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Um templo da resistência negra

O Terreiro da Casa Branca foi fundado no século 19 por um grupo de sacerdotisas africanas nagôs e é considerado matriz no Brasil de centenas de outros terreiros. Em 1984, a casa foi tombada pelo Instituto do Patrimônio Artístico Nacional – Iphan, como primeiro centro religioso não-católico a ser reconhecido como patrimônio nacional pelo Ministério da Cultura.

Nesta sexta (16), dia em que o tombamento completou 26 anos, a Vereadora do PCdoB, Olívia Santana, homenageou o Patrimônio Histórico Nacional em sessão no Plenário Cosme de Faria.

Valorizar as ações que os terreiros de candomblé mantêm em favor da preservação do culto aos orixás , celebrar os 26 anos de tombamento do Ilê Axé Iyá Nassô Oká – um dos mais importantes e antigos centros de atividade religiosa negra – e debater as políticas de valorização dos terreiros de candomblé foram os temas em pauta na sessão especial requerida pela vereadora Olívia Santana.

Defensora das causas negra e religiosa, Olívia é autora do projeto de lei que instituiu o dia 21 de janeiro como o Dia Municipal de Combate à Intolerância Religiosa. Posteriormente, o projeto de lei serviu de inspiração para o deputado federal Daniel Almeida (PCdoB) criar, através de projeto de lei, o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, que foi sancionado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), através da Lei 11.635/07.

Histórico

Popularmente conhecida como “Casa Branca”, o terreiro preserva tradições fundamentais para a religião de matriz afro-brasileira e constitui-se em símbolo da resistência cultural dos descendentes de africanos escravizados e de reforço à formação cultural do Brasil. O reconhecimento oficial do Ilê Axé Iyá Nassô Oká, ocorrido em 14 de agosto de 1986, pelo IPHAN, representou um marco na afirmação da cultura negra no país, uma vez que, até o período do tombamento, o estatuto era aplicado apenas a edificações religiosas militares e civis da tradição luso-brasileira.

Para homenagear o centro religioso que promulga a luta do povo negro na construção de espaços de sociabilidade e de interação, foram convidados para compor a mesa Carlos Amorim, do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN, Lidivaldo Brito ,procurador geral, Ordep Serra ,antropólogo e professor, Ekedi Sinha, o ouvidor da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR), Carlos Alberto Júnior, e Alexandro Reis, representando a Fundação Cultural Palmares, além de representantes dos terreiros de matriz africana.

Sustentada pelos orixás Oxossi e Xangô, a primeira casa de candomblé aberta em Salvador é constituída por aproximadamente 6.800 m². Foi o primeiro templo religioso não católico a ser tombado como patrimônio do Brasil, com inscrição no Livro Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico. O terreiro também foi homenageado na 3ª Conferência Mundial da Tradição dos Orixás e Culturas, realizada em Nova York. Com edificações, árvores e objetos sagrados, conhecida também como Sociedade São Jorge do Engenho Velho, foi fundada em um engenho de cana de açúcar e, em seguida, transferida para uma roça na Barroquinha.

Com o crescimento do culto e, devido a uma migração da população para outras áreas da cidade, Iya Nassô, uma das negras africanas fundadoras do terreiro, arrendou terras do Engenho Velho do Rio Vermelho de Baixo. Com mais de 300 anos de existência, a sucessão deu-se através da linhagem familiar. Atualmente, a Iyalorixá Altamira Cecília dos Santos, carinhosamente chamada de "Papai Oké", é a mãe de santo da casa. É o primeiro monumento negro a ser considerado Patrimônio Histórico do Brasil, servindo de modelo para outros centros.O tombamento significa que o bem cultural tombado tornou-se objeto de proteção especial de instâncias públicas, ou seja, reconhecimento oficial do Estado nacional.