Publicado 25/03/2012 10:43 | Editado 04/03/2020 16:29
Morreu Chico Anysio. De longe o mais completo artista que este país já produziu. Talento versátil e criativo incomparável, cujos tipos de sucesso por ele criados e protagonizados constituem até hoje um verdadeiro recorde.
Além do humorismo inteligente, foi ainda ator, diretor, roteirista, pintor, locutor (radialista), cantor, comentarista esportivo, cantor, cronista e escritor. Um verdadeiro gênio do rádio e da TV brasileira. Um verdadeiro monumento da cultura e da arte brasileira de todos os tempos.
Não me esquecer do velho humorista com o seu plantel de estrelas na famosa Escolinha do Professor Raimundo. Tampouco da lendária Chico City dos anos 70, assim como da sua parceria com Arnaud Rodrigues em Baiano e Novos Caetano com o sucesso musical 'Folia de Reis'. Assim como do seu livro o “Enterro do Anão”, seus comentários de todos os domingos na TV quando o Fantástico ainda era fantástico. Sua imagem me será para sempre, posto que quase tudo nela é de fato marcante e inesquecível… O comediante que marcou profundamente a minha infância e adolescência.
A morte de Chico, cearense de Maranguape, é mais uma prova de que o que realmente fica para sempre dos homens, quando da passagem pela vida terrena são, de fato, as boas obras, as ações humanistas, os verdadeiros gestos de bondade como grandeza impagáveis, diante do próximo. Além do grau do desprendimento, modéstia e simplicidade perante os pequenos.
Por esse motivo, diria que Chico Anysio ficará eternizado na memória afetiva de todos os brasileiros. Muito especialmente, junto daqueles que ele ajudou no mundo artístico. Chico é o mais autêntico ícone do humor inteligente. Artífice por mais de seis décadas de uma obra deveras incomensurável.
A inteligência contida na inventividade de mais de duzentos dos seus personages é algo realmente superlativo, um recorde inigualável. Além do exemplo prático com que ajudou e estendeu a sua mão amiga e solidária a todos quantos lhe procuraram.
Figuras humanas como Chico Anysio não morrem nunca. Como disse o poeta, apenas se encantam, posto que permanecerá eternamente tanto na lembrança quanto no coração agradecido do povo. Foi ele o eterno palhaço da boa-nova, uma unanimidade nacional. Razão pela qual diremos sem medo de errar que Chico é simplesmente insubstituível.
"O brasileiro é o único povo que consegue rir da sua própria miséria", dizia ele num ar de graça. E mais: "Quem não for meu amigo é porque não presta…".
O mais triste não é somente vê-lo partir agora dos palcos da vida, mas a forma discutível como a TV Globo ao longo da última década o colocou literalmente na geladeira. Preterindo-o em favor daquilo que "eles" chamam de modernidade. Mas que no fundo, não passa de um humor negro, pobre, fraco e previsível. Um formato pífio e sem nenhuma graça; como por exemplo o que vem sendo apresentado no enlatado e descartável programa "Zorra Total". Uma clássica e notória inversão de valores. Algo simplesmente inexplicável. Um modelo que só emburrece e apressa ainda mais o caminha para a mesmice.
E agora que o nosso Chico morreu a Globo ensaia uma pantomima chorosa, pondo no ar reportagens e entrevista com seus artistas novelengos, todos tecendo rasgados elogios ao velho humorista. Então, a pergunta que não quer calar: Por que há anos praticamente encostaram o Chico Anysio? Mesmo mantendo o seu contrato de artista global?
Sem Chico Anysio o Brasil ficou um pouco mais triste. Mas a Globo, por seu turno, nunca mais se igualará sequer ao que foi a inesquecível e não menos famosa "Chico City".
Em tempo: Se Deus o chamou agora, certamente será porque está faltando mais alegria no céu.
Adeus mestre Chico Anysio! Seu talento artístico e sua grandeza de espírito serão para sempre grandes marcas da sua presença imorredoura entre nós…
Saudades eternas…
*José Cícero é Professor, Pesquisador e poeta.
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