Paraguai: MST apoia luta de sem-terra contra latifundiários brasiguaios
Nas últimas semanas o conflito envolvendo sem-terras paraguaios (carperos) e brasiguaios (latifundiários brasileiros que plantam soja no país vizinho) se agravou nas últimas semanas após o início de uma verificação da demarcação das propriedades na faixa de fronteira por parte do governo paraguaio. O Parlamento do Mercosul (Parlasul) poderá realizar uma reunião para discutir a questão.
Publicado 31/01/2012 09:57
A iniciativa do presidente Fernando Lugo objetiva verificar se parte das terras ocupadas hoje por produtores brasileiros pertence ao Estado. Interessados na verificação, sem-terras acampados na região passaram a acompanhar os trabalhos, o que teria provocado confrontos.
O encarregado de negócios da Embaixada do Paraguai no Brasil, Didier Ulmedo, explicou que a ação do governo de seu país atende a demandas de trabalhadores rurais locais por reforma agrária. Ulmedo garante que o governo de Fernando Lugo quer uma solução pacífica para o problema, dentro da lei e com respeito à propriedade privada.
"O governo do presidente Lugo recebeu uma herança de uma reforma agrária malsucedida, como ocorreu em vários países da região. Então, o problema da documentação, da legalidade dos títulos é um problema de longa data. O compromisso do governo paraguaio é de respeito à lei, respeito à propriedade privada e garantia à segurança dos colonos no Paraguai."
Queremos o que foi usurpado
De acordo com a Folha de S. Paulo, desde domingo (30), 300 sem-terra chegam por dia no acampamento. As lideranças avaliam que os "carperos" já estão em cerca de 15 mil famílias.
Os camponeses dizem estar prontos para retomar as terras usurpadas pelos brasileiros. Segundo o dirigente sem-terra Victoriano Lopez, eles estão acampados na mesma região há 13 anos e reivindicam 260 mil hectares em propriedades ocupadas por brasileiros: "São, na verdade, terras estatais do Paraguai, nunca, desde meados do século 19, alienadas pelo Estado Nacional. Foram usurpadas. Vamos pegar de volta", diz Lopez ao jornal brasileiro.
MST apoia carperos
Em entrevista ao jornal O Globo, o dirigente nacional do MST, Joaquim Pinheiro, afirmou que o movimento brasileiro apoia a luta dos paraguaios e que, por meio da via Campesina, apoiou a organização dos Carperos. Ele alerta que “há uma tentativa de criar um conflito entre os brasiguaios sem-terra e os paraguaios: “querem colocar pobre para brigar contra pobre. Para nós, é uma saída completamente equivocada”.
E esclarece: “são latifundiários brasileiros que são donos dessas terras no Paraguai. Somos solidários à luta dos sem-terra paraguaios contra os fazendeiros brasileiros. Mas a grande maioria dos brasiguaios é de trabalhadores rurais que foram para o Paraguai em busca de terra e não conseguiram, acabaram trabalhando nas grandes fazendas de brasileiros. São sem terra. Existe muita terra no Brasil e queremos que eles sejam assentados aqui”.
Da Redação do Vermelho, com informações da Folha de S. Paulo e O Globo