José Borzacchiello da Silva: Mobilidade urbana
O trânsito em Fortaleza paralisa a cidade. Nos horários de pico é impossível um deslocamento rápido, mesmo que emergencial. São poucas as novas artérias capazes de reestruturar o setor de transporte de massa. A população cresceu, ocupou vasta porção do território da cidade. A infraestrutura, ao contrário, é atrofiada face às demandas do cotidiano.
Publicado 10/08/2011 09:21 | Editado 04/03/2020 16:31
Em meio a tantos problemas, o tema da mobilidade urbana ganhou visibilidade. Fluir na cidade com facilidade, com o máximo de conforto e o mínimo de desgaste físico, é o ideal quando se discute o transporte nas grandes aglomerações urbanas. As metrópoles são complexas na sua estrutura o que impõe sérios entraves à circulação. Barreiras físicas, parcelamento e uso do solo, adensamento, constituem alguns dos entraves à mobilidade. A natureza não impediu a expansão de Fortaleza. Assentada em área plana, pode crescer em várias direções.
Já as grandes estruturas e enormes equipamentos geraram fortes entraves à cidade. Porto, aeroporto, linhas férreas, estação rodoviária, quartéis, super-mercados, loteamentos fechados foram sendo construídos sem a observação das necessidades de deslocamento.
A cidade pequena e pobre demorou a perceber seus problemas estruturais. O acentuado crescimento demográfico, a extensão e elasticidade da periferia, especialmente a metropolitana associada à formação recente de um segmento mais expressivo de classe média, agravou, de forma sensível, a mobilidade em Fortaleza.
Antigos caminhos como os do Soure, Arronches, Macuripe e Messejana abriam um leque de vias que atraia tudo para o centro da cidade. Hoje são as avenidas Bezerra de Menezes, José Bastos, João Pessoa, Aguanambi, Abolição que reforçam a centralidade do núcleo matricial da cidade. As novas centralidades não favoreceram os deslocamentos. As linhas de ônibus, de alcance metropolitano, atravessam a cidade para chegar ao Centro. Os trilhos de carga receberam trens de passageiros. Recentemente, transforma-se em sistema metroviário, seguindo um traçado que reforça a ligação periferia centro. Não haveria problema se terminais de integração, organizassem e gerenciassem os fluxos.
A classe média diante das dificuldades de deslocamento tirou proveito do crédito fácil e encheu a cidade de automóveis. A instalação exagerada de sinais luminosos engessa o trânsito. Os problemas de gestão se agravam. As operações de carga e descarga permanecem ou se instalam em locais inadequados. Serviços educacionais e hospitalares, grandes geradores de fluxo e refluxo de pessoas e veículos, tornam o trânsito da cidade insuportável. Fortaleza clama por uma mobilidade satisfatória com a melhoria das condições dos transportes públicos.
José Borzacchiello da Silva é geógrafo e professor da Universidade Federal do Ceará
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