Irlanda e Letônia: Os "bons" exemplos da troika
Letônia e Irlanda são amiúde apontados como dois "bons" exemplos de que as políticas de austeridade permitem a curto ou médio prazo sanear a economia e retomar o crescimento. Mas será assim?
Publicado 02/12/2011 12:46
Os sinais exteriores mostram efetivamente que a Letônia irá crescer 4% em 2011 e que a Irlanda, embora tenha um crescimento insignificante este ano, poderá crescer 2% em 2012, prevendo-se que a taxa possa aumentar nos anos seguintes.
Os economistas e políticos burgueses louvam com regozijo estes indicadores e apresentam-nos como a prova de que as suas "inevitáveis" receitas funcionam. Todavia, estes números escondem uma realidade bem diferente.
Depois do ajuste fiscal, que representou 16% do Produto Interno Bruto (PIB), e dos cortes salariais no setor público, de 25%, o governo letão conseguiu reequilibrar as contas públicas, cujo deficit chegou a atingir 20%. O reverso foi a brutal queda de 25% do PIB, entre 2008 e 2010. Ou seja, em cerca de três anos perdeu um quarto da sua riqueza anual. Mesmo que se mantivesse o ritmo atual de crescimento, só dentro de seis anos a Letônia recuperaria o nível de 2007.
Entretanto, mais de 5% da sua população de dois milhões de habitantes já emigraram, na sua maioria jovens, e a sangria continua ao ritmo de 40 mil por ano, dado que o desemprego se mantém acima dos 16%.
Também na Irlanda, o "êxito" dos programas do FMI é altamente duvidoso. Até agora as medidas anti-sociais traduziram-se na redução de 10% dos custos laborais unitários (salários e outros) e na escalada do desemprego, de 6,5 por cento para 14,4 por cento, sendo que um em cada dois desempregados é de longa duração.
Neste país de 4,2 milhões de habitantes, a perda de poder de compra está refletida na acentuada quebra da procura interna, calculada em 29 por cento desde o início da crise, e na impossibilidade de 300 mil famílias pagarem as suas hipotecas pela habitação. Ao mesmo tempo, o investimento caiu 72% e o PIB afundou-se 18% desde 2008.
Neste contexto de depressão, cerca de mil jovens irlandeses abandonam o país todas as semanas e milhares de imigrantes polacos e tchecos vêem-se forçados a regressar às suas pátrias.
Só as companhias multinacionais instaladas no país, como a Google ou a Bayer, lucram com a redução dos salários e a diminuta tributação fiscal, que continua a vigorar na Irlanda. Mas as multinacionais não reinvestem os lucros e a economia não cresce, o que torna a dívida impagável mesmo para aquele que já foi chamado o "tigre celta".
Fonte: Avante!