Presidente da Ubes faz balanço e traça perspectivas para 2012
Ela mal foi eleita e já assumiu a responsabilidade de liderar o movimento OcupeBrasília, que levou 300 estudantes a acampar na Esplanada dos Ministérios em Brasília para reivindicar mais investimentos na educação. Em entrevista, Manuela Braga, a Manu, eleita presidente da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes) faz um balanço do início de sua gestão e fala das expectativas para 2012.
Publicado 27/12/2011 09:41
A posse da gestão de Manuela aconteceu ali mesmo, no acampamento do Ocupe Brasília, e diversos parlamentares compareceram para prestigiar a solenidade e apoiar a luta dos estudantes. A mobilização colheu frutos importantes para mudar os rumos da educação no país: no dia 6 de dezembro, a Comissão de Educação, Cultura e Esporte do Senado (CE) aprovou, por unanimidade, o PLS 138/11, projeto de lei que destina às áreas de educação e de ciência e tecnologia metade dos recursos do Fundo Social. Confira entrevista concedida ao EstudanteNet.
EstudanteNet: Como você avalia o 39º Congresso da Ubes, no qual foi eleita?
Manuela Braga: O 39º Congresso da UBES mobilizou 4,5 milhões de estudantes, de 5 mil escolas públicas e particulares dos 27 estados, em etapas estaduais preparatórias que debateram diversos temas até chegar à etapa nacional. No decorrer do congresso, percebemos que não importa a região do país, a educação ainda tem muito o que avançar, principalmente no que diz respeito ao conteúdo dentro da sala de aula e maior ousadia nos investimentos. Saímos da plenária final direto para o #OcupeBrasilia, como foi deliberado no congresso, um movimento que todos os dias reunia estudantes diversos, movimentos sociais e parlamentares em defesa da educação. Podemos dizer que o 39º Conubes só terminou depois da ocupação, um congresso, portanto, vitorioso
EstudanteNet: O #OcupeBrasília vai ficar marcado para a história do movimento estudantil e do Brasil. Gostaria que você comentasse o significado disso para a Ubes.
MB: Durante a semana em que estivemos ocupados fizemos mobilizações e debates em torno das nossas reivindicações, convidando movimentos sociais, deputados(as) e senadores(as), não tínhamos dúvidas da necessidade de fazer pressão para que fossem aprovadas pautas como o 50% do Fundo Social do pré-sal para a educação e a meia-entrada na lei geral da Copa, além de ter contribuído para a construção do Estatuto da Juventude e do Plano Nacional de Educação (PNE) que represente os anseios e as necessidades dos estudantes. O #OcupeBrasília é como tantos outros movimentos: um marco em nossa história. Novamente, reafirmamos a que viemos, isso significa para a Ubes mais uma grande conquista, fruto de um grande processo de mobilização em cada estado.
EstudanteNet: Inclusive a posse aconteceu no acampamento…
MB: Havíamos acabado de sair do congresso, com uma diretoria a ser empossada e estudantes do país inteiro reunidos em um acampamento reivindicando mais avanços na educação e aprovação do estatuto da juventude. Não teria cenário melhor que esse para a posse da direção eleita no 39º Conubes. Construímos uma posse praticamente da noite para o dia, uma posse das mais representativas e em um cenário único. Tenho a certeza de que junto com todos os que nos apoiaram, reafirmamos nosso compromisso com a luta dos estudantes.
EstudanteNet: E para você, Manuela, militante do movimento estudantil, como se sentiu tendo participado dessa ocupação da Esplanda dos Ministérios?
MB: Me senti fazendo história, na verdade acho que é esse o sentimento comum de todos que passaram pela Ubes, em especial não me recordo de outro momento em que estudantes tenham ocupado a esplanada durante tanto tempo e de forma tão irreverente, com tantas conquistas.
EstudanteNet: Quais serão as principais bandeiras de luta da sua gestão?
MB: Sem dúvida, a luta por maiores investimentos na educação, reformulação do currículo do ensino médio, continuação da ampliação da rede de escolas técnicas e o passe-livre. Essas, inclusive, foram as nossas principais pautas defendidas durante a 2ª Conferência Nacional de Juventude, que aconteceu durante os dias em que estávamos no #OcupeBrasília.
EstudanteNet: O próximo ano será de eleições para prefeito e vereadores. O “Se liga 16″ é uma das principais campanhas da Ubes. Qual a sua expectativa?
MB: O “Se Liga 16″ é o momento em que jovens de todo país, das mais diversas tribos, discutem de forma mais intensa através da Ubes, Políticas Públicas de Educação e Juventude, constroem plataformas políticas com as inúmeras reivindicações que um país com a economia já um tanto avançada como o Brasil tem, mas ainda com muitas desigualdades sociais. É o momento em que dizemos de forma mais forte “sabemos onde o calo aperta, então também queremos ajudar a decidir os rumos do país.”
Pretendemos atingir todos os estados, numa grande campanha e, no fim, termos uma plataforma política que guarde os anseios e sonhos dos jovens, que nos aponte nossas ações e cobrança dos parlamentares de 2012 em diante, além de fazer com que se comprometam com nossas reivindicações.
EstudanteNet: Como você avalia a participação das mulheres na política e, principalmente, no movimento estudantil secundarista?
MB: Vivemos um momento em que só depois de 68 anos da conquista do voto feminino, elegemos uma mulher ao mais alto cargo do país e, ainda assim, enfrentamos graves dificuldades na emancipação feminina. No movimento estudantil não é diferente, existe grande resistência e preconceito, por exemplo, as meninas geralmente têm mais dificuldade em participar de atividade fora da escola, muitas vezes temos que enfrentar “piadinhas” entre uma passagem em sala e outra. Acredito que essa realidade será totalmente transformada, com mulheres ocupando cada vez mais os espaços de decisão desde representante de turma até a presidência do Brasil, e por fim quando transformamos a sociedade, havendo espaço para homens e mulheres.
EstudanteNet: Estamos vivendo um novo Brasil? Como você vê o papel do jovem estudante na construção desse processo?
MB: A juventude participou de todos os momentos de mobilizações e grandes transformações do país e do mundo. No Brasil, desde a abolição da escravatura até os dias atuais, a juventude pinta a cara e vai às ruas, passando pelo Fora Collor, a passeata dos 100 mil, o último Agosto Verde e Amarelo e o #OcupeBrasília. Pautas como o investimento de 50% do Fundo Social do pré-sal para a educação, 10% do PIB, retomada do ensino técnico, entre outros, surgiram dos movimentos juvenis. Dizer que a juventude não se interessa por política é uma falsa verdade que provamos a cada página da história mundial.
Fonte: EstudanteNet