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Manuela D'Ávila: A UNE

Desde 1999 participo dos Congressos da UNE (Conune), desde 2001 me faço presente. Esse Congresso reuniu mais de dez mil jovens de todos os estados do país em Goiânia. É uma atividade ímpar. Na praça universitária e em dezenas de salas nos prédios ao redor, centenas de jovens debatiam simultaneamente recursos para a educação, soberania nacional, comissão da verdade. Surgia ali também, num organizado improviso, a Marcha da Maconha. Eram ouvidos tambores do maracatu pernambucano. Mas a programação anunciava o show sertanejo que divertiria a (quase) todos na festa que encerraria aos trabalhos do dia.

Por Manuela D'Ávila*

Assim, com os sons, as roupas, as cores, os sotaques, os alimentos de um Brasil continental dez mil jovens debatem os rumos da maior entidade de representação juvenil.
Muitos rotulam: eles querem festa! Óbvio! São jovens universitários! Tem 20 anos de idade! Não parece razoável que frente à maravilhosa união de tantas diferenças, frente ao choque de tanto pertencimento, esses jovens queiram comemorar a vida?!

Outros rotulam: eles têm partidos! Sim, muitos têm partidos. Afinal, a luta nos movimentos sociais se confunde com a luta pela ocupação de espaços de poder. E partidos disputam poder. Aliás, a UNE fez parte das entidades que lutou pelo fim da ditadura. O período em que partidos eram proibidos. Qual problema de um jovem ter seu partido? Não os mesmos que dizem que a juventude é alienada?!?

Outros dizem: são governistas! E acaso por serem jovens devem sempre ser do contra? Quem foi que disse que a rebeldia da juventude não tinha causa? Estava errado! E ali tem de tudo. Governo e oposição. Mas parece razoável que, para ser representativo, o congresso traga uma proporcionalidade de representação da sociedade real. E se Dilma venceu as eleições não seria porque a maior parte da população a apóia? Em diferentes momentos de nossa história a juventude ficou contra ou a favor de governos.

Outros gritam: a entidade deve ser independente e por isso não poderia ter recebido dinheiro de estatais para seu congresso? Hein?! Qual relação entre patrocínio e opinião? Acaso os jornalistas e jornais defendem governos por exibirem anúncios gigantescos dessas estatais? Acaso a Veja defende o governo? Alhos e Bugalhos.

Viva a UNE dos debates, dos militantes, dos festeiros, do maracatu e sertanejo. Viva a UNE dos 10% PIB para educação, do Prouni e das Federais! Viva a UNE dos estudantes brasileiros! Da diversidade. De todos nós. A UNE que segue sendo a nossa força e a a nossa voz.

*Manuela D'Ávila é deputada federal pelo PCdoB-RS.

Fonte: UJS