Médico denuncia precariedade de hospital em Fortaleza
Em texto publicado na última segunda-feira (19/03) no Facebook, uma das mais populares redes sociais da internet, o médico José Maria Pontes, ex-vereador do PT e Presidente do Sindicato dos Médicos do Ceará, denuncia as condições precárias de trabalho no hospital Frotinha da Parangaba. Leia a seguir a íntegra da denúncia:
Publicado 20/03/2012 09:35 | Editado 04/03/2020 16:29
Atenção para mais esta denúncia. Acabei de chegar de um plantão no Frotinha de Parangaba, que hoje mais parece com um campo de batalha, e a população continua morrendo e sofrendo sem ter o mínimo de assistência por parte do hospital. Esta talvez seja a décima denúncia que faço às redes sociais. Já fiz no Ministério Público e venho colocando pela imprensa há muito tempo e nada acontece. Estou todo documentado com fotos e após muitas denúncias, nenhuma reação do poder público municipal para amenizar o sofrimento da população e dos profissionais que ali trabalham.
Vou mais uma vez enumerar alguns dados referente àquele hospital:
1 – Ontem (domingo – 18/03) estava faltando sabão no hospital para lavar as mãos.
2 – Faltam macas para colocar os pacientes graves e os mesmos ficam sentados em cadeira de aço, muito desconfortáveis. Pacientes que tinham que estar em um leito de UTI ficam sentados, isto mesmo sentados por falta de macas.
3 – A estrutura do hospital é velha e muito sucateada, paredes sujas e com mofo, além de um pequeno espaço para acomodar um número grande de pacientes vítimas de trauma e de patologias agudas que têm no hospital público como a única saída para a solução destes problemas.
4 – Falta de profissionais, principalmente médicos, para atender uma quantidade enorme de pacientes graves e sem ter onde colocá-los.
5 – Uma omissão total desta direção atual que nunca compareceu no final de semana para conversar com os profissionais sobre o caos em que se encontra aquele hospital. A direção resolveu dispensar todos os estudantes de medicina que faziam estágio, criando um caos maior, pois apesar de ainda serem acadêmicos ajudavam muito os médicos a dar um melhor atendimento à população; resolveu também derrubar dois boxes da emergência sem ouvir os profissionais e contra a vontade do Dr. Helly, responsável pelos hospitais da rede municipal da administração direta de Fortaleza e que me garantiu que os dois boxes não seriam derrubados, aumentando ainda mais a exposição daqueles pacientes, pois quando se vai fazer uma higiene mais íntima ou um procedimento médico mais reservado nos pacientes tem que ser em público na frente de todos em total desrespeito à dignidade humana; é um paciente com doença infectocontagiosa infectando outros pacientes. A direção também acabou com o plantão administrativo que tinha no período noturno e nos finais de semana e que tinha a função de resolver todos os problemas não médicos, como a ambulância que quebrou, a gás ou o papel higiênico que faltou e todos os problemas administrativos, já que a direção não comparece nos períodos noturnos e nem nos fins de semana. É uma omissão total da direção ajudando a instalar o caos. Já relatei para a Secretária de Saúde em reuniões anteriores e vou renovar esta denúncia na nossa próxima reunião.
6 – Plantão sem nenhum clínico ou só com um como no último domingo, para atender as intercorrências das enfermarias e da UTU, para entubar os pacientes graves que chegam ao hospital e para atender mais de 200 pacientes de emergência que procuram aquele hospital, em um plantão de 12 h, colocando em risco a vida do profissional que está se desdobrando para atender a todos.
7 – Aquele hospital iniciou uma reforma e ampliação da emergência em maio de 2008 com um prazo previsto de conclusão para novembro de 2008, isto é, com uma duração de 6 meses. Após a eleição que foi em outubro de 2008 as obras pararam e até hoje está parada sendo invadida pelo mato. Estou com várias fotos da placa que colocava estes dados e que também se encontra no Ministério Público.
8 – A direção não coloca médico para acompanhar os pacientes gravíssimos da UTU e quem passa o dia acompanhando estes pacientes é uma técnica de enfermagem. O médico vai pela manhã prescreve e vai embora e o acompanhamento é feito por uma pessoa de nível médio, o que também é um absurdo.
Poderia citar muitos outros dados negativos sobre o Hospital que nós profissionais amamos e que demos o melhor de nossa vida procurando sempre melhorar o seu atendimento. Tomamos conhecimento que o atendimento no Frotão estava parecido, com o nosso hospital sem ter onde colocar os pacientes que chegavam ao hospital. Os outros frotinhas também se encontram em situação semelhante e o caos instalado nos hospitais que atendem urgência e emergência.
Resolvemos diante desta situação de caos tomar a seguinte providência: nesta semana, se ocorrer o que vem ocorrendo nos últimos plantões, iremos denunciar o caos na polícia através de um BO (Boletim de Ocorrência) para retirar a responsabilidade dos profissionais em caso de morte de algum paciente.
Quero deixar bem claro que estou todo documentado, inclusive com mais de 50 fotos, para entrar com uma ação civil pública contra os responsáveis.
Defender o direito a vida é uma obrigação de todo cidadão. Eu como cidadão, como médico e como presidente do Sindicato dos Médicos não posso calar diante desta barbárie.