Cinco brasileiras recebem nesta terça o prêmio Bertha Lutz
A presidente Dilma Roussef, a ex-senadora Eunice Michiles, a professora Universidade da Federal da Bahia Alice Alcântara Costa, a secretária municipal da Mulher da cidade do Rio Branco (AC), Rosali Sacalabrin e a viúva do dirigente comunista Luiz Carlos Prestes, Maria do Carmo Ribeiro receberão amanhã (13), às 10h, no Senado, o Diploma Mulher-Cidadã Bertha Luthz.
Publicado 12/03/2012 17:47 | Editado 04/03/2020 16:11
“A homenagem é um reconhecimento pela contribuição relevante que essas brasileiras deram, nas suas diferentes áreas de atuação, à defesa dos direitos da mulher e questões de gênero no País”, explica a senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), presidente do conselho do Diploma Bertha Lutz.
Altamira Rodrigues Sobral, nome original de Maria Prestes, filha de camponeses, aos 17 anos, quando pertencia à Juventude Comunista, teve que fugir para São Paulo e, na luta pela causa comunista, conheceu Luís Carlos Prestes, com quem casou e viveu por mais de quarenta anos, até a morte do marido. Por ter lutado contra o regime militar e pela democratização do Brasil, Maria Prestes enfrentou a clandestinidade, perseguições políticas e o exílio. Apesar das dificuldades de viver na ilegalidade durante o regime autoritário, criou nove filhos, sete da união com o líder do Partido Comunista Brasileiro e dois do primeiro casamento. Filha e neta de militantes comunistas, a agraciada apoiou greves, organizou protestos, panfletagens e comícios, divulgou livros e jornais. Sua experiência de vida está relatada no livro de autoria própria “40 anos ao lado de Luís Carlos Prestes”.
Rosali Scalabrin, mais conhecida por Rose, nasceu no Rio Grande do Sul e migrou para a Amazônia aos 10 anos de idade (1972), indo primeiro morar no estado do Pará e depois para o Acre. Formada em Sociologia pela Universidade Federal do Acre, a biografia de Rosali se confunde com sua militância em favor dos direitos das mulheres e dos excluídos. Rose ajudou a organizar os sindicatos rurais, a Central Única dos Trabalhadores, o Movimento dos Trabalhadores Rurais e seringueiros do Acre e atuou no movimento de defesa das reservas extrativistas e preservação da floresta, que culminou no bárbaro assassinato do líder Chico Mendes.
Ana Alice Costa nasceu em 23 de dezembro de 1951, em Caravelas, na Bahia, foi integrante do movimento estudantil no inicio dos anos 1970, período mais intenso da ditadura militar. Ao final da década de 70, cursou mestrado em Sociologia Política pela Universidade Nacional Autônoma do México, ingressando no Movimento de Liberación de las Mujeres. Já no Brasil, vinculou-se ao Grupo Feminista Brasil Mulher, seção Bahia, primeiro grupo feminista daquele Estado. São também resultados da atuação de Alice Costa a articulação das creches comunitárias de Salvador, o apoio e participação na organização dos acampamentos de trabalhadores rurais, a criação do Centro de Apoio Humanitário, que trabalha com a prevenção do tráfico de mulheres e combate ao turismo sexual; participação na criação de delegacias especializadas de atendimento à mulher na Bahia. Seu trabalho teve reflexos em nível local, regional e nacional.
Eunice Michiles foi a primeira senadora eleita do país. Na condição de suplente, foi eleita pelo Estado do Amazonas, e assumiu o cargo em 1979 depois da morte do ex-senador João Bosco, eleito em 1978. Na época, o suplente também recebia votos. O sistema eleitoral permitia cada partido formar chapa com três sublegendas representando três candidatos, o mais votado assumiu a vaga. Eunice Michiles em seu mandato enfrentou as dificuldades e os desafios próprios de uma precursora, quando levantou temas apouco discutidos pela sociedade brasileira da época. Sua plataforma política foi marcada, principalmente, pela defesa dos direitos da mulher, da liberdade religiosa, do desenvolvimento sustentável, da educação ecológica e do planejamento familiar. Esta última ação foi reconhecida internacionalmente com medalha de honra ao mérito, concedida pelo Congresso dos Estados Unidos.
A presidente Dilma Roussef é Graduada em Ciências Econômicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. A mineira aos 16 anos deu início à vida política, integrando organizações que futuramente combateriam o regime militar. Em 1969 foi presa em São Paulo pela Operação Bandeirante, submetida à tortura e cumpriu pena no presídio Tiradentes até 1972. Livre da prisão, mudou-se para Porto Alegre em 1973.
Em 1979, dedicou-se à campanha a favor da anistia dos perseguidos e exilados pelo regime militar. Também ajudou a fundar o Partido Democrático Brasileiro, o PDT, no Rio Grande do Sul e trabalhou na assessoria da bancada estadual do partido entre 1980 e 1985. Foi Secretária da Fazenda até 1988. Em 1989, foi nomeada diretora-geral da Câmara Municipal de Porto Alegre. Presidiu a Fundação de Economia e Estatística do Rio Grande do Sul (1991-1993) e, em seguida, ocupou o cargo de secretária estadual de Minas, Energia e Comunicações, no governo de Alceu Collares, retornando ao posto no governo Olívio Dutra (1999-2002), do PT. Em 2000 filiou-se ao PT.
O trabalho realizado no governo gaúcho chamou a atenção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que a nomeou, em 2003, Ministra de Minas e Energia, cargo no qual comandou profunda reformulação do marco regulatório do setor elétrico. Presidiu o Conselho de Administração da Petrobras, introduziu o biodiesel na matriz energética brasileira e criou o Programa Luz para Todos.
Em 2005 Lula escolheu Dilma para ocupar a chefia da Casa Civil e coordenar o trabalho de todo o ministério. Nesse cargo, assumiu a direção de programas estratégicos como o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e o Programa Minha Casa, Minha Vida. Em abril de 2010, deixou o governo federal para se candidatar à Presidência e, em 31 de outubro de 2010, Dilma Rousseff foi a primeira mulher eleita presidente da República Federativa do Brasil.
O prêmio – Esta será a 11ª. premiação do Diploma Bertha Lutz (1894-1976), que foi uma das pioneiras do feminismo no Brasil, líder na luta pelo direito de voto das mulheres. A indicação dos nomes para receber o prêmio pode ser feita por qualquer entidade de âmbito nacional, governamental ou não. Os nomes são avaliados por um Conselho que escolhe as cinco agraciadas. Para a premiação deste ano o Conselho recebeu 30 indicações.