Mais de meio milhão de pessoas protestam no Chile
Cerca de 600 mil pessoas saíram às ruas do Chile na quinta-feira (25) no segundo e último dia de greve geral no país, convocada pela Central Unitária de Trabalhadores (CUT). Ao longo da jornada, houve intensos confrontos entre policiais e manifestantes, com dezenas de feridos.
Publicado 26/08/2011 07:41
Assim como no primeiro dia de greve, após os panelaços em apoio às reivindicações sindicais e estudantis ocorridas em Santiago e em outras cidades, houve enfrentamentos entre as forças repressivas e os manifestantes.
A rádio Bíobio informou durante a noite de quinta que, em várias zonas periféricas da capital, foram ouvidos tiros, enquanto centenas de trabalhadores tiveram de voltar para casa a pé devido à paralisação do transporte público.
Horas antes desses incidentes, o governo indicou que os protestos desta quinta-feira congregaram 175 mil pessoas em todo o país, mas a CUT cifrou em 600 mil o número de manifestantes que se mobilizaram em nível nacional.
O balanço oficial foi divulgado pelo subsecretário do Interior, Rodrigo Ubilla, no Palácio de La Moneda (sede do governo). Ele destacou que os incidentes deixaram 25 policiais e um civil ferido, mas não detalhou se todas essas vítimas correspondem aos enfrentamentos registrados na capital chilena. Em relação ao número de presos, Ubilla afirmou que a polícia prendeu 210 pessoas em todo o Chile, 140 delas na região metropolitana de Santiago.
A greve de 48 horas foi convocada pela CUT sob uma plataforma de reivindicações que vão desde reformas constitucionais até um aumento de impostos para as empresas, além de um fundo de previdência estatal e mais recursos para saúde e educação.
De manhã, os estudantes chilenos, mobilizados desde maio passado para reivindicar educação pública e gratuita e melhorias no ensino, apoiaram as passeatas organizadas pela CUT. A presença juvenil predominou de forma notória nas marchas, que em Santiago confluíram desde quatro pontos rumo a uma intersecção central da Alameda Bernardo O'Higgins, principal artéria viária da cidade, de forma pacífica e em um ambiente festivo.
As passeatas foram marcadas por situações anedóticas, como a presença de um grupo de prostitutas que carregavam um letreiro com os dizeres "Piñera não é nosso filho".
O ministro do Interior, Rodrigo Hinzpeter, refletindo a posição reacionária do governo direitista de Sebastian Piñera, afirmou nesta quinta-feira à imprensa: "Esta greve não significou nenhum benefício para nosso país, mas muito pelo contrário, causou muita dor e sofrimento para muitos compatriotas, um retrocesso interno na imagem externa de nosso país".
Já o presidente da CUT, Arturo Martínez, afirmou em entrevista coletiva que, como entidade sindical, os trabalhadores têm "a esperança de que o governo, depois deste golpe que recebeu, consiga refletir e se abra ao diálogo para buscar uma saída à atual situação".
Por sua vez, a presidente da Federação de Estudantes do Chile (FECH), Camila Vallejo, que também participou da passeata junto aos estudantes, disse: "se o governo quer diálogo, tem de nos reconhecer como contraparte válida".
O presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Daniel Iliescu, também participa desde a madrugada da última quinta-feira (25) da agenda de paralisação nacional chilena. Durante uma marcha que reuniu cerca de 250 mil pessoas, em Santiago, na manhã desta quinta-feira (25), o representante dos estudantes brasileiros foi convidado por Camila a discursar. Daniel ainda acompanhou a presidente da Federação dos Estudantes Chilenos durante todo o dia de mobilização.
Assembleia Constituinte
Historiadores chilenos respaldaram o chamamento a uma Assembleia Constituinte reiterado pelo povo nas mobilizações, que abriram um momento novo da história do país.
Os acadêmicos explicaram que o que nasceu como um movimento estudantil e de aparência setorial tornou-se um movimento social, de caráter revolucionário antineoliberal.
Destacaram nesse sentido como as ruas e praças ao longo do Chile se transformaram nas artérias onde fluem milhares de cidadãos demandando mudanças substanciais no paradigma econômico, no caráter e papel do Estado e na institucionalidade do país.
Os acadêmicos escreveram um manifesto defendendo a unidade do movimento de protesto e instaram a que este movimento não seja visto como algo simplificado e unicamente conjuntural com relação ao atual governo da direita no Chile. Pedem para que se tenha clareza de que o país vive um momento de um processo histórico em que a vontade popular de mudar o modelo social e político tornou-se algo transcendente.
Assinam o manifesto os historiadores Karen Alfaro, Fabián Almonacid, Pablo Artaza, Mario Garcés, Sergio Grez, Angélica Illanes, Alexis Meza, Ricardo Molina, Julio Pinto, Gabriel Salazar y Verónica Valdivia.
Com agências