Câmara homenageia a física Amélia Império Hamburger

No próximo dia 26 de setembro, a Câmara Municipal de São Paulo entregará a Medalha Anchieta e o Diploma de Gratidão da Cidade de São Paulo, “in memoriam”, à professora e doutora da USP, Amélia Império Hamburger, por relevantes serviços prestados à comunidade. O Decreto Legislativo 34, de 21 de junho de 2011, foi proposto pelo vereador Jamil Murad (PCdoB).

Amélia Império Hamburger nasceu em 12 de julho de 1932, em São Paulo, e participou ativamente da vida universitária e da pesquisa nas áreas de física nuclear e do estado sólido, história da física e da ciência, ensino de física e filosofia da ciência. Como professora da Universidade de São Paulo, contribuiu para o desenvolvimento da ciência e das entidades científicas da cidade e do Brasil. Faleceu aos 78 anos no último dia 1º de abril de 2011.

Biografia

Quando Amélia entrou na USP, em 1951, o curso de Física fazia parte da então Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, na Rua Maria Antonia. A vida intelectual e política na faculdade era intensa. Amélia participou do movimento estudantil, integrando o Grêmio da FFCL, onde conviveu com estudantes e professores de outras áreas. Na faculdade, conheceu Ernst Wolfgang Hamburger com quem se casou logo após a formatura. Juntos foram fazer pós-graduação nos Estados Unidos.

Formada em 1954 no Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP), fez mestrado na Universidade de Pittsburgh (1957/1959), onde trabalhou com física nuclear experimental no antigo acelerador ciclotron. Fez ainda estágio avançado (1965/1967) na Universidade Carnegie Mellon, também em Pittsburgh, onde publicou trabalho em física do estado sólido.

De volta ao país, foi uma das fundadoras da Sociedade Brasileira de Física, instituição de importante atuação no debate sobre questões fundamentais da sociedade brasileira, desde a luta contra a ditadura militar e pela democracia até questões ligadas à pesquisa nuclear e energética. Em 1969 a SBF foi presidida, na prática, pelo seu secretário-geral Ernst W. Hamburger, em razão das prisões e aposentadorias impostas aos cientistas. Os dois se mantiveram ativos na solidariedade a amigos, colegas e alunos perseguidos pelos militares.

Em 1970, Amélia e seu marido foram presos e processados pelo regime militar. A prisão gerou protestos de cientistas no Brasil e no mundo, que possivelmente contribuíram para a soltura de ambos.

Apesar da prisão e da tentativa de controle ideológico das universidades, do clima de terror e atos de violência e prisões arbitrárias, Amélia manteve seus ideais progressistas. Foi diretora da Associação dos Docentes da USP (Adusp) e, mais recentemente , membro do Conselho da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).

Amélia foi ainda professora do Instituto de Física da USP por mais de 40 anos, participando também do Instituto de Estudos Avançados (IEA), onde iniciou a organização da obra científica de Mário Schenberg, cujo primeiro volume, publicado em 2009, lhe valeu o prêmio Jabuti em 2010 na categoria Científica.

Amélia trabalhou também na preservação da memória científica. Organizou os arquivos históricos do Instituto de Física da USP e publicou dois livros sobre a história da Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo: Fapesp 40 anos – Abrindo Fronteiras e Fapesp, uma história de política científica e tecnológica, em parceria com Shozo Motoyama e Marilda Nagamini. Ainda na área de história da ciência publicou A ciência e as relações Brasil-França 1850-1950, resultado de seu trabalho com o professor Michel Paty, da Universidade de Paris VII, onde foi pesquisadora visitante em 1988.

Após a morte precoce de Flávio Império – artista múltiplo, arquiteto, cenógrafo, artista visual, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP – Amélia se dedicou também a conservar e divulgar o trabalho do irmão, fundando junto com Renina Katz, Mauricio Segal, Modesto Carvalhosa, Maria Theresa Vargas, entre outros amigos, a Sociedade de Cultura Flávio Império. Nessa qualidade publicou com Renina Katz o livro Flávio Império (Edusp, 1998) e impulsionou diversas exposições sobre o seu trabalho.

Amélia viveu uma vida original e significativa. Sua contribuição para o debate de ideias, para a formação de pesquisadores e para o desenvolvimento da ciência inspira a homenagem póstuma da Câmara Municipal, que com esta e outras ações semelhantes, de valorização de cidadãos atuantes, procura aprofundar a presença do legislativo municipal no cotidiano da cidade.

Serviço:

Sessão Solene da Câmara Municipal de São Paulo para entrega da Medalha Anchieta e Diploma de Gratidão da Cidade de São Paulo
Local: Salão Nobre do Palácio Anchieta – Viaduto Jacareí, 100, 8º andar
Dia 26 de setembro de 2011, segunda-feira, às 19h
Oradores convidados: Maria de Lourdes Montes; Ana Maria Almeida Carvalho; Olival Freire Jr.; Sílvio R. Salinas; Alfredo Bosi e Fernando Henrique Cardoso.

Mais informações: gabinete do vereador Jamil Murad – 3396-4390