A guerra cambial e as turbulências econômicas e políticas
A política monetária adotada pelo Governo Barack Obama, pautada na expansão sem limites da oferta de moeda na circulação capitalista global, para tentar viabilizar as empresas americanas, na cena internacional, prejudicadas pela desaceleração econômica dos Estados Unidos, detonadora do desemprego, está na raiz dos desentendimentos econômicos crescentes entre Brasil e Argentina.
Publicado 19/01/2012 13:20
O dólar sobredesvalorizado, que tende a se desvalorizar ainda mais, ao longo desse ano, que promete turbulências econômicas e políticas, em meio ao capitalismo em colapso nos países ricos, sobrevaloriza o peso argentino e o real brasileiro, contribuindo para afetar, duramente, a competitividade das indústrias dos dois países.
Consequentemente, os industriais, abalados pela baixa competitividade, aprofundada pela guerra cambial praticada pelos Estados Unidos, pressionam os governos brasileiro e argentino a adotarem medidas capazes de proteger seus sistemas produtivos por intermédio do fechamento das fronteiras ao comércio, como se a origem dessa desavença fosse dada pelas políticas econômicas argentina e brasileira, subsidiárias da grande crise financeira global.
De um lado, o Brasil tenta se proteger dos estragos provocados pela importação de produtos baratos chineses; de outro, a Argentina busca se proteger dos manufaturados brasileiros, que, também, deixam de ser competitivos na Argentina, inundada, por sua vez, de manufaturados fabricados na China.
Se a complemetaridade econômica Brasil-Argentina fosse buscada na política cambial, com ampliação das trocas comerciais por meio da utilização das moedas nacionais, peso e real, como buscam fazer os asiáticos, fugindo do dólar, seria possível acelerar a integração sul-americana, que está dando lugar à desintegração, patrocinada pela guerra cambial americana.
Como, em 2012, nos Estados Unidos, haverá eleição presidencial e a bandeira de Barack Obama, para conquistar a reeleição, está sendo a busca por maior competitidade da indústria nacional, via dólar desvalorizado, para aumentar as exportações, a fim de elevar a taxa de emprego, deslocando, dessa forma, os concorrentes, certamente, as tensões Brasil e Argentina se estenderão ao longo de 2012, com ameaças de um combater o outro, quando ambos deveriam se unir para lutar contra o inimigo comum, o imperialismo monetário de Tio Sam.
O jogo da complementaridade estaria na alavancagem financeira das duas economias por meio da criação, URGENTE, do Banco do Sul. Este, com o aval do potencial econômico do Brasil e da Argentina, possuidores das matérias primas relativamente mais valorizadas que os manufaturados que importam, abaladas pela deflação global, teria condições de viabilizar a união monetária brasileira-argentina, por meio das duas moedas, atuando ao largo do dólar.
Além disso, o Banco do Sul teria condições de reciclar investimentos externos interessados em deslocarem para a América do Sul, fugindo da taxa de juro negativa nos países ricos, como arma para desvalorizar as dívidas dos governos, de modo a alavancar a infraestrutura sul-americana, dotando-a de poder econômico-financeiro geoestratégico na nova divisão internacional do trabalho em marcha, construída no contexto do desmoronamento do capitalismo cêntrico, baleado pelo processo deflacionário, destruidor de capital e trabalho nas esferas ricas. Olha a poderosa França aí, caindo pelas tabelas.
Outros cairão. A coisa vai chegar, também, na poderosissima Alemanha. Portanto, a guerra monetária se intensificará, sem dúvida alguma. A Unasul, que abriga os países detentores de petróleo, de alimentos, de minerais etc, está dormindo no ponto. Por que? Vai esperar acontecer o sucateamento industrial sul-americano?
O rei está nu
A grande mídia sul-americana, subordinada aos interesses de Washington, cuidou de propagandear, durante toda a semana, mais uma vez, que o Irã continua sendo uma ameaça à humanidade, porque estaria construindo armas atômicas.
Se isso fosse verdade, os países que detêm essas armas deveriam, a começar dos Estados Unidos, destruir suas próprias armas atômicas, visto que, segundo eles mesmos, representariam ameaça à sobrevivência do ser humano no planeta terra, já excessivamente abalado pelas políticas industriais poluidoras, que exigem , por sua vez, destruição do meio ambiente, como uma necessidade para continuidade da reprodução ampliada do capital, agora, dependente, cada vez mais da especulação financeira, visto que se tornou incapaz de se reproduzir na criação de riqueza real, já que sob o regime que busca o lucro a qualquer custo o resultado previsível é amplamente conhecido, ou seja, a deflação.
As investidas contra o Irã, certamente, são alimentadas pela necessidade de o imperialismo, tanto americano, como europeu(ambos na banguela, sem freio, descendo a ladeira), buscar bodes expiatórios, a fim de desviar a atenção dos seus povos dos problemas insoluveis que ele criou.
Deslocar as preocupações do plano interno para o plano externo, como se as causas da derrocada capitalista estivessem fora e não dentro das economias ricas, impulsionadas pelas suas contradições, dadas pelo impasse decorrente do confronto entre o desenvolvimento das forças produtivas e as relações sociais da produção, torna-se tarefa fundamental.
Caminha-se para a desmoralização o governo americano, principalmente, se a Europa baquear forte, pois, afinal, tornou-se incapaz de resolver o problema que mais o desgasta, ou seja, o desemprego, provocado pela crise que ele mesmo desatou, abrindo o sistema econômico para a ampla especulação financeira detonadora de bolhas, produzindo capitalismo de catástrofe, agora, em total impasse.
Assim, não seriam a maior ameaça à humanidade tais contradições que o capitalismo especulativo americano implementou, irresponsavelmente, mas sim a disposição do governo do Irã em utilizar, como destaca Ahmadinejad, a energia nuclear, capaz de proporcinar aos iranianos condições amplas para conquista do domínio tecnológico de vanguarda, de modo a promover o desenvolvimento do povo iraniano.
O negócio é confundir: o capitalismo estaria sendo ameaçado pela bomba atômica supostamente construída pelo Irã e não pelo que ele realmente se transformou , ou seja, na própria bomba atômica econômico-financeira, já está detonada, provocando estragos globais, cuja expressão é a recessão, a se estender nos próximos dez anos, no mínimo.
Os governos sul-americanos, a começar pelos de tendência nitidamente socialista, transformam-se em esteios à causa política iraniana, demonstrando que a América do Sul e América Central, no jogo da política internacional, vão se transformando em forças morais que incomodam os impérios, na medida em que, como faz Fidel Castro, com seus potentes artigos, manejados como poderosas armas políticas, evidenciam o óbvio: o rei está nu. E nada mais desmoralizante para o império que a pulga vença o elefante pelo incômoco que a sua ação inteligente provoca, demonstrando que o fraco não é Davi, mas, sim, Golias.
Fonte: Pátria Latina