Renato Rabelo: A China e os reais problemas do Brasil
Para o senso comum, a falta de competitividade de nossa indústria e o “custo Brasil” têm um culpado: a política econômica praticada pela República Popular da China, um misto, segundo o professor Carlos Lessa de “Inglaterra Vitoriana” com “Inovação Meiji” japonesa. Na falta de criatividade para melhor entender a raiz de nossos problemas, é mais tranquilo escolher bodes-expiatórios.
Publicado 01/12/2011 14:34
Parece que o problema da agenda econômica nacional deixou de ser a sobrevivência e os entulhos do Consenso de Washington e seu lastro de destruição que até hoje acomete e compromete o futuro da indústria e da economia brasileiras.
É verdadeira a analogia com o processo japonês iniciado em 1861. Apesar da diferença do conteúdo de classes à frente dos dois processos históricos, a Revolução de 1949 na China foi o resultado de um longo processo de reinvindicação ao direito ao desenvolvimento nos mesmos moldes da revolução burguesa japonesa (Meiji). Evidente que na incapacidade de Chiang Kaishek em tocar adiante a modernização capitalista em seu país, o Partido Comunista da China se colocou diante desta tarefa. Daí, para Gramsci o Partido Comunista ter a característica de “Príncipe Moderno”. Em outras palavras, o “modernizador”.
Já a relação com a política comercial agressiva da China com a agenda inglesa da segunda metade do século 19 é mais complicada. Neste caso, maior similaridade existe com o Consenso de Washington, cuja “receita para o desenvolvimento” demandava a privatização dos serviços públicos, retirada do Estado da economia, combate à inflação em primeiro plano via altas taxas de juros e câmbio flutuante. Esta agenda foi imposta pelos quatro cantos do mundo e é esta agenda que provocou a presente crise financeira.
A Inglaterra vitoriana e o imperialismo recente foram contumazes na imposição de agendas predatórias. Já a agenda chinesa não passa pela imposição de receitas mirabolantes pela periferia. Ao contrário, o sucesso chinês – por si só – é contraponto ao “vitorianismo contemporâneo” do Consenso de Washington. Garante mercado para produtos primários do mundo inteiro, dentre tais, da Venezuela, Cuba, países africanos, Bolívia e mesmo o Brasil. A China não está inundando o mundo de dólares como forma de exportar crise. Este é o “x” da questão.
O essencial é enterrarmos os entulhos do colonialismo em nosso país. Isso significa que uma relação de igualdade econômica com a China demanda a superação da atual política monetária. Se existe uma ameaça à nossa soberania, ela vem da chuva de dólares pelo mundo imposto pelo imperialismo. Os nossos reais problemas são outros. Por incrível que pareça, a China é parte essencial da solução de nossos problemas. Não foram eles que nos receitaram determinados remédios. Muito pelo contrário.