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Bancários iniciam greve nacional nesta terça-feira 

Os bancários de todo o país iniciam greve por tempo indeterminado a partir desta terça-feira (27). Estão programadas assembleias de sindicatos da categoria de todo o país, nesta segunda (26), para avaliar a nova proposta apresentada pelos bancos. A expectativa é de que se definam detalhes da paralisação, já que os termos oferecidos desagradaram o Comando Nacional dos Bancários, que coordena a campanha salarial.

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Na sexta-feira (23), a Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf) rejeitou a proposta de reajuste de 8% apresentada pela Federação dos Bancos (Fenaban). Ela representa apenas 0,56% de aumento real. Com data-base em 1º de setembro, a categoria reivindica 12,8% de reajuste (5% acima da inflação). A proposta também não contempla a valorização do piso da categoria nem da participação nos lucros ou resultados (PLR) da forma desejada pela categoria.

Além do reajuste, a categoria pauta maior participação nos lucros, valorização do piso, fim da rotatividade, mais contratações, fim das metas abusivas, combate ao assédio moral, entre outros itens. A pauta foi entregue em 12 de agosto. “Desde o início apostamos no processo de negociação, mas com essa nova proposta vamos intensificar a mobilização da categoria em todo o país para realizar uma greve ainda mais forte, a fim de arrancar dos bancos uma proposta decente”, disse o presidente da Contraf, Carlos Cordeiro.

A greve irá estender-se tanto a bancos privados como públicos. No caso da Caixa Econômica Federal e do Banco do Brasil, não foram realizadas mesas de negociação na sexta (23). Enquanto a Caixa cancelou o encontro, o BB não chegou a marcar data para retomar as conversas. Ambos informaram que pretendem seguir os parâmetros definidos com a Fenaban. As assembleias estão marcadas para as 19h na maior parte das bases do país.

Segunto o diretor do Sindicato dos Bancários da Bahia Augusto Vasconcelos, a expectativa que toda a categoria entre em greve: "a tendência é as assembléias apontem para decisão unânime", avalia o sindicalista. 

Embromação

Diante da decretação da greve, a Fenaban procurou protelar o confronto. Em nota oficial, a instituição manifestou a intenção de continuar negociando. “Após avaliação da nova proposta pelos bancários, as partes devem marcar novo encontro para dar prosseguimento aos acertos visando a renovação da convenção coletiva de trabalho”, diz a nota. O sindicalismo bancário, porém, acusa os banqueiros de intransigência e de embromação.

Segundo Augusto Vasconcelos, o canal de negociação continua aberto. "Os sindicatos sempre estiveram dispostos a negociar, o problema é que a negociação deve ocorrer em bases sérias, e não com uma proposta risível de 0,56%, que não condiz com o grau de lucratividade que os bancos tiveram", declara o bancário.

Numa das reuniões entre as partes, o negociador da Fenaban chegou a dizer que a categoria não tem do que reclamar, que ela “há muito tempo recebe aumento real”. Os banqueiros também culparam a “crise mundial” para justificar a sua recusa em atender as demandas dos trabalhadores.

“Os negociadores do setor afirmaram que os bancários estão há sete anos com aumento real e tiveram reajuste ‘extraordinário’. O recado foi de que não devemos esperar nada parecido neste ano. Além de não apresentar propostas, eles alegam que o salário do bancário cresceu demais. Isso é inaceitável diante dos ganhos dos bancos”, contesta Juvandia Moreira, presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo. A lucratividade do sistema financeiro cresceu 550% nos últimos oito anos – de R$ 34 bilhões, nos dois mandatos de FHC, para R$ 170 bilhões nos dois governos de Lula. No mesmo período, os bancários tiveram apenas 56% de reajuste salarial. No primeiro semestre deste ano, todos os bancos voltaram a bater recordes de lucratividade.

Descompasso

O Bradesco anunciou R$ 5,4 bilhões de lucro, 21,7% a mais do que o mesmo período de 2010. O Banco do Brasil, R$6,2 bilhões; a Caixa Econômica Federal, R$1,7 bilhões; Itaú Unibanco, R$ 7,1 bilhões; e o Santander, R$ 4,1 bilhões (25% do seu lucro mundial). No outro extremo, os bancários não recebem reajustes salariais que acompanhem este crescimento de lucratividade e o ritmo pesado de trabalho e o assédio moral são constantemente denunciados pelos sindicatos da categoria.

Segundo estudo da própria Fenaban, o total de operações realizadas pelo sistema financeiro cresceu 85,6%, entre 2000 e 2006, passando de 19,8 bilhões de operações para 36,7 bi. No mesmo período, a rede de atendimento dos bancos cresceu 148 % e a de correspondentes bancários, 431,9 %. Ou seja: os bancários trabalham muito mais, mas não são compensados no salário.

Os bancos ainda se utilizam da tática de rotatividade no emprego para rebaixar salários. Estudo do Dieese mostra que 65% das contratações no primeiro trimestre ficaram concentradas entre 2 e 3 salários mínimos; já 75,44% dos dispensados recebiam salários acima de quatro mínimos. Os bancos demitiram 8.947 trabalhadores e contrataram 6.851 com salários mais baixos. A maioria dos novos contratados (70%) é de jovens entre 18 e 24 anos. E as mulheres são as maiores vítimas da gula dos banqueiros. Nos primeiros três meses do ano, a diferença de remuneração média entre homens e mulheres aumentou para 24%.

Da redação, Luana Bonone, com Rede Brasil Atual e Blog do Miro