Artigo defende discussão de Projetos para reconstruir Salvador
Neste artigo, o ex-vereador e professor Everaldo Augusto fala da necessidade de um debate profundo sobre os principais problemas de Salvador neste período pré-eleitoral, para que a população possa conhecer os projetos de cada postulante a Prefeitura e assim escolher aquele que apresente propostas concretas para melhorar a situação da cidade. “O clamor da cidade por uma solução de gestão precisa ser ouvido o quanto antes”, argumenta o comunista.
Publicado 08/03/2012 11:36 | Editado 04/03/2020 16:18
O calendário eleitoral anda a passos largos, enquanto a cidade vive a lenta agonia do fim de um ciclo de governos, ou desgovernos, do qual João Henrique é o último representante, que transformou a capital da Bahia no símbolo do abandono e de decadência.
Por Everaldo Augusto*
Este ciclo teve início ainda à época dos prefeitos biônicos e pode ser dividido, a grosso modo, em dois períodos. O primeiro corresponde aos prefeitos indicados que se colocaram a serviço dos interesses das oligarquias carlistas, que lhes alçaram ao poder municipal para que fossem executores de políticas impopulares, sustentassem o arbítrio no país e transformassem o cargo numa moeda de troca para aqueles que fazem da política um balcão de negócios.
Excetuando o mandato da prefeita Lídice da Mata, que não conseguiu governar devido ao cerco da direita imposto ao seu governo, o segundo período é o dos prefeitos eleitos, mas que, nem por isso, romperam com este ciclo, ao contrário, se apoderaram dos métodos e das práticas do autoritarismo e do clientelismo para dar continuidade a mesma política, com prejuízo para a cidade e seu povo.
Agora que se dá conta que a cidade não tem governo para resolver os problemas que afligem a população, é necessário que se dê conta, também, que a superação do abandono a que chegamos depende, sobretudo, de projetos para reconstruir a cidade a partir dos interesses da maioria.
Ainda que neste terreno estejamos no marco zero, já que nenhum dos prováveis futuros postulantes acenou com a apresentação de propostas, através das quais, digam para que querem governar a cidade. É preciso afirmar que qualquer projeto que seja levado a sério tem que ter como ponto de partida o que já se produziu e se produz de alternativas de gestão, tecnologia social, políticas públicas e soluções sustentáveis para os principais problemas enfrentados por Salvador.
Ao longo do tempo, os movimentos por moradia, ambientalistas, universidades, instituições representativas de profissionais liberais e de pesquisa, além dos demais movimentos sociais, têm se constituído em fóruns de debate e elaboração de proposições que precisam ganhar visibilidade e espaço nos programas daqueles que têm real compromisso com o renascimento da cidade de Salvador.
Este momento que antecede a disputa, propriamente dita, é propício para se compatibilizar a conformação de frentes e alianças em torno destes prováveis candidatos. Contudo, a ausência de debate sobre os projetos de cada um deles nos torna um tanto céticos sobre a possibilidade real de que esta eleição de 2012 servirá para tirar Salvador do caos. Torçamos para que isto não se confirme, porque a cidade não agüenta mais a repetição deste modelo de governar, filho legítimo da disputa eleitoral entre candidatos que se diferenciam apenas em aspectos secundários e não dizem, claramente, como fazer Salvador perder os títulos de capital mais violenta do Brasil, com maior índice de desigualdades, com menor arrecadação, maior déficit habitacional, maior defasagem de saneamento básico e coisas que tais.
O clamor da cidade por uma solução de gestão precisa ser ouvido o quanto antes.
*Everaldo Augusto é professor e ex-vereador de Salvador