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Ganância dos bancos prejudica cliente e trabalhador

A gestão dos bancos, com foco nas metas abusivas por vendas e lucro, prejudica tanto aos trabalhadores quanto à sociedade. Com essa constatação, a presidenta do Sindicato dos Bancários e Financiários de São Paulo, Osasco e Região, Juvandia Moreira, abriu o seminário Venda Responsável de Produtos Financeiros, no Dia Mundial do Consumidor, na quinta-feira – 15 de Março.

O evento marcou também o lançamento da campanha pela venda responsável de produtos financeiros, realizada em parceria com o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec). Sindicato e Idec editaram uma cartilha sobre o assunto que, ressaltou Juvandia, pretende não apenas esclarecer os correntistas sobre seus direitos, como também informar a população sobre a realidade de trabalho dos bancários, categoria adoecida por conta das metas inalcançáveis e do assédio moral institucional no setor financeiro.

A coordenadora executiva do Idec, Lisa Gunn, que também participou do evento, concorda que consumidores e clientes são as "duas faces de uma mesma moeda”. "Se por um lado os trabalhadores sofrem com a pressão por metas, por outro os consumidores são lesados ao adquirirem produtos inadequados ao seu perfil ou desnecessários”. Daí a importância, acrescentou Lisa Gunn, da parceria entre Sindicato e Idec para combater o problema.

Bancos sonegam informação

O direito à informação, um dos princípios básicos do Código de Defesa do Consumidor, é sistematicamente violado pelas instituições financeiras. Foi o que constatou recente pesquisa do Idec, feita entre os seis maiores bancos no Brasil.

"Esse desrespeito não é pontual como alegam as instituições financeiras, é uma prática comum nessas empresas”, afirmou a gerente jurídica do Idec, Maria Elisa Novais, que discutiu os problemas dos consumidores com produtos financeiros inadequados, na terceira mesa de debates do seminário Venda Responsável de Produtos.

Maria Novais citou os artigos do Código que preveem esse direito. "A legislação determina que a informação deve ser adequada e clara, com especificação correta das características do produto e dos riscos que ele apresenta aos clientes”, ressaltou.

Mas caminhando na contramão do que determina a lei, os bancos vêm ocupando os primeiros lugares nos rankings de reclamações de clientes. "Em 2011, o setor financeiro ultrapassou, em queixas do consumidor, os planos de saúde, que foram os campeões por 11 anos”, informou.

Doentes por pressão

Segundo a médica sanitarista e pesquisadora da Fundacentro, Maria Maeno, a categoria bancária figura entre as que mais utilizam benefícios do INSS. E a maioria dos afastamentos, informou, é por problemas psíquicos, ou seja, que demandam um longo tratamento e deixam sequelas. A médica participou da mesa de saúde do seminário Venda Responsável de Produtos.

Ela mostrou como as doenças do trabalho hoje têm uma "multicausalidade”. Antigamente, disse, as doenças eram mais diretamente identificadas com a função exercida pelo trabalhador. "Era o dentista que adoecia pelo contato com o mercúrio dos amálgamas, ou o operário da linha de produção que apresentava problemas de surdez”, exemplificou.

Mas no capitalismo de hoje, disse, é diferente: o trabalhador adoece por conflitos éticos, por estresse, por pressão, por ser humilhado pelos chefes e por introjetar psicologicamente os conceitos da empresa.

"A pressão por metas, por exemplo, transformou os bancários numa das categorias que mais apresenta doenças por esforço repetitivo (as LER/Dort). Os conflitos éticos, por sua vez, levam a doenças psíquicas, cardíacas, gástricas, musculares”, citou Maeno para ilustrar como a relação de causa e adoecimento não é tão direta quanto se considerava antes.

Com informações do Sindicato Bancários de São Paulo