Encontro debate revolução árabe e correlação de forças mundiais

A revolução no mundo árabe foi o tema de debate promovido pelo PCdoB/CE em parceria com o Centro Brasileiro de Solidariedade e Luta pela Paz (Cebrapaz) e a Fundação Mauricio Grabois, realizado na noite desta quinta-feira (24/11), em Fortaleza. O sociólogo e arabista Lejeune Mirhan, membro da Academia de Altos Estudos Ibero-Árabe de Lisboa e diretor do Instituto Jerusalém do Brasil, apresentou ao público dados e informações ocultadas pela grande mídia sobre o cenário político da região.

A identidade com o Oriente Médio vem de berço. Neto de árabes, Mirhan já acumula 30 anos de estudos e pesquisas voltadas à região e seu povo. “Mesmo estando na mídia praticamente todos os dias, é impressionante o desconhecimento das pessoas em relação àquela região considerada a mais estratégica do mundo não só atualmente, mas em toda a história da humanidade”, avalia.

Segundo o sociólogo, debater o processo de transformação que acontece no Oriente Médio é analisar também a crise do capitalismo. “O que acontece no mundo árabe faz parte de resistência dos povos em busca de melhores condições de vida”. Mirhan discorda do discurso da grande imprensa ao defender que os conflitos na região são de ordem religiosa. “Os conflitos são essencialmente políticos. São disputas territoriais, coloniais, por recursos energéticos e hídricos”, ratifica.

Oriente Médio em números

Para entender a importância estratégica da região, os números tornam-se aliados. Os árabes somam 347 milhões de pessoas em todo o mundo – o equivalente a 5,18% da população mundial – espalhados em 21 países árabes e mais a Palestina (ocupada por Israel) e o Sarauí (ocupado pelo Marrocos).

A soma de todos os PIBs desses países chega a US$ 2,477 trilhões, ou seja, 4% de todo o PIB mundial. Porém, em se tratando de petróleo, os países árabes são responsáveis pela metade de toda a reserva provada do planeta: 50,81%, o equivalente a 685,11 bilhões de barris. Se analisarmos a produção diária de óleo, os países árabes produzem diariamente 22,967 milhões de barris, ou 27,26% da produção mundial.

Para se ter uma ideia da dimensão da importância da região, dados apontam que os Estados Unidos consomem todos os dias cerca de 20 milhões de barris de petróleo por dia. Sua produção é de 7,27 milhões de barris/dia e a importação diária é 12,22 milhões de barris, boa parte oriundos os países árabes. No Brasil, a produção gira em torno de dois milhões de barris por dia. “Os Estados Unidos precisam dez vezes mais que a quantidade diária de petróleo produzido aqui”, compara o arabista. Mirhan vai além: “Se o mundo parar de exportar petróleo para os americanos, as reservas do país só dariam conta de abastecer sua frota, de aproximadamente 250 milhões de veículos, por mil dias. Em três anos, estariam esgotadas suas reservas de energia”.

Revoluções

Lejeune Mirhan reforça o caráter de disputa no Oriente Médio “Na revolução árabe, a disputa é com o império americano, que está em decadência”. Segundo o arabista, a democracia se constroi pela soberania de um povo. O sociólogo considera ainda que um novo Oriente está sendo construído e que crescerá o nacionalismo árabe. “Arrisco dizer que vamos presenciar um novo mundo árabe, revolucionário e que não será mais submisso aos interesses norte-americanos”.

Questionado se tais revoluções poderiam ocasionar uma nova geopolítica mundial, o arabista foi enfático: “Há sim um processo revolucionário em curso, com caráter anticolonial, democrático e progressista geral, que deverá alterar a correlação de forças mundiais”, ratifica.

De Fortaleza,
Carolina Campos