminho, conforme nos aponta o conjunto de artigos da Caros Amigos (nº 55, março/2012) “A era da mulher conquistas e desafios”. Sim, são inegáveis as conquistas para as mulheres, fruto do que já foi mencionado: história de resistir e persistir das próprias mulheres, protagonistas dessas conquistas que até então tiveram pouca participação masculina em busca de uma sociedade mais justa e igualitária. Tais conquistas estão refletidas nas possibilidades vivenciadas por mulheres em idade adulta e jovens – todas usufruindo, muitas inconscientemente, dessas lutas travadas incansavelmente em todo o mundo por nossas precursoras.

*Secretária Estadual da Mulher do PCdoB em SC. Assistente social, funcionária pública municipal da Prefeitura de Florianópolis. Doutoranda no Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas (UFSC), mestre em Serviço Social e especialista em Políticas Públicas.

Notas

(2) Acessado em 23/03/12 http://www.fundacaoastrojildo.com.br/index.php/genero-e-etnia/1196-clara-zetkin

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