As políticas externas e de segurança de Barack Obama
O candidato apoiado pelos progressistas nestas eleições – o Presidente Obama – tem mantido pontos de vista desprezíveis numa série de questões críticas e tem também feito coisas desprezíveis com o poder que lhe foi conferido.
Publicado 12/01/2012 12:18
Por Glenn Greenwald, da Revista Fórum.
Ele assassinou civis – crianças muçulmanas às dúzias – não uma ou duas vezes, mas continuamente, em numerosas nações, com aviões não tripulados, bombas de fragmentação e outras formas de ataque. Ele tem tentado eliminar a proibição global das bombas de fragmentação. Ele institucionalizou o poder presidencial – em segredo e sem qualquer controle – de alvejar cidadãos dos EUA com assassinatos pela CIA, longe de qualquer campo de batalha. Ele tem conduzido uma guerra inédita contra os autores de denúncias, cuja proteção costumava ser um ponto sagrado para os liberais.
Ele tornou permanentemente irrelevante a Resolução sobre os Poderes de Guerra, uma joia da coroa na lista de conquistas liberais posteriores à Guerra do Vietnã, santificando assim o poder dos Presidentes de realizar guerras mesmo em face a voto do Congresso contra elas. Sua obsessão com o segredo é tanta que ela já se tornou sombriamente risível em suas manifestações, e ele inclusive trabalhou para emendar o Ato de Liberdade de Informação (outra joia da coroa dos sucessos legislativos liberais) quando respeitá-lo passou a ser inconveniente.
Ele entrincheirou por uma geração os antes odiados, antes radicais poderes anti-terrorismo da era Bush/Cheney, da detenção indefinida, das comissões militares e do privilégio estatal sobre o segredo como arma de imunidade para líderes políticos contra o regime da lei. Ele blindou os criminosos da era Bush de qualquer possível forma de responsabilização legal. Ele moveu processos vigorosamente sob a cruel e supremamente racista Guerra às Drogas, incluídas aquelas partes que ele, durante a campanha, prometeu abandonar – uma guerra devastadora para as comunidades das minorias étnicas, que enjaula e transforma em prisioneiros números gigantescos de jovens das minorias por nenhum motivo válido.
Obama concedeu enorme poder a banqueiros ladrões, com o socorro financeiro a Wall Street, com o segredo sobre o Fed [Banco Central], com os esforços para blindar os fraudadores de hipotecas ante processos judiciais e com a nomeação de uma lista infinita de ex-executivos e lobistas da Goldman Sachs. Ele levou o país a uma Guerra Fria total e uma guerra real dissimulada contra o Irã, à beira de hostilidades muito maiores. Ele tornou os EUA mais subservientes que nunca à agenda destrutiva do governo direitista de Israel. O seu apoio a alguns dos regimes mais repressivos do mundo árabe se manteve mais forte que nunca.
Acima de tudo, o Estado de Segurança Nacional, o Estado de Vigilância e sua postura de guerra sem fim permanecem mais robustas que nunca. O país sofre do que Michael Hirsh, do National Journal, acaba de batizar “o romance de Obama com a CIA”. Ele criou o que o Washington Post chamou “uma vasta operação de assassinatos por aviões não tripulados”, tudo por trás de um muro de sigilo e sem um fiapo de supervisão. A firme devoção de Obama ao que Dana Priest e William Arkin chamam “América Top Secret” tem severas repercussões domésticas também, ao criar enormes débitos e déficits em nome do militarismo que cria o pretexto para as medidas de “austeridade” que a classe de Washington (Obama incluído) planeja impor às classes média e trabalhadora dos EUA.
E eis que hoje o Presidente Obama assinou o NDAA [Ato de Autorização da Defesa Nacional], com suas provisões de detenção indefinida. O comunicado da ACLU [União para as Liberdades Civis da América] explica que “a ação de hoje do Presidente Obama é uma mancha no seu legado, já que ele ficará conhecido para sempre como o presidente que tornou lei a detenção indefinida sem acusação ou julgamento” e que “qualquer esperança de que o governo Obama reduziria os excessos constitucionais da guerra ao terror de Bush se extinguiu hoje”.