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Troika quer mais e avisa que “ajuda” à Grécia só virá em março

Foi a Alemanha, que já não faz muita questão de disfarçar a hegemonia imperialista que exerce na zona do euro, quem forneceu a informaçao aos jornalistas.

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A Alemanha elogiou a aprovação, pelo parlamento da Grécia, de novas medidas draconianas de austeridade, ao mesmo tempo em que fez questão de destacar que uma decisão final sobre um segundo programa de “ajuda” para Atenas será tomada pela troika apenas em março, por causa de uma série de pré-requisitos que precisam ser cumpridos até lá.

Corte adicional

Líderes da zona do euro deverão se reunir nesta quarta-feira, 15, para discutir as condições e as ações que a Grécia precisa tomar para a aprovação do segundo pacote de socorro. FMI, BCE e UE (que constituem a troika) querem um corte adicional superior a 300 bilhões de euro, além da economia de 3,3 bilhões de euros prevista no pacote antipopular aprovado no legislativo.

Outro pré-requisito para a liberação da ajuda é um comunicado por escrito no qual os líderes dos principais partidos políticos gregos se comprometam a manter as promessas de reforma após as próximas eleições. Ou seja, a troika quer se antecipar às urnas e restringir a vontade popular.

Ditando as regras da periferia

A Alemanha, a mais poderosa potência capitalista da Europa, mantinha a pressão sobre a Grécia nesta segunda-feira, 13. “De que vale uma lei se ela não for colocada em prática?”, indaga o congressista Michael Fuchs, aliado da primeira-ministra, Angela Merkel. O apoio dos parlamentares alemães é crucial para que o “socorro” seja desembolsado.

O ministro da Economia, Philipp Roesler, também recebeu bem as notícias vindas de Atenas, mas pediu a implementação das medidas. “Demos um passo na direção certa, mas ainda estamos longe do objetivo”, disse ele à rede de televisão ARD. São palavras de quem se julga com o direito de ditar o destino das nações periféricas.

Guerra de classes

Ignorando o protesto da classe trabalhadora, que realizou 48 horas de greve geral e uma manifestação com centenas de milhares diante do legislativo, o Parlamento aprovou o pacote imposto pela troika na madrugada desta segunda, 12. Entre as medidas destacam-se um corte de 22% no valor do salário mínimo, aumento de impostos, flexibilização da legislação trabalhista, demissão de 150 mil servidores até 2015 (15 mil deverão ir para o olho da rua neste ano) e redução do valor das aposentadorias. As ruas da capital grega foram palco de uma autêntica guerra de classes. A violência policial contra a manifestação deixou um saldo de 125 feridos, no maior confronto desde 2008.

Se a ditadura da troika prevalecer, ao pacote aprovado pelo legislativo deverá ser adicionado um arrocho de 300 bilhões de euros para que a Grécia obtenha direito ao “socorro”. A palavra “socorro” ou “ajuda”, neste caso, deve ser escrita entre aspas porque na realidade não se trata de ajuda ou socorro à nação ou ao povo grego. Estão vendendo gato por lebre. O dinheiro emprestado pela troika não se destina ao desenvolvimento do país e nem mesmo trafega por Atenas. É mais uma dádiva dos governos aos parasitas do sistema financeiro, que vai direto para os bancos credores, em pagamento dos juros da dívida externa. É notória que de outro modo a banca europeia, hegemonizada pela Alemanha, teria de amargar o calote, uma vez que a Grécia já não tem dinheiro para pagar a dívida.

A moratória e, através dela e do abandono do euro, o resgate da soberania monetária, seriam o caminho mais curto e justo, senão o único, para que a Grécia reencontre o rumo do desenvolvimento nacional, combata efetivamente o desemprego (que já supera a faixa dos 20% da população economicamente ativa) e resguarde os direitos da classe trabalhadora e o Estado de Bem Estar Social. É o que sugere a experiência da Argentina em 2001. As medidas da troika são um veneno para a economia e destinam-se a aprofundar uma depressão que teve início em 2008 e já dura quatro longos anos.

Eleições antecipads

Nas reações ao voto do Parlamento grego transparece o caráter de classe do pacote da troika e das batalhas em curso nas ruas do país helênico. Do lado de fora do legislativo, mais de uma centena de milhares de trabalhadores e trabalhadoras grevistas demonstraram total rejeição ao arrocho. Os imperialistas alemães, seus lacaios no governo e no legislativo da Grécia, grandes capitalistas, credores e investidores aplaudiram o comportamento dos parlamentares, as bolsas reagiram com moderado otimismo.

O fato é que a novela da crise da dívida externa (e por extensão do euro) na Grécia (assim como em Portugal, palco de uma manifestação gigante de 300 mil dia 11, Espanha e outros países) ainda parece longe do fim. A história nos promete novos capítulos, ainda mais quentes e estimulantes. A começar pelas eleições legislativas antecipadas convocadas pelo governo grego para abril e reafirmadas nesta segunda, 13. Os partidos de oposição (Partido Comunista, Esquerda Democrática e Syriza) contam com 40% das intenções de voto e estão em crescimento, enquanto o social-democrata Pasok despencou para 8% depois de capitular ao FMI.

As urnas podem reservar uma surpresa pouco agradável à troika.

Da Redação, Umberto Martins, com agências