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Chávez e o desafio de sair de uma emboscada

A lamentável enfermidade que afetou o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, concentrou as atenções deste país em meados do ano com uma sensível demonstração de apoio de seus seguidores e o intento da oposição de aproveitar o fato a seu favor.

Por Edilberto Méndez, em Prensa Latina

Em um primeiro momento, o mandatário assinalou que a vida tinha-lhe armado uma emboscada, mas com o passar dos meses, como bom militar, com seguiu sair e ir adiante.

Desde que no mês de junho o estadista deu a conhecer seu estado de saúde e disse ter um tumor com presença de células cancerígenas, se desencadeou uma torrente de manifestações de solidariedade em seu país e no mundo.

Uma das exceções foi protagonizada pela oposição venezuelana, cujos membros, longe de solidarizar-se com a dor alheia, viram nos problemas de saúde do presidente uma oportunidade inesperada.

Inclusive alguns dos inimigos de Chávez questionaram sua enfermidade e chegaram a dizer que era uma invenção para manter sua popularidade com vistas às eleições de 2012.

Enquanto isso, a sociedade venezuelana, comovida, acompanhou de perto a evolução do presidente. Rezas, orações realizadas na Venezuela e em outros países da região, se uniram como um escudo protetor ao redor de Chávez.

O governante, por sua parte, lamentava a obrigatória suspensão da cúpula de fundação da Comunidade de Estados da América Latina e do Caribe que ia realizar-se no marco das celebrações do bicentenário da independência.

O festejo foi feito e contou con a presença do chefe de Estado presidindo o magno evento a partir do Palácio de Miraflores.

A recuperação e o retorno

Uma vez cumprida a etapa inicial de sua recuperação, o líder venezuelano regressou a Caracas, mostrando confiança em seu futuro e uma paulatina melhora. Logo continuaram novos tratamentos, dos quais informou oportunamente a seu povo.

Em agosto, comparou a disciplina de seu tratamento e recuperação com a de seus tempos na escola militar: "Aqui estou, em um novo renascer, iniciando um novo retorno, una nova e longa escalada. “Declaro-me de novo Cadete Hugo Chávez!"

Durante todo este tempo não abandonou suas responsabilidades. Presidiu reuniões, reajustou sua equipe, criou novos ministérios, nomeou ministros.

Dirigiu o processo de nacionalização dos recursos auríferos, a nova lei do esporte, esteve à frente da conformação do Grande Polo Patriótico e, além do mais, acompanhou as partidas de futebol da seleção venezuelana e incentivou o piloto Pastor Maldonado na Fórmula 1.

Também manteve sua atenção com as missões. A habitação em primeiro lugar, anunciou a missão Saber e Trabalho e quase ao final do ano pôs em marcha a missão Filhos da Venezuela e a Grande Missão Venezuela no Amor Maior.

Em meio a essa atividade, o mandatário, que aspira à reeleição nas presidenciais de outubro de 2012, teve que desfazer sistemáticos rumores divulgados por meios de comunicação venezuelanos e estrangeiros que especulam sobre uma suposta piora de sua saúde.

"Não tenho dúvidas, são mensagens resultantes de laboratórios de guerra psicológica", apontou.

Em outubro passado, viajou a Cuba e foi submetido a exames médicos para avaliar os resultados da quimioterapia recebida e no seu retorno expressou: "Tudo saiu perfeitamente, não tenho nenhum órgão afetado".

"Comecei a sair do buraco. Agora vou para a vanguarda, estava na retaguarda, mas comecei a percorrer os caminhos”, disse.

Meses depois de submeter-se à primeira das duas operações cirúrgicas e depois de quatro ciclos de quimioterapia e um rigoroso processo de recuperação, o "novo Chávez" irrompeu com força no cenário político venezuelano.

Começou a incrementar de maneira sustentada suas aparições, primeiro mediante contatos telefônicos ou breves intercâmbios com a imprensa no Palácio de Miraflores.

Vários dias depois, assistiu à constituição da Central Bolivariana Socialista de Trabalhadores da Cidade, Campo e Mar, no estado de Vargas, onde falou durante mais de uma hora a cerca de quatro mil trabalhadores.

Foi a primeira participação em um ato público depois do parêntese aberto desde alguns meses antes.

Menos de 48 horas depois, o presidente compareceu ao Teatro Nacional, onde promulgou a Lei para a Regularização e Controle dos Aluguéis de Habitações, a primeira normativa aprovada pela Assembleia Nacional surgida da iniciativa popular.

E se em Vargas disse ter um pé na retaguarda e outro na vanguarda, já está com firmeza na primeira linha de combate, em uma clara demonstração de que o "novo Chávez" já se encontra entre os venezuelanos e pretende estar durante muito tempo.

O presidente termina 2011 vencendo um ano cheio de dificuldades e se prepara para um 2012 que lhe apresenta pela frente novos combates e o que denominou a Revolução de Outubro, referindo-se às eleições do dia 7 desse mês.

*Chefe da sucursal da Prensa Latina na Venezuela