Rede Globo, o ópio do povo
Confesso que fiquei bastante estarrecida, surpresa, com bastante raiva, sem compreender o objetivo e o porquê do COREN-RJ ter participado da reportagem do programa Fantástico, da TV Globo, exibido em 18/09/2011. Por Enfermeira Rejane*
Publicado 26/09/2011 20:37 | Editado 04/03/2020 17:04
Não gosto de me precipitar em absolutamente nada, até para minimizar qualquer tipo de erros e injustiças que possa vir a fazer. Mas, analisando friamente a situação, cheguei à conclusão de que é praticamente impossível a direção de uma entidade, que está no meio de um processo eleitoral, precisando do voto da categoria, fazer uma matéria que aponte somente erros desses mesmos profissionais.
Conheço a direção do COREN-RJ e sei que durante anos de nossas vidas nos dedicamos a denunciar as mazelas, a falta de uma jornada de trabalho, o descaso com a saúde e com o atendimento à população, o assédio moral, a falta de condições de trabalho, a desumanidade com a categoria, enfim a realidade nua e crua que nós sabemos, por sentirmos na pele e na alma todo esse descaso. Então qual teria sido a motivação para a produção daquela matéria?
Cheguei à conclusão, após assistir diversas vezes, que o material da reportagem, com a chamada Cursos de má qualidade ameaçam vida de pacientes, que realmente havia sido editada. Seu objetivo não era atingir essa ou aquela chapa do processo eleitoral do COREN-RJ, até porque isso não interessa a direção da emissora. Certamente, seu objetivo era abordar sobre a privatização da saúde pública no Brasil.
Já há algum tempo que em Brasília se discute a questão da regulamentação da Emenda Constitucional nº 29, que trata sobre o financiamento do Sistema Único de Saúde (SUS). Não é admissível que investimento em restaurante popular e despoluição da Baia de Guanabara sejam considerados gastos em saúde. Então de onde sairá o recurso para a sua aplicação, de onde teria gordura para queimar, já que o Governo da presidenta Dilma Rousseff nunca teve a intenção de criar um novo imposto, como a extinta CPMF?
Ora, com certeza, das grandes fortunas repassadas à grande mídia, como as Organizações Globo, fortunas essas gastas em campanhas como a dengue, sobre determinadas agendas do governo, enfim, muito dinheiro, que poderia financiar uma saúde pública de qualidade, universal, igualitária para todos os cidadãos do nosso país. Portanto, se a saúde é publica, mas não tem de onde sair o recurso para mantê-la, a alternativa apresentada é a privatização da saúde.
Para falar sobre a sua mazela, o seu sucateamento, a Rede Globo acha outro bode expiatório para bater, além dos médicos, é claro. Bate na enfermagem, aquela que segura esse sistema, que fica 24 horas, 365 dias do ano dentro dessas unidades. Uma categoria que chega a tirar o pouco dinheiro, que já não tem no bolso, para comprar o remédio, pagar a passagem, o alimento de um usuário que lá está precisando do apoio e da solidariedade. Bate nesses muitos anônimos da enfermagem, com a simples meta de tentar manter seu lucro.
Editou bem a matéria que, a princípio, teria a intenção de divulgar nossas dificuldades, mostrar o quanto sofremos. Seria a oportunidade do atual presidente do COREN-RJ, que durante tantos anos esteve à frente do sindicato, na luta da categoria, relatar todo esse descaso com uma classe de mais de 1,5 milhão de profissionais.
Vamos pensar e raciocinar: é normal termos a primeira reação de raiva e indignação, mas a realidade é nua e crua, principalmente quando começamos a reagir, termos voz nas instituições de poder, visibilidade para mostrar quem realmente são os responsáveis e culpados pela saúde estar desse jeito.
Vamos reagir. Podemos ser frágeis, no entanto, somos muitos, e juntos ninguém vai nos calar. Vamos continuar nossa luta. Processar a Rede Globo, se for preciso, exigir direito de resposta. Vamos continuar em frente, lutando pela igualdade, lutando por um mundo mais justo sempre!
*Deputada Estadual do PCdoB/RJ e membro da Comissão de Saúde da Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (ALERJ).