Pesquisadores encontram em MG a gravura mais antiga da América
Um grupo de arqueólogos descobriu no centro do Brasil uma gravura rupestre com forma antropomórfica que acreditam ser a mais antiga figura do género com datação fiável descoberta no continente americano, segundo revela um artigo hoje publicado na revista científica PLoS ONE.
Publicado 25/02/2012 14:48
A imagem, que terá entre dez e 12 mil anos de idade, foi descoberta em Lapa do Santo, um sítio arqueológico a 60 quilómetros de Belo Horizonte, no centro-leste do Brasil, pelos investigadores Walter Neves e Danilo Bernardo, do Laboratório de Estudos Evolutivos Humanos, da Universidade de São Paulo, Astolfo Araújo, do Museu de Arqueologia e Etnologia da mesma universidade, Renato Kipnis, da Scientia Consultoria e James Feathers, da Universidade de Washington.
No texto publicado, os cientistas escrevem que, tendo apenas em consideração a datação por radiocarbono, pode dizer-se com confiança que a gravura tem mais de 10,5 mil anos, podendo ter até 12 mil anos de idade. "Isto significa que esta figura gravada pode ser o petroglifo figurativo mais antigo que jamais foi encontrado no novo mundo".
Um dos cientistas, o brasileiro Danilo Bernardo, explicou que, ao contrário da maioria das gravuras do género encontradas na América do Sul, esta foi datada com fiabilidade, por ter sido encontrada no fundo de uma escavação, a mais de quatro metros de profundidade.
Arte rupestre do Brasil
"É como se tivesse um registo cronológico", disse, explicando que, ao longo da escavação, foram recolhidas amostras de sedimentos para datação por carbono 14. "Não era possível a figura ter sido feita no embasamento rochoso sem que fosse antes de todos estes sedimentos se acumularem em cima. Assim, sabemos que a figura é mais antiga do que a acumulação de sedimentos. Datando o sedimento, datamos a figura".
O investigador sublinhou por outro lado que, "na América do Sul, aparecer uma manifestação da cultura humana com uma antiguidade tão recuada e apresentando uma diversidade tão ampla (…) é um bom indício de que a presença humana é mais antiga do que os 12 mil anos da cultura Clóvis".
Questionado sobre a imagem, Danilo Bernardo explicou que se assemelha às características de "boa parte da arte rupestre do Brasil: ser antropomorfo, ser filiforme, ter o genital super enfatizado". "Mesmo em alguns sítios de Lagoa Santa encontramos figuras semelhantes, o interessante é que essas figuras eram sem datação e, por conta da sua relativa escassez, alguns arqueólogos acreditavam tratar-se de uma tradição mais recente. Mas talvez a escassez não seja motivada por ser recente, mas, pelo contrário, por ser muito antigo", disse o investigador.
No artigo, os investigadores sublinham também que a semelhança da figura agora encontrada com outras identificadas, por exemplo, no estado do Rio Grande do Sul sugere que havia contacto cultural entre grupos separados cerca de 1.600 quilómetros no início do período do holoceno (há cerca de 11,5 mil anos).