Manuel Yepe: A Grécia é vítima do capitalismo
A Grécia, berço da democracia escravista, parece encaminhada a figurar entre os países chamados a cavar a já próxima sepultura da democracia capitalista.
Por Manuel Yepe*
Publicado 18/07/2011 16:38
“Para compreender o que o futuro prepara para o povo da Grécia, você debe imaginar que um intruso chega a sua casa, lhe aponta uma arma à cabeça e exige que lhe entregue seu salário, suas poupanças, seu carro, seu aparelho de televisão e sua geladeira”.
É assim que o escritor e jornalista estadunidense Zoltan Zigedy vê a situação da Grécia em seu sítio da internet ZZ´s Blog, onde, sob o título “Capitalism Mugs Greece. Who is Next?” (O capitalismo estrangula a Grécia. Quem será o próximo?), explica que o povo grego não se beneficiou em nada com os orgíacos lucros da banca internacional, nem estimulou sua conduta irresponsável e, a pesar de tudo, agora se esforça para pagar o preço dos danos causadores do colapso do sistema capitalista mundial.
“E se a invasão, o roubo armado e a extorsão são crimes, a Grécia é sem dúvidas a vítima de um crime. E a União Europeia, o Banco Central Europeu e o Fundo Monetário Internacional são os criminosos … com os líderes e parlamentares do Pasok tratando de legitimar o crime”.
Alimentado por uma forte injeção de fundos públicos, o setor financeiro do mundo capitalista desenvolvido, que não foi condenado nem castigado por suas ações que conduziram ao desastre que se pretendia reparar, retornou com força à especulação e agora ataca as dívidas soberanas de países como Grécia, Irlanda, Portugal e Espanha, os mais vulneráveis na Europa, forçando-os à conversão da dívida privada em dívida pública.
Con poucas exceções, estes países se viram obrigados a contrair maiores dívidas para estimular o crescimento econômico diante da severa queda do investimento e da demanda geral, em nível global. As economias capitalistas ficaram sem outra opção que não a de seguir afundando.
A fórmula para a recuperação em casos de recessão – que os economistas capitalistas apresentavam como lei universal – partia de que o déficit e os gastos geradores de dívidas promoviam o crescimento e a inflação que, por sua vez, incrementavam as receitas de impostos e barateavam a dívida, permitindo que a dívida pública fosse reduzida em relação ao produto econômico.
Hoje, segundo Zigedy, dois fatores mudaram esta dinâmica. Primeiro, a dominação quase total da ideología neoliberal foi conformando uma opinião de grande temor a qualquer grau de dívida pública. Em segundo lugar, durante décadas, as mudanças na economia global levaram a uma nova dinâmica que manipula e explora a dívida até limites nunca antes vistos. Com muitos dos países capitalistas ricos trasladando suas industrias manufatureiras a áreas de baixos salários, as atividades financeiras – administração, manipulação e expansão do capital – assumiram um maior papel nessas economias.
Novas técnicas, instrumentos e instituições evoluíram para acumulação de valor excedente – lucros – em mãos de uns poucos comprometidos com o jugo financeiro.
A combinação destes dois elementos – um subjetivo e outro objetivo – tem situado a Grécia numa espiral da morte. Com um desemprego em acelerado incremento que já ultrapassa 16%, os impostos que não são pagos, salários e benefícios cortados, um número crescente de famílias sem habitação e com seus serviços sociais limitados, os trabalhadores gregos encaram um futuro de grave decadência.
O povo grego conhece pouco dos exóticos instrumentos urdidos nos centros financeiros internacionais para gerar as maciças quantidades de capital fantasma que avivam o crescimento do rapace sistema e só indiretamente estão familiarizados com as arrogantes e irresponsáveis ações de gigantescos bancos internacionais como Bear Stearns, Lehmann Brothers e Goldman Sachs.
Zoltan Zigedy recomenda a seus compatriotas que vejam a semelhança que tem o assalto ao povo grego com a situação que a cidadania dos Estados Unidos enfrenta. “A resistência popular em Wisconsin, Ohio e outros estados devia inspirar-nos e reconhecer que o que temos pela frente é uma luta difícil, muito difícil, sem deixar-nos seduzir nesta luta por falsos aliados políticos como o partido democrata, homólogo nos Estados Unidos do Pasok grego”.
Está fora de dúvida que para toda a humanidade o colapso do sistema capitalista mundial não será nada fácil, porque ninguém duvida de que fará todo o possível para retardar a debacle descarregando sobre o resto do mundo, inclusive seus aliados, os prejuízos conjunturais.
*Jornalista cubano, especialista em Política Internacional
Fonte: Cubadebate
Tradução da redação do Vermelho