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Carta de Obama ao Irã: o leão ruge, mas sem poder de ataque

O Irã considera-se hoje pronto para encarar qualquer situação na confrontação com os Estados Unidos e outras potências ocidentais, decidido a impedir que ameaças, sanções e assassinatos seletivos diminuam seu influente papel no Oriente Médio.

A grande maioria de estratos políticos e religiosos iranianos converge — acima de conhecidos antagonismos entre conservadores e os chamados principalistas e reformistas — ao recusar ou, ao menos, desconfiar de um plano dirigido a debilitar política e militarmente o país persa.

Com mais ou menos ênfase, os iranianos estão convencidos de que a revolução dos aiatolás de 1979 é precursora e inspiradora das revoltas populares que sacodem desde o ano passado o mundo árabe, e que esse exemplo é incômodo às antigas metrópoles imperiais.

No âmbito oficial, os partidários do presidente Mahmoud Ahmadinejad chamam de "show propagandístico do Ocidente" as sanções estadunidenses ao Banco Central da República Islâmica e o veto que a União Europeia (UE) prevê impor às exportações de petróleo iraniano.

Segundo explicou -sem detalhes- o presidente do Majlis (Parlamento persa), Alí Larijani, o Irã tem desenhado um plano para combater um possível bloqueio a seu petróleo por parte da UE, mas ao mesmo tempo atua nos âmbitos político, diplomático e militar.

Larijani insistiu em várias declarações de que o poderio mostrado por Teerã no Estreito de Ormuz e na região oriental de seu território durante recentes manobras militares navais e terrestres têm um destino meramente defensivo e pacífico.

O líder legislativo destacou também o potencial científico do país e concluiu que o assassinato, no dia 11 de janeiro, do acadêmico Mostafa Ahmadi-Roshan foi uma demonstração do desespero do Ocidente frente ao sucesso do programa nuclear pacífico de Teerã.

A respeito, recordou aos inimigos do Irã que será difícil deter os avanços em temas nucleares e exterminar seu canteiro de especialistas, pois "há um número ilimitado de profissionais que dominam" essa ciência.

Para os que exigem de Ahmadinejad deter as atividades atômicas, em particular o enriquecimento de urânio, por temor de que se consiga fabricar armas nucleares, há um braço de força, porque os iranianos não renunciam a seus planos e, também, exibem indiscutíveis avanços.

No entanto, no hemiciclo e em quartéis do Exército e do Corpo de Guardiões da Revolução Islâmica afirma-se em uníssono que a nação "está pronta para qualquer situação e empregará seus próprios meios para enfrentar as ameaças, segundo sucedam-se os eventos".

Dito em palavras de Larijani e do ministro de Defesa Ahmad Vahidi, "se usará o Estreito de Ormuz como uma ferramenta estratégica", o que faz supor que sancionar o petróleo iraniano e desestimular compradores "não será uma tarefa fácil para os inimigos".

Obama ameaça, mas vacila

Nesse sentido, o vice-chefe da comissão de política exterior e segurança nacional do Majlis, Esmail Kowsari, avaliou uma carta enviada pelo presidente estadunidense, Barack Obama, ao governo iraniano como a confirmação de que a Casa Branca ameaça, mas vacila.

A carta, segundo resenharam em Teerã as agências noticiosas e canais televisivos estatais, está sob estudo das autoridades, mas mostra de antemão o susto dos estadunidenses e seu reconhecimento do "poder efetivo e influente" do Irã.

O assessor para assuntos militares do líder supremo da Revolução Islâmica, major-general Yahya Rahim Safavi, destacou nesta segunda (16) a capacidade desse país em garantir a segurança dos fornecedores de energia global no Golfo Pérsico, Ormuz e Mar de Omán.

Sublinhou, no entanto, que o país persa poderia usar todos os recursos para defender seus interesses em tempos de ameaça, e a carta de Obama admite, com indubitável clareza, essa possibilidade porque Ormuz é uma via indispensável para o comércio e a energia globais.

Alí Akbar Velayati, assessor do líder supremo Alí Khamenei em política exterior, assinalou que a mensagem do presidente norte-americano "não contém nada novo".

Junto à opção militar, segue aberta a frente diplomática, mas Washington e seus aliados saturaram as vias do Organismo Internacional da Energia Atômica e do Conselho de Segurança da ONU para aplicar quatro pacotes de sanções.

O Governo de Ahmadinejad tem canais de comunicação fluídos com Rússia, Turquia (que em 2010 tentou uma solução conjunta com o Brasil), bem como com nações asiáticas e árabes do norte da África e do Oriente Médio (Líbano, Síria, Líbia e outras).

Neste momento, a agora convulsa Síria, a defesa da resistência árabe frente a Israel encarnada pelos movimentos Hizbulah (libanês) e Hamas (palestino em Gaza) são parte de um complexo tabuleiro que ajudam a explicar a renovada fricção de Washington e Bruxelas com Teerã.

Nesta segunda (16), o premiê libanês, Najib Mikati, classificou como vital o papel do Irã na manutenção da estabilidade e da paz na região, e essa verdade aceitam-na Obama e outros inimigos do país de credo xiita localizado em um Golfo Pérsico sunita.

Fonte: Prensa Latina