Brizola Neto: O tablet do Eike e a registradora dos capitalistas
O empresário Eike Batista disse que uma das razões de ter se oferecido para ser sócio da Foxconn, fabricante de tablets de Taiwan que vai se instalar no Brasil, é a de que “adora trazer modernidade para o Brasil”.
Publicado 22/10/2011 13:38
Pode ser, mas do que Eike Batista gosta mesmo é de ganhar dinheiro, e muito. É por isso que se mete em negócios tão diversos quanto petróleo, construção naval, mineração, hotelaria e, agora, informática.
E não apenas ganha, como vai ganhar muito, muitíssimo mais.
Mas o que mais faz Eike Batista ganhar dinheiro não é ele, são seus não-competidores.
Os grandes capitalistas brasileiros – e não há maiores capitalistas brasileiros que os banqueiros – parecem, muitas vezes, uma versão high-tech dos amanuenses que viraram banqueiros e se comportam não como bancos, mas como – na descrição magnífica de José Cândido de Carvalho, no livro O Coronel e o Lobisomem – tamboretes, com alma de dez por cento ao mês.
Estão todos sempre se dizendo muito preocupados com meia-dúzia de sujeitos que não pagaram o carnê, um alfinete de prejuízo que milhares de outros já pagaram com muita sobra, pelas taxas monstruosas que cobram e consomem seus dias e recursos executivos com manobras de compra e venda e especulação.
Medem seu sucesso pelo lucro trimestral, porque não conseguem olhar ao longe e ver que este país, se tem algo maior do que tudo, são seus horizontes.
Há dois meses, numa entrevista a O Globo, onde os repórteres pareciam mais preocupados do que ele com as perdas em bolsa das ações de suas empresas, Eike revelou, com rara crueza, o que se ganha com as riquezas naturais do país:
“O Brasil está numa posição muito, muito especial. Eu vou produzir petróleo a US$ 18 (o barril). Pergunta se eu estou preocupado se ele está caindo de US$ 100 para US$ 90. Se cair para US$ 80, tudo bem, who cares (quem se importa, em inglês)? Meu custo de produção de minério de ferro é de US$ 29. O minério chegou a mais de US$ 170 em meio à crise, subiu de preço. Meus ativos são à prova de idiotas porque são muito ricos”.
Eike é um ambicioso e não duvido que faça das suas. Não o conheço pessoalmente e não me consta que tenha feito alguma benesse que faça o lado de cá lhe ser simpático. E, aos 52 anos de trabalho e de contas para pagar, não estou dando a mínima para acharem que o que lhe faço são elogios. E não tenho a menor ideia se ele tem cacife para bancar tantos apetites.
São, ao contrário, uma crítica ao sub-capitalismo que, com raras exceções, domina o país, porque pensa a curto prazo, porque não enxerga o óbvio: que o Brasil é um país fadado a ser grande, imenso economicamente.
A diferença entre um tipo como este e outro, como o Roger Agnelli é claramente resumida num negócio naval. Agnelli precisava de navios para a Vale, cotou preços e por uns caraminguás a menos, mandou fazer 12 dos maiores navios do mundo na China e na Coréia. Eike precisava de navios-plataforma para seu campo de petróleo, cotou preços, e por uns caraminguás a mais resolveu montar um estaleiro e ganhar o dinheiro que ia pagar para os outros e mais algum.
Não dá para entender que um banco como o Itaú, que tem uma subsidiária de equipamentos de informática, a Itautec, não tenha entrado nessa. O homem que fez deste banco um império, Olavo Setúbal, surgiu como empresário de sucesso quando dirigia a Deca e fazia válvulas de descarga, quando boa parte da população brasileira estava “na casinha”, sem instalações sanitárias.
Uma parte da elite capitalista brasileira acha “feio” produzir coisas. Bonito, mesmo, só o mercado financeiro. Seu raciocínio econômico se limita a vender o Brasil, “sem aspa”s, à vista, ao tilintar da registradora , quando todo o mundo quer “comprar” o Brasil como perspectiva de médio prazo.
Termino o raciocínio do jeito que comecei: Eike Batista gosta muito de ganhar dinheiro e muito dinheiro. Vai ser assim com os tablets da Foxconn, também, e ele diz isso no Estadão, afirmando que o mercado brasileiro para o produto é bastante promissor, visto que cresce a velocidade maior do que a verificada na Europa e nos EUA. “O potencial é enorme. Imagine os 70 milhões de estudantes brasileiros cada um com um tablet”.
Pois é, o dia em que os grandes empresários do Brasil entenderem que este tamanho do país é sua maior fonte de lucros, o Eike Batista vai passar a ganhar menos.
Porque são os “idiotas” que se preocupam só com o lucro instantâneo que deixam tanto espaço aberto para ele.
Fonte: Tijolaço, o blog do Brizola Neto