Osmar Júnior: “Quem apoia quem só será decidido no próximo ano”
Em entrevista ao jornal O Dia, o deutado federal Osmar Júnior (PCdoB-PI) fala sobre as eleições 2012 e a meta do PCdoB de ter candidaturas próprias nas 25 cidades do estado. Confira a íntegra da entrevista.
Publicado 28/09/2011 19:49
Ele já foi líder estudantil. A militância foi a porta de entrada para se eleger vereador de Teresina. Sua atuação lhe rendeu a ocupação do cargo de vice-governador durante o primeiro governo Wellington Dias (PT). A partir de 2007, Osmar Júnior (PCdoB) assume o mandato de deputado federal, dedicando- se a apoiar o governo Lula nos grandes projetos: políticas sociais que reduzem a pobreza, melhores salários e investimentos em educação.
Recentemente foi eleito um dos parlamentares mais influentes no Congresso Nacional. Tem se dedicado a destinar emenda para a construção da Vila Olímpica de Parnaíba e o Centro Olímpico de Teresina. Como líder do Governo na Câmara Federal, o comunista acredita no desafio de convergir prioridades entre os parlamentares para conseguir a aprovação dos projetos do Governo Federal. Em relação às eleições de 2012, o parlamentar apresenta a meta do seu partido: ter candidaturas próprias em 25 cidades do Piauí.
Em entrevista ao jornal O Dia, Osmar Júnior, fala sobre seus projetos, as dificuldades de articular com os líderes do Congresso e a meta de viabilizar a construção de um Centro Olímpico em Teresina. Para as eleições de Teresina, o líder congressista enfatiza que manterá a aliança com o PSB, partido do governador Wilson Martins, e evita fazer qualquer tipo de conjectura com outras siglas. Em relação ao rompimento de alguns membros do PT com o Governo do Estado, Osmar Júnior é direto ao afirmar que Wilson Martins é o comandante do grande navio que é a base aliada do Governo e, portanto, deve evitar que as “ondas” o afundem.
Confira a entrevista:
O Dia: Que projetos o senhor tem dado prioridade em sua atuação parlamentar nacionalmente?
Osmar Júnior: No âmbito nacional, trabalhamos as bandeiras do Governo da presidente Dilma, já que integro o colégio de líderes do Governo e isso tem nos ocupado bastante. São projetos que permitam o Brasil a enfrentar a crise financeira. E destaco a política do salário mínimo, começamos com a definição da política de enfrentamento do mercado externo, apresentando o programa Brasil Maior, que busca tornar a economia brasileira mais competitiva.
Há um desdobramento com as medidas que agora ajustam a capacidade da indústria brasileira ao mercado externo. Então temos nos centrado nisso, que é a crise no país e as formas de enfrentá-la. Nós vamos sair com um novo projeto do Governo na área energética. A União tem todo interesse de fortalecer o programa de biocombustíveis, especialmente o etanol.
E o etanol é um produto genuinamente brasileiro, mas o Nordeste, que foi o grande celeiro da cana de açúcar, terminou ficando de fora, não sendo o protagonista do programa nacional. Queremos trabalhar para que o Nordeste, especialmente o Piauí, possa participar desse programa de biocombustíveis.
Também temos focado nossa atuação em uma melhor distribuição dos recursos para todos os entes federativos, como através dos royalties do petróleo do pré-sal. Acredito que vamos chegar a um entendimento que garanta uma distribuição mais justa do dinheiro que é de todo o país. Por fim, a regulamentação da Emenda 29, que deixa claro as responsabilidades que cabem aos municípios, estados e à União quanto aos gastos com saúde, que é o problema mais grave enfrentado pela sociedade brasileira.
O Dia: Que tipos de projetos podemos esperar para o Piauí?
Osmar Júnior: O primeiro está vinculado ao programa nacional, que é o pré-sal, com repercussão no Estado. Também a ação necessária do Governo Federal na área de energia, gás e petróleo. Pela primeira vez, o Piauí vai participar de um leilão para a contratação de empresas para a exploração de gás. Também temos dado atenção especial à área dos esportes, que é importante para o país. O povo ainda não tem as condições para a prática dos esportes.
Porém, nos últimos anos, o país está mudando essa concepção e o Piauí precisa participar disso. Temos recursos aplicados na construção de diversos centros esportivos espalhados pelos municípios piauienses, sejam quadras, ginásios, academias e estádios de futebol. Agora, estamos dando prioridade à Vila Olímpica de Parnaíba, que será fundamental, e o Centro Olímpico de Teresina.
O Dia: Inclusive, para a elaboração do projeto, o senhor tem reunido diferentes entidades esportivas…
Osmar Júnior: Estamos em fase de elaboração dos termos de referência e serão quatro modalidades que integrarão o Centro Olímpico de Teresina: judô, atletismo, badminton e natação. Porque são estas que possuem potencial no Estado e que podem ter nomes competitivos para as Olimpíadas de 2016. Por isso, esperamos que logo tenhamos esse centro de referência para que os esportes sejam colocados em prática.
O Dia: Como tem sido o trabalho do senhor nesse processo de articulação dos partidos, já que é líder do PCdoB na Câmara Federal?
Osmar Júnior: O colégio de líderes é um espaço privilegiado para esse tipo de negociação. A regulamentação da emenda de 29 é um exemplo disso. Foi aprovada há 11 anos pelo Congresso e define as responsabilidades dos municípios, estados e União. Mas até hoje não tinha uma forma de execução. Mesmo escrito, era preciso dizer como o que está no texto deve funcionar.
A participação dos líderes foi fundamental para construir o acordo para colocar na pauta depois de 11 anos e depois aprovar. Foi aprovado e agora volta para o Senado que terá que discutir e votar e, depois disso, teremos um marco regulatório no que se refere às matrizes de responsabilidades nos estados, municípios e União. São atuações decisivas.
O Dia: Recentemente, o senhor, juntamente com o senador Wellington Dias (PT), foi escolhido como um dos parlamentares mais influentes do Congresso. A que se deve essa avaliação?
Osmar Júnior: Eu credito isso ao trabalho de articulação que temos feito. O Congresso tem mais de 600 parlamentares e é claro que os assuntos não são discutidos por todos ao mesmo tempo. Eu tive o privilégio de estar nesse espaço, integrando esse grupo que de forma mais efetiva, permanente e cotidiana está construindo as soluções.
O Dia: Porque tamanha morosidade para definir, por exemplo, a regulamentação da emenda 29. O que acontece de fato com os legisladores?
Osmar Júnior: É uma questão de prioridade. Para se conseguir a aprovação de uma lei, de um projeto, é preciso costurar um grande acordo, ou seja, construir uma maioria. Por isso, o nosso papel é fazer com que o tema seja encarado pelos senadores e deputados como prioridade.
E isso não é natural, visto que cada um acha que as suas prioridades não são necessariamente a prioridade da maioria. Construir um acordo em que todos caminham na mesma direção não é difícil. A morosidade ocorre pela impossibilidade de construir convergências.
O Dia: O deputado Marcelo Castro (PMDB) foi cotado para ocupar um ministério da presidente Dilma. Não foi a primeira vez que piauienses foram cotados, mas acabaram sendo preteridos. Qual sua opinião sobre isso?
Osmar Júnior: Eu não encaro como falta de prestígio. Porque o Piauí é um estado com população relativamente pequena, comparado a outros estados como o Maranhão, Ceará e Bahia, portanto, não podemos dizer que estamos sendo preteridos. Mesmo assim, sempre tivemos ao longo da história participações importantes em ministérios e no Congresso Nacional.
A ocupação de qualquer cargo depende das circunstâncias, ou seja, estar alinhados a elas. O deputado Marcelo foi indicado pelo PMDB, mas ele tinha uma série de conjunções das próprias lideranças do partido e da presidente Dilma. Ele é um quadro valoroso, tendo todas as condições para ser ministro, mas eu não credito a não nomeação à preconceito. O momento que não era adequado.
O Dia: Quais as metas do PCdoB para as eleições de 2012?
Osmar Júnior: O Diretório Estadual do PCdoB pretende lançar candidatura própria em 25 municípios. Algumas cidades estratégicas são Piracuruca, Nossa Senhora de Nazaré, Sigefredo Pacheco e Altos. Mas é preciso lembrar que não é o momento para discutir eleição. Ninguém tem apresentado propostas para Teresina, o que tem sido o nosso foco: discutir os problemas das cidades.
O Dia: O senhor esteve reunido com o governador do Estado, Wilson Martins (PSB), e na pauta estiveram aliança e articulações para as eleições de 2012. O acordo é manter a aliança já feita no Governo para viabilizar uma candidatura para a Prefeitura de Teresina?
Osmar Júnior: Temos uma aliança a nível de Governo do Estado. Queremos que essa aliança permaneça. Nosso assunto está sendo tratado dessa ordem. Essa aliança está dando certo e queremos que continue assim. Agora, quem apoia quem só vai ser decidido no próximo ano, porque não estamos tratando de candidaturas.
É preciso que se discuta a real necessidade da população de Teresina. Estabelecer prioridades na palavra é muito fácil. Construir acordos, convergências para transformar isso em prioridade de fato não só do prefeito, da Câmara e do meio empresarial, tem que haver um esforço coletivo e um nome para representar isso.
O trânsito da cidade de Teresina, por exemplo, é um grave problema que não foi prioridade de muitos anos. A cidade não foi preparada para seu próprio crescimento. Na eleição, o centro deve ser a discussão da cidade.
O Dia: Que nome, então, o senhor defenderia para uma candidatura à Prefeitura de Teresina?
Osmar Júnior: Primeiro acho que temos que levantar o assunto antes de dizer nomes. Mas é preciso que essa pessoa consiga sintetizar melhor as necessidades reais de Teresina envolvendo todos os setores. O candidato deve se comprometer em formar uma base sólida que foque no desenvolvimento da cidade. Eu deixaria o nome para tratar depois.
O Dia: As conversações existentes entre o PSB e o PSDB, que é oposição ao Governo, para as eleições de 2012, causariam algum impedimento de aliança para o PCdoB?
Osmar Júnior: Não estamos tratando de aliança nesse nível. Nós temos um diálogo permanente com todos, mas a nossa aliança se dá hoje dentro da aliança com o Governo. A aliança para a Prefeitura será somente depois de se estabelecer o que se quer fazer ou defender que a administração faça. Eu dialogo com todos os partidos. Vamos nos manter aliados ao governador Wilson Martins.
O Dia: Como o senhor se posiciona diante desse rompimento de alguns membros do Partido dos Trabalhadores (PT) com o PSB, após críticas ao governo Wellington Dias?
Osmar Júnior: Todos os grupos possuem divergências internas. O governador tem a responsabilidade de conduzir o grupo fazendo com que essas divergências não cheguem ao nível de rompimento. É igual um comandante de navio. É a responsabilidade do comandante no momento de tempestade assumir o leme e dar o rumo ao banco e não deixar que as ondas o levem.
O Dia: Mas vemos exemplos recentes que barcos aparentemente fortes afundaram…
Osmar Júnior: É porque não tinham comandante forte. Acredito no governador Wilson Martins. Ele foi capaz de ser candidato governando, o que não é fácil.
Fonte: Jornal O Dia, entrevista feita por Mayara Bastos