Perpétua explica ao povo do Acre porque não é mais candidata
A deputada Perpétua Almeida (PCdoB-AC) divulgou carta ao povo do Acre anunciando o resultado das articulações políticas para as eleições à Prefeitura de Rio Branco. Ela se manifestou descontente com “a derrota que o PT me impôs”. E destaca que dos 12 partidos que compõe a Frente Popular do Acre (FPA), oito se manifestaram favoráveis à candidatura dela, considerando que era o nome mais bem posicionado nas pesquisas eleitorais e que melhor representa as bandeiras dos 20 anos de luta da frente.
Publicado 07/03/2012 14:07
O PT aprovou, em reunião na semana passada, a indicação do engenheiro Marcus Alexandre para candidato da FPA nas eleições municipais. Sobre o resultado da reunião, Perpétua declarou: “Eu lutei até o fim, porque acreditei que a minha história de dedicação e militância fosse pesar na hora da decisão. Esperei um gesto de lideranças importantes do PT, que eu sempre disse presente, quando fui chamada na hora de defendê-los e elegê-los”.
Leia a íntegra da carta:
Eu não me considero uma profissional na política. Só sei fazer política de forma apaixonada, com toda a minha alma, a minha alegria, a minha disposição.
Ainda na juventude vi no PCdoB um lugar onde eu poderia depositar meus sonhos, minha esperança na construção de uma sociedade mais justa e igualitária. A minha história de vida, nascida numa família de quinze irmãos, nos seringais de Porto Walter, me deu a sensibilidade de perceber as angústias que afetam os que têm menos, os que vivem à margem, os que não têm quase nada.
Sempre fiz política com muita dedicação e firmeza. Não tenho medo de enfrentar debates, de enfrentar os assuntos mais polêmicos. Quem me conhece sabe que não me escondo atrás de mandato ou de ninguém, não busco negociatas. Acredito que a nossa vida é um exercício diário de sinceridade e verdade com nós mesmos. Aprendi com meus pais a ter posição na vida, a ter lado.
Milito há vinte anos na Frente Popular porque acredito que é um movimento originado de um desejo do povo, um movimento que se iniciou de partidos pequenos, de pequenas estruturas e sonhos e ideais gigantes. Mas que hoje precisa corrigir seu jeito de ouvir o povo. Nunca encarei a política como uma carreira. E nem concordo com quem a usa para realização de projetos pessoais. E as pessoas me conhecem. Tudo que faço, procuro fazer da melhor maneira possível.
Faço sem medir esforços e energia. E o que me encanta, fascina e inspira é os mandatos que tenho recebido do povo é a possibilidade de ajudar a criar condições melhores na vida para as pessoas. É a capacidade de unir-se em torno de um objetivo comum, em torno de um sonho. Dizem que na política é necessário ser racional, pragmático, mas eu não abro mão, por nada, de ser eu mesma. De ser verdadeira, espontânea e agir de forma clara e sem rodeios. Às vezes, me pergunto quanto ainda tenho da sindicalista que fui. Será que esse meu jeito de fazer política é o problema? Será que ter posições, agir de forma firme e apaixonada limita caminhos? E continuo a me perguntar: será que, realmente, há espaço para, nós, mulheres, nesse mundo da política tão dominado por homens? Lembro que algumas até já desistiram.
Nesses últimos meses ao sair nas ruas de Rio Branco tenho recebido as mais honradas e sinceras demonstrações de respeito pela minha trajetória política. Desconfio que os institutos de pesquisa não conseguem abarcar isso. As pessoas são carinhosas, gentis nos comentários, elogiando o nosso mandato de Deputada Federal e dizendo que eu deveria ser candidata a prefeita de Rio Branco. Foram tantas as insistências, gritos e animação nas ruas.
Por onde passava a abordagem era sempre a mesma: “minha prefeita! Tô com você”. Eu levei esse processo todo muito a sério. Eu, sinceramente, apostei na possibilidade de ser a candidata à prefeita de Rio Branco pela Frente Popular porque acreditei que a minha história de dedicação e militância fosse pesar na hora da decisão. Esperei um gesto de lideranças importantes do PT, que eu sempre disse presente, quando fui chamada na hora de defendê-los e elegê-los. Pensei, sinceramente, que o fato de o nosso país ter, pela a primeira vez na história, uma presidente mulher, seria levado em consideração também na hora de decidir.
Mas o fato é que ainda não existem espaços reais para as mulheres na política. As que conseguem chegar é com muita luta.
E é claro que isso tudo me deixa triste. Até chorei com a decisão que a Frente Popular tomou. Mas não posso me abater. Não fui ensinada a correr da luta. Na política prendi a reconhecer resultados, mesmo os que não me são favoráveis.
8 de março se aproxima, é válido refletirmos mais esse significado ao invés de fazermos homenagens plastificadas.
Para honrar minha personalidade e os que em mim acreditam, eu vou continuar lutando.
As eleições estão próximas, a vida continua sendo vivida. Mas compartilho uma pergunta que me vem com a mesma frequência que meu coração pulsa: é isso mesmo? E se a Frente tivesse tido a capacidade de ouvir a militância dos seus partidos, essa seria a decisão?
Portanto, companheiros, não há recuo, não há temor e tampouco haverá quedas. O PCdoB faz parte da minha vida. A altivez se faz necessária nos momentos mais delicados e é com essa altivez que seguirei.
Esse momento só me dá mais força interior para continuar acreditando. E eu acredito que ninguém consegue mudar o curso de um rio.
E mais uma vez agradeço a todos que apostaram e acreditaram. Eu também acreditei.
Perpetua Almeida
Deputada Federal (PCdoB)