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A “ameaça nuclear” iraniana e o realismo político israelense

Os políticos estadunidenses e israelenses e seus amigos extremistas neoconservadores na Europa Ocidental e nos EUA fazem de tudo para provocar os líderes iranianos a reagirem irracionalmente contra os diferentes ataques terroristas por parte de seus serviços de inteligência.

Por Ludwig Watzal* no The Palestine Chronicle

Até agora, o regime iraniano se manteve calmo. Mas a propaganda da mídia ocidental corre a toda velocidade para empurrar a população para trás da bandeira da guerra. Especialmente nos EUA parece fácil manipular as mentes da população ignorante, como foi o caso em relação ao Iraque.

No Ocidente, os muçulmanos são estereotipados como “mentirosos” e que eles só entendem a “linguagem da força”. Tal cruel percepção é repetida principalmente pelos políticos israelenses, neoconservadores estadunidenses e cultos islamofóbicos em todo o mundo ocidental.

A mais alta autoridade clerical do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, disse em junho de 2006: “Não temos problema algum com o mundo. Não somos de maneira alguma uma ameaça ao mundo e o mundo sabe disso. Nunca começaremos uma guerra. Não temos intenção alguma de entrar em guerra com nenhum Estado”.

Essas claras palavras são ignoradas no Ocidente. Na verdade, lá existe até uma fatwa (uma lei referente à lei islâmica) estabelecida pelo aiatolá Khamenei proibindo armas nucleares sob argumentos morais. Toda a liderança secular iraniana tem reiterado há tempos que o país não constrói armas nucleares. O Irã tem consistentemente defendido e apoiado um total banimento das armas nucleares e o estabelecimento de uma zona livre delas no Oriente Médio.

Hipocrisia

Até agora, o Irã não violou nenhum tratado internacional a respeito de sua indústria nuclear. Mesmo se o país adquirisse ou comprasse armas nucleares, existe alguma lei internacional ou tratado que o proíbe? Por que EUA, Reino Unido, França, Rússia, China, Israel, Coreia do Norte, Paquistão e Índia têm o direito de possuir e posicionar armas nucleares mas o Irã não?

Ou a razão por trás da retórica beligerante do Ocidente contra o Irã está baseada no medo de que Israel possa perder sua hegemonia nuclear sobre o Oriente Médio? Israel é o único Estado que possui um gigante arsenal de bombas nucleares que se recusa a permitir o monitoramento internacional de suas instalações letais – em desrespeito a todos tratados e normas internacionais.

Aliás, o próprio ministro da Defesa israelense Ehud Barak afirmou em 15 de novembro de 2011 que se ele fosse iraniano provavelmente também buscaria armas nucleares! O Irã está rodeado pela maquinaria militar dos EUA e seus senhores da guerra no congresso estadunidense são as forças dirigentes. Os EUA nunca teriam atacado o Iraque se Saddam Hussein possuísse armas nucleares, e o psicopata “menino-imperador de Crawford, Texas” certamente sabia disso.

Por que os líderes ocidentais dão a entender que acreditam em contos de fada sobre a “ameaça nuclear iraniana” quando o próprio establishment de segurança israelense e eminentes historiadores militares não acreditam? O debate em Israel mostra que a classe política local está em desacordo. Todos os chefes do Mossad [o serviço de inteligência de Israel], incluindo o atual, não veem “ameaça existencial” para a segurança de seu país partindo do Irã.

Discordância interna

Outros ex-chefes do Mossad e membros da cúpula do establishment de segurança, assim como o ex-chefe de equipe Gabi Ashkenasi e o ex-chefe do Shin Bet [serviço de segurança interna] Yuval Diskin discordam abertamente do primeiro- ministro Benjamin Netanyahu e de Barak sobre um ataque às unidades nucleares iranianas.

O jornal israelense Haaretz afirmou que o ex-chefe do Mossad Meir Dagan disse que isso seria “a coisa mais estúpida que eu já ouvi”. “O Irã tem uma infraestrutura nuclear clandestina que funciona ao lado de sua legítima infraestrutura civil. É esta que está sob supervisão internacional da Agência Internacional de Energia Atômica (AEIA). Qualquer ataque contra essa infraestrutura legítima seria ‘evidentemente ilegal sob a lei internacional’”. Sobre as prováveis consequências de um ataque desses, Dagan afirmou: “Ele seria seguido por uma guerra contra o Irã. É o tipo de coisa que sabemos como começa mas não como acaba”.

Outro chefe do Mossad, Ephraim Halevy, disse, em novembro do ano passado, que “um ataque ao Irã poderia ter um efeito devastador para a região. A radicalização ultraortodoxa é ameaça muito maior do que o Ahmadinejad. O Estado de Israel não pode ser destruído, mas um ataque ao Irã poderia afetar não apenas Israel como toda a região por 100 anos”. Talvez o realismo político se sobreponha ao aventurismo político da elite política de Israel.

A pergunta que toda pessoa razoável do Ocidente tem que se fazer é: “por que acreditamos nessa propaganda sobre a ‘ameaça existencial’ de um Irã nuclear à Israel e ao Ocidente quando muitos especialistas em segurança israelenses e cientistas respeitados a consideram ‘insignificante’”?

*Ludwig Watzal  é jornalista em Bonn, Alemanha.

Fonte: Brasil de Fato

Tradução: Igor Ojeda