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SP: deputado confirma que colegas enriqueceram negociando emendas

O deputado Roque Barbiere (PTB) concedeu entrevista coletiva nesta terça-feira (4) em que reafirmou a acusação de que parlamentares da Assembleia Legislativa de São Paulo enriqueceram negociando emendas com prefeituras e fazendo lobby para empreiteiras.

Sem dizer nomes, ele se referiu à Assembleia paulista como camelódromo. "Isso é igual camelô, cada um tem um jeito". "Para os mais antigos, não é surpresa. Se fingir que é surpresa, é hipocrisia", reiterou.

Ao menos seis deputados estaduais usaram emendas ao Orçamento do governo de São Paulo para destinar recursos a municípios onde não tiveram voto. Os dados foram obtidos em um cruzamento feito pela Folha na lista de emendas parlamentares (recém-divulgada pelo governo de São Paulo) com os relatórios de votações disponíveis no TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

Não há impedimento legal para a destinação de emendas a cidades onde parlamentares não têm atuação política. Mas, tradicionalmente, eles indicam recursos aos seus redutos para contemplar pleitos dos eleitores.

Deputados

Os deputados que destinaram recursos para municípios onde não tiveram votos são: Dilmo dos Santos (PV), Ed Thomas (PSB), Geraldo Vinholi (PSDB), Gilmaci Santos (PRB), Orlando Morando (PSDB) e Vanessa Damo (PMDB).

Presidente do PRB, Gilmaci Santos tem base eleitoral na capital, mas indicou R$ 1 milhão para sete cidades onde não foi votado, segundo dados da Justiça Eleitoral.

Membro do Conselho de Ética da Assembleia, o pastor Dilmo dos Santos destinou R$ 300 mil para a construção de dois barracões nas cidades de Lourdes e Nova Castilho, na região noroeste do estado, municípios que não tiveram nenhuma participação em sua eleição.

Todas as emendas resultaram em recursos disponíveis para as prefeituras executarem obras. Hélio Nishimoto (PSDB), presidente do Conselho de Ética, destinou R$ 150 mil para o município de Lavrinhas, onde teve apenas um voto.

Leia abaixo trechos da entrevista coletiva do deputado Roque Barbiere:

Jornalista: O senhor pretende ir lá na quinta-feira na comissão [de Ética] ou mandar por escrito?
Roque Barbiere: Estou pensando em fazer por escrito para não ter dúvida sobre o que foi dito. Por escrito fica fácil, se eu falei x coisas.

Jornalista:
Neste escrito você vai dar algum nome?
RB: Nenhum nome, nem com o revólver na cabeça. Meu objetivo não é dedurar ninguém é acabar com a prática. dar a ela mais transparência.

Jornalista: Mas não precisa mostrar alguns casos?
RB: Tem caso de gente que até já morreu. por que que adianta citar?

Jornalista: Mas o senhor tem conhecimentos de deputados aqui nesta Casa que exerçam essa prática?
RB: Neste ano, nesta legislatura, nenhuma. Os meninos que chegaram agora. Metade da Assembleia tomou posse há seis meses.

Jornalista: E a outra metade?
RB: A outra metade alguns deles, não a outra metade toda dentre os quais eu me incluo, desde 2005 se utilizam das emendas. Uns bem, outros, mal. E a emenda é um mal.

Jornalista: Então ajuda a gente entender melhor como funciona esse esquema. O senhor falou que tem empreiteiras que comercializam… o senhor pode detalhar?
RB: Tem várias maneiras. Isso é igual camelô. Cada um vende de um jeito. O que está errado. O que vocês tinham que ajudar o país, a sociedade e o povo de São Paulo, é acabar com a emenda. Qual a utilidade da emenda? Por que ter emenda? Como ela surgiu? Qual a vantagem? Ou para o governo ou para a população que o deputado tenha emenda? Aqui são 94 e em Brasília são 513.

Jornalista: O senhor não acha que vai frustrar. Que vai passar aquela imagem ruim da Casa? Ninguém vai ser responsabilizado?
RB: Eu acho que estou fazendo um bem para a Assembleia. Que eu estou defendendo a Assembleia, coisa que outras pessoas deveriam fazer. Está ouvindo? Eu acho que eu estou defendendo a Assembleia.

Jornalista: O senhor é favor que acabe essas emendas ou dê transparência?
RB: Transparência seria um atenuante. O ideal para o povo de São Paulo e para o próprio governador, seria uma maravilha acabar com emenda.

Jornalista:
O que o senhor acha da instalação do conselho de ética ou CPI?
RB: Quem é contra o governo enxerga o que não existe, quem é favor, finge que não viu. Conselho de Ética já é diferente. É um número menor, mais reduzido, mais bem escolhido.

Fonte: Folha de S.Paulo e Folha.com