Missão da ONU na Síria propõe diálogo; oposição quer confronto
O presidente da Síria, Bashar Assad, recebeu neste sábado o enviado da ONU e da Liga Árabe, Kofi Annan, numa tentativa de estabelecer as bases para um diálogo com a oposição.
O encontro ocorreu pouco depois da chegada de Annan ao país, durante a parte da manhã (horário local).
Publicado 10/03/2012 10:05
Ex-secretário-geral da ONU, Annan tem como missão promover o diálogo entre as autoridades sírias e a oposição para encontrar uma saída negociada à crise político-social que começou há um ano com protestos que foram utilizados por grupos armados apoiados por países estrangeiros para desencadear uma onda de violência no país.
A oposição síria rejeita negociar com Assad. Afinada com o imperialismo e o sionismo, essas forças oposicionistas só aceitam uma saída para a crise – o afastamento de Assad do poder.
Além de se reunir com Assad, o ex-secretário-geral da ONU deve manter contatos com representantes da sociedade civil síria. Ele também prevê se encontrar com líderes da oposição exilados, depois de deixar o país.
Antes de viajar à Síria, Annan fez uma escala de três dias no Cairo, onde se reuniu com o secretário-geral da Liga Árabe, Nabil Araby, e com o ministro das Relações Exteriores egípcio, Mohamed Amr.
Na quinta-feira, Annan enfatizou a necessidade de manter a via diplomática e alertou sobre as consequências de uma intervenção militar na Síria que, em sua opinião, só pioraria a situação. "Acho que qualquer aumento das operações militares causaria uma deterioração da situação e a pioraria".
Depois de entrevistar-se com o chanceler egípcio, e o secretário-geral da Liga Árabe, Annan desaconselhou qualquier intervenção militar na Síria, porque em sua opinião a solução passa pela via política, a qual “deverá "ser dirigida pelos sírios e pertencer aos sírios".
Sua proposta se aproxima ao conteúdo do plano de seis pontos da China, que já foi aceito pelo governo sírio.
"Espero que ninguém esteja pensando seriamente em utilizar a força nesta situação", comentou o ex-secretário geral da ONU em entrevista coletiva na sede da Liga Árabe, na capital egípcia.
Contudo, os grupos da oposição articulados pelos países imperialistas e financiados pela Arábia Saudita, já rechaçaram antecipadamente a proposta de negociação e acordo com o governo de Bashar Assad, segundo se pode inferir das informações veiculadas pela rede de TV Al Jazeera.
"Os dissidentes reagiram com consternação diante do chamado do enviado especial Kofi Annan por uma solução política para pôr fim à crise na Síria, e dizem que sua ênfase na diplomacia ignora a repressão do governo", divulgou a Al-Jazeera.
Mesmo antes de iniciar sua missão conciliatória, Kofi Annan foi criticado por vários políticos estadunidenses, entre eles o senador republicano John McCain, que censurou seus comentários e sarcasticamente se perguntou: "em que planeta está o senhor Annan?"
Em declarações à Al Jazeera, McCain exortou a formar uma coalizão de Estados árabes e ocidentais para intervir na Síria, tal e qual fez o grupo que foi organizado para executar a zona de exclusão aérea sobre a Libia, o que abriu caminho para a agressão da Otan.
A missão de Kofi Annan suscita também divisão dentro da Liga Árabe, dado que as monarquias do Golfo Pérsico, em particular a Arábia Saudita e o Catar, defendem a adoção de uma linha dura e hostil contra o governo de Bashar Assad, insistem em fornecer mais armamentos à oposição e preferem a intervenção militar.
Tudo indica que o chamado de Kofi Annan "à oposição síria a trabalhar em conjunto por uma solução que respeite as aspirações do povo sírio” encontra ouvidos surdos.
Enquanto Annan visita a Síria, os ministros das Relações Exteriores da Liga Árabe se reúnem neste sábado no Cairo com o chanceler da Rússia, Sergei Lavrov, cujo país se recusa a condenar o governo de Assad e nega apoio às propostas de resolução no Conselho de Segurança das Nações Unidas apresentadas pelos países imperialistas e seus fantoches no mundo árabe de condenação à Síria, estabelecimento de sanções econômicas e qualquer precedente para uma intervenção armada externa.
Da redação, com agências