Pedro Belasco: Che, modelo de moral
Já se faz 44 anos desde o dia do assassinato – a sangue-frio – de Che Guevara, em 9 de outubro de 1967, na escola primária de La Higuera, na Bolívia, onde havia sido transportado após sua prisão por rangers bolivianos e agentes da Agência Central de Inteligência (CIA) dos EUA. No dia anterior caíra em emboscada junto com 17 guerrilheiros remanescentes.
Por Pedro Belasco, no Monitor Mercantil
Publicado 12/10/2011 12:20
Afirmar que a memória de Che permanece viva seria muito pouco para o "eterno revolucionário" cujo internacionalismo de sua presença não tem precedente: Está "presente" em qualquer manifestação popular, em qualquer comício em qualquer lugar do mundo, tornou-se ídolo da juventude mundial, símbolo de radical disputa e revolução permanente, fonte de inspiração para muitas faces da arte.
Jean-Paul Sartre o caracterizou em 1968 "uma das maiores figuras humanas do século 20". Mas, também, neste século 21, a figura de Che permanece viva como nunca na América Latina e no mundo inteiro, onde o lema "socialismo ou barbárie" torna-se novamente atual.
Hoje, a Bolívia, com Evo Morales na Presidência de República, honra Che oficialmente. Mas também a América Latina, de um modo geral, evolui – de uma ou de outra forma – rumo à direção que Che sonhou, porém não por intermédio das armas, mas com múltiplos movimentos populares e vitórias eleitorais de frentes de forças da esquerda, na base de programas antineoliberais.
União da AL
Em um período de profunda crise, como a atual que é, também, crise de valores, é de particular importância destacar-se que Che desperta consciências não porque foi um grande teórico ou porque representa a correta "receita para uma revolução", mas como modelo de moral de um combatente irreconciliável e internacionalista, na teoria e na prática.
"Meu marxismo tem raízes profundas", escreveu na última carta aos seus pais. Se for realizada uma pesquisa questionando qual era sua nacionalidade, dificilmente haveria respostas certas.
Che nasceu na Argentina, mas é herói da América Latina e símbolo de sua união. Foi um dos líderes da Revolução Cubana e seu indiscutível teórico. Abandonou seu cargo de ministro da Indústria para lutar ao lado dos movimentos nacionalistas libertários na África. Depois foi à Bolívia, onde tentou organizar um movimento de guerrilha, mas encontrou grandes dificuldades e, finalmente, foi morto, não como gostaria ter sido – em pé, lutando – mas assassinado.
Transcorrendo o século 21, o mito de Che não sofreu desgaste, mas cresce incessantemente e internacionaliza-se, particularmente entre os jovens do planeta. E isto ocorre porque a crise do sistema é profunda e multidimensional, e o mundo deverá mudar radicalmente e derrubar as desigualdades que destroem as sociedades e imobilizam as capacidades criativas dos seres humanos. A própria vida na Terra está ameaçada pela galopante decadência ambiental, consequência do predominante modelo neoliberal de crescimento.
Che está mais vivo hoje. Propõe a esquerda como postura e modelo de vida. Fala direto no coração e na consciência com as mesmas palavras, com as quais falou aos seus filhos em sua última carta: "Acima de tudo, sejam sempre capazes de sentir profundamente qualquer injustiça que está sendo cometida contra qualquer um, em qualquer canto deste mundo. É a característica mais bela de um revolucionário". Ernesto Che Guevara, guerrilheiro heroico.