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SP: coletivo debate pós-modernidade, tensões e contradições

O Coletivo de Cultura (órgão de artistas e intelectuais ligados ao Comitê Distrital do PCdoB do Centro de São Paulo, SP) reuniu-se dia 6 de setembro para iniciar um ciclo de estudos sobre a contemporaneidade. A ideia é estudar as problemáticas trazidas pelo momento histórico atual, à luz do marxismo, além de investigar, propor e concretizar formas de ação política, social e cultural.

O primeiro tema da série de estudos foi “Pós-modernidade, Cultura e Educação: tensões e contradições”. O debate foi precedido de uma apresentação realizada por José Carlos Ruy (editor da Classe Operária, jornalista do Portal Vermelho e pesquisador) e Fábio Wolf (educador e doutorando da PUC-SP em Educação e Linguística).

A apresentação de José Carlos Ruy

As teses da “pós-modernidade” não são novas, mas estão enraizadas na tradição do pensamento burguês e sua ênfase no indivíduo e no particular. Elas se tornaram hegemônicas a partir da década de 1970 no contexto das mudanças vividas provocadas pela crise do capitalismo que se aprofundava e das mudanças conservadoras, neoliberais, que responderam a ela. Hegemonia que se aprofundou principalmente depois da crise do socialismo no leste europeu. “O pós-modernismo, como um modismo cultural, é paralelo à hegemonia do neoliberalismo e corresponde a ela”, disse ele. É uma “atitude intelectual” que emergiu em oposição ao marxismo. Fundamentada apenas na análise do discurso, ressalta a multiplicidade e a fragmentação, desprezando a ciência e rompendo com o materialismo, abrindo caminho para um “vale tudo” generalizado, para um relativismo radical, e para um apoliticismo que rejeita qualquer possibilidade de ação concreta para alterar o rumo da história e mudar a sociedade.

A apresentação de Fábio Wolf

A apresentação seguiu com Fábio Wolf, por sua vez, explicou que o termo pós-Modernidade surgiu em meio a um estado nebuloso e sem consenso, mas que afeta diretamente nossa cultura. Baseando-se no livro do geógrafo brasileiro Milton Santos Por uma outra globalização, ele citou três formas de globalização: a perversa, a fabular e a globalização como possibilidade.

Comentou também a falácia apregoada no reino da pós-modernidade segundo a qual as novas tecnologias da informação estariam a disposição e para o bem de todos, o que não é verdade. Explicou também que o multiculturalismo, outra ideia-chave do pensamento pós-moderno, é falsamente apresentado como um ideal de convivência entre diversas culturas. “Mas é uma ideia plena de contradições, uma vez que qualquer identidade ou diferença, nos termos atuais, somente se torna válida se convertida em mercadoria”, disse, enfatizando o caráter de mercadoria atribuído aos produtos culturais.

O debate

O debate que se seguiu às exposições de Ruy e Fábio, convergiu para a constatação de que o pensamento dominante, cognominado “pós-moderno”, é a-histórico e pugna a morte das ideias e dos ideais de coletividade, da possibilidade de conhecimento e transformação do mundo. Portanto, salta de cabeça no irracionalismo e na mistificação.

Diversos artistas e intelectuais, mergulhados nessa falta de perspectivas, dizem que o sonho acabou e defendem que cada um deve cuidar do seu próprio umbigo, sendo a história “demodê” e a política “suja, da qual todos nos devemos afastar”.

Assim, igualam socialismo a autoritarismo, apregoam uma despolitização da sociedade e dos indivíduos neste mundo que se tornou um grande mercado que beneficia os privilegiados, contra os excluídos, que são os que mais sofrem os efeitos das crises do sistema.

Desde que sopram os ventos pós-modernos neoliberalizantes, o sentimento de classe dos explorados tem sido desfeito e o sentido de coletivo tomado com menosprezo. Todos passaram de “cidadãos” a “consumidores” e os direitos sociais básicos como Saúde, Educação, Moradia e Cultura, entre outros, passaram a ser vistos e tratados como “produtos” ou “mercadorias”.

O debate ainda observou que, no plano mais simbólico, há uma campanha permanente e agressiva, principalmente nos meios acadêmicos, intelectuais e midiáticos, de desmoralização dos movimentos transformadores, da memória das lutas dos trabalhadores e das revoluções ocorridas, e há um profundo vazio criado com a ideia de que não há mais celebração utópica. O “eu”, o indivíduo-consumidor, lançado aos céus pelo incentivo ao consumismo desenfreado, é tentado a se fechar em seu universo sociofóbico impedindo que se compreenda como é que se chegou ao pior dos mundos: um mundo de violência, de mobilidade urbana aviltante, de precarização de todas as relações, de acesso difícil aos direitos fundamentais, de injustiça e de profundo egoísmo.

Nessa dimensão dita “pós-moderna”, a noção de percepção da realidade objetiva é suprimida no pensamento dominante. Como “a história acabou”, e isso também é somente um discurso, todo problema é um problema de linguagem. Então, para eles, o melhor é que o nevoeiro teórico de espalhe e que a visão de todos continue turva.

Por Mazé Leite