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Presidente alemão suspeito de corrupção tentou censurar mídia

A carreira política do presidente da Alemanha, Christian Wulff, instabilizou-se depois de um escândalo sobre a obtenção de crédito vantajoso para aquisição de uma residência e intimidações à imprensa.

O dignitário, pertencente à União Democrata-Cristã liderada pela chanceler Angela Merkel, realizou várias jogadas no dito período para limpar sua imagem e aplacar as críticas que provocou na oposição e nos grandes principais veículos de comunicação germânicos.

Os apuros de Wulff começaram em dezembro passado quando o jornal Bild sacou à luz informação sobre um empréstimo de 500 mil euros em condições favoráveis que lhe outorgou um casal de empresários ricos em 2008, enquanto era primeiro-ministro de Baixa Saxônia (norte).

O dinheiro era para comprar uma casa em Hannover, a capital desse estado, e o líder máximo alemão liquidou-o a uma taxa de juros de 4% anual, em vez dos 5,43%  vigentes, sem pagar garantias de hipoteca.

Ao mesmo tempo, soube-se sobre seis férias familiares na Itália, Espanha, Estados Unidos e outros destinos entre 2003 e 2010, convidado pelo casal de Edith e Egon Geerkens, bem como por outros homens de negócios da zona do Euro.

O centro do escândalo está no fato de, em  2010, o presidente ter negado ter vínculos com o casal de multimilionários, diante do Parlamento regional da Baixa Saxônia.

Todas essas revelações puseram Wulff sob o fogo da oposição alemã, que exigiu uma explicação sobre o assunto.

Assim, o Presidente se viu obrigado a admitir os fatos em público e pedir desculpas por não os ter informado a seu devido tempo.

Intimidações à mídia

A tentativa de reverter os danos à imagem pouco valeu, porque dias depois explodiu o episódio sobre suas pressões ao jornal Bild, o de maior tiragem na Europa, e ele não conseguiu evitar a publicação do artigo sobre a existência do crédito.

Wulff chamou no dia 12 de dezembro o diretor do rotativo e o chefe do grupo editorial Springer a fim de deter a reportagem e, ao ser recusada sua demanda, ameaçou em mensagem telefônica a levar aos tribunais o autor da informação e romper relações com esse meio de imprensa.

Com a ameaça, fortaleceram-se as pressões de vários aliados conservadores e da oposição, bem como os pedidos por sua renúncia como presidente, posto honorífico na Alemanha, mas que representa o pai da nação e a máxima autoridade moral.

Veículos como o Financial Times Deutschland, o Hamburger Abendblatt e o Suddeutsche Zeitung assinalaram em seus editoriais que o dignitário violou os direitos constitucionais ao intimidar o Bild a não expor o assunto privado.

Encurralado, Wulff primeiro enfrentou as censuras mediante seu porta-voz, que assegurou que o chefe de Estado respeita a liberdade de imprensa, ainda que tenha evitado confirmar ou desmentir os contatos telefônicos com o argumento de que "não se informa sobre chamadas pessoais".

Depois apelou a uma entrevista com as redes estatais Zdf e Ard sobre esses temas, numa nova tentativa para aplacar os ânimos.

Nesta ocasião, se eximiu uma vez mais, mas afirmou que sua intenção era adiar a publicação do artigo, não impedi-la.

"Assumo minha responsabilidade, mas não cometi nenhuma irregularidade (…) Foi um grave erro, indigno de um presidente," disse, antes de pedir compreensão por sua atitude imprensada e reiterar que não deixará o cargo.

Mais que pôr um fim ao escândalo, o comparecimento televisivo renovou os ataques contra o dignitário e reduziu ainda mais sua credibilidade ante a opinião pública.

Os principais jornais abriram suas portas no dia seguinte com novas censuras por considerar que as declarações nas câmeras eram insuficientes e mostraram a um chefe de Estado sem dignidade e aferrado ao cargo, apesar dos protestos para demissão.

Difundiram também uma solicitação do diário Bild para publicar de forma íntegra o conteúdo da mensagem telefônica com as intimidações, mas o Presidente respondeu com uma negativa.

Para a oposição alemã o tema também segue inconcluso e pede uma análise maior com respeito à violação da liberdade de imprensa e constitucionais, que proíbem esse tipo de ações para evitar possíveis retribuições.

O líder dos social-democratas, Sigmar Gabriel, também exigiu à Chanceler alemã repensar se Wulff é a pessoa adequada para ocupar a máxima instância política da Alemanha.

Membros dessa formação consideram que o Presidente deveria permitir divulgar a mensagem telefônica para dar o assunto por concluído.

"Se a senhora Merkel tem interesse em pôr fim a este espetáculo hipócrita, deve convencer Christian Wulff a autorizar a publicação", disse Thomas Oppermann, outro dirigente opositor.

A chefe de Governo só se pronunciou sobre o tema através de um porta-voz para expressar apoio ao estadista.

A novela continua

Os apertos de Wulff parecem que não acabarão por um bom tempo. Num recente capítulo desta história, a chanceler alemã e dirigentes dos partidos da coalizão governamental viram-se obrigados a negar uma notícia sobre um suposto pacto para eleger a um novo presidente.

O jornal Rheinische Post assegurou que a chefe de Governo e os líderes das formações que integram a aliança acordaram um procedimento para propor em conjunto um sucessor.

Segundo o periódico, também concordaram em retirar o apoio ao chefe de Estado se for comprovado que não disse toda a verdade a respeito do controvertido empréstimo imobiliário.

"Ela não vê motivos para discutir sobre um sucessor para o presidente", disse o porta-voz de Merkel, Steffen Seibert, ao diário Frankfurter Allgemeine Sonntagszeitung.

O secretário da União Democrata-Cristã, Peter Altmeier, recusou o rumor e qualificou-o de "pura especulação, enquanto a direção do Partido Liberal chamou de "absolutamente absurdas" essas informações.

Verdadeiro ou não, já o opositor Partido Social-democrata alemão disse que exigirá a antecipação das eleições parlamentares se o dignitário renunciar.

"Se Wulff se demitir, (a chanceler) Angela Merkel deverá ser enfrentada no voto dos eleitores. Suspeito que por isso evita se pronunciar abertamente sobre Wulff", declarou a secretária geral desse agrupamento, Andrea Nahles.

Agora, o líder máximo alemão deverá cuidar cada passo com esmero se na realidade deseja conservar o cargo, porque está claro que o menor engano catapultará sua queda.

O chefe de Estado chegou à presidência em junho de 2010 proposto por Merkel, depois da renúncia de Horst Kohler por dar declarações que vinculavam a missão dos soldados alemães no Afeganistão com interesses econômicos e comerciais.

Fonte: Prensa Latina