Redução da pobreza e da desigualdade ainda é frágil, diz Ipea
Apesar dos avanços sociais conquistados no Brasil ao longo do governo Lula (2003-2010), a redução da pobreza e da desigualdade no Brasil ainda se assenta sobre bases frágeis. Segundo estudo divulgado na quinta-feira (4) pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), as mudanças foram puxadas pela oferta de empregos de baixa remuneração no setor de serviços e comércio.
Publicado 05/08/2011 11:25
Dos 2,1 milhões de novos postos de trabalho criados por ano na década de 2000, 95% pagavam até 1,5 salário mínimo (R$ 817,5). Enquanto isso, a cada ano foram eliminadas 397 mil vagas com salário de três mínimos ou mais. O fenômeno está ligado à mudança na estrutura da produção, afirma o presidente do Ipea, Marcio Pochmann. "Não é mais a indústria que comanda. São os setores de serviços."
Na década, esses setores geraram 2,3 empregos para cada vaga na indústria — a relação era de 1,3 nos anos 1970. Serviços e comércio respondem agora por 57,6% da ocupação, contra 42,6% nos anos 1980. Já a proporção da indústria e da construção civil (24%) não mudou.
"A sustentação dos êxitos recentes não depende só da qualificação da mão de obra. Para o longo prazo, é preciso ampliar a oferta de empregos que sejam de maior remuneração", diz Pochmann.
O estudo destaca que, em boa parte devido aos aumentos reais do mínimo, o crescimento do emprego concentrado na base salarial contribuiu para reduzir a fatia de pobres na população ativa, de 37,2% em 1995 para 7,2% em 2009. Na classificação do instituto, porém, a maior parte do contingente de novos assalariados foi engrossar o "nível inferior" da pirâmide social: "Não é mais pobre, mas tampouco de classe média".
Enquanto isso, a parcela que o Ipea classifica como de "nível médio" (combinando renda a fatores como escolaridade, consumo e moradia) se manteve em 32%. Os que vivem de lucro, juros, terras e aluguéis passaram de 3,9% para 14,3%.
O Ipea vê uma "polarização" entre as "duas pontas" com maior crescimento relativo na pirâmide: "os trabalhadores na base e os detentores de renda derivada da propriedade". Hoje, só 16,4% dos empregados ganham três mínimos ou mais, contra 28,7% em 2000 e 25,9% em 1990 (considerando valores atuais do salário). Para Pochmann, a estagnação do "nível médio" explica parte da redução no grau de desigualdade da distribuição da renda do trabalho, que foi de 10,4% entre 2004 e 2010 — índice inédito desde os anos 1960.
"A questão é como sustentar esse padrão”, diz o presidente do Ipea. “Se o salário mínimo não mantiver uma trajetória de crescimento, podemos ter postos com remuneração muito baixa, e com isso não termos capacidade de reduzir mais a pobreza e a desigualdade, que ainda é muito grande."
Da Redação, com informações da Folha de S.Paulo