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Em Goiânia, SBPC debate o Cerrado e o desenvolvimento sustentável

Com mais de oito mil inscritos entre pesquisadores, docentes, profissionais liberais, gestores e estudantes do ensino médio à pós-graduação, começou, no último domingo (10), a 63º Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).

Por Fábio Palácio

Realizada em formato híbrido, mesclando conferências e debates com apresentações artísticas e feira de ciências, a atividade é considerada o maior evento científico não apenas do Brasil, mas de toda a América do Sul.

Este ano realizada em Goiânia (GO) – como parte das comemorações dos 50 anos da Universidade Federal de Goiás –, a reunião debate o tema central “Cerrado: água, alimento e energia”.

O Cerrado e o desenvolvimento sustentável

Segundo maior bioma do país, o Cerrado brasileiro ocupa uma área de mais de 2 milhões de km², abrangendo diversos estados de norte a sul, embora se localize predominantemente na região Centro-Oeste do país, no Planalto Central. Caracterizado pela sazonalidade pluviométrica, o bioma conhece duas estações bem definidas: o inverno seco e o verão chuvoso. Suas flora e fauna são endêmicas, e em seu solo se abrigam abundantes riquezas minerais. Entre elas destaque para a água: principal área de recarga do Aquífero Guarani, o Cerrado concentra as três maiores bacias hidrográficas da América do Sul (Tocantins-Araguaia, São Francisco e Prata). Por essas e outras peculiaridades, é um bioma único e particularmente importante para o desenvolvimento nacional.

Do ponto de vista econômico, o Cerrado é hoje a principal fronteira de expansão agrícola do país. Devido à intensa ocupação agropastoril, restam, segundo pesquisas, apenas 17% de áreas de vegetação nativa no bioma. Tendo em vista essa realidade, a SBPC propõe uma reflexão sobre a necessidade de desenvolver a região de forma sustentável, por meio de práticas capazes de promover a ampliação da produção agrícola com a conservação dos recursos hídricos e da biodiversidade cerradeira.

Sessão de abertura

Cerca de duas mil pessoas assistiram, na noite do último dia 10, à abertura da 63ª SBPC. Além da presidente recém-eleita da entidade, Helena Nader, compuseram a mesa da solenidade o ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), o prefeito de Goiânia, Paulo Garcia (PT) e o reitor da UFG, Edward Madureira Brasil, entre outras autoridades.

Chamada a compor a mesa representando os estudantes de todos os níveis, a presidente da Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG), Elisangela Lizardo, retomou em seu discurso uma das principais recomendações da 4º Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (4º CNCTI): a necessidade de reforçar o sistema educacional, da pré-escola à pós-graduação. Nessa perspectiva, Elisangela reforçou a campanha pela destinação de recursos no patamar de 10% do PIB para a educação. A presidente da ANPG também reforçou a necessária prioridade à educação e à pesquisa científica na repartição dos recursos do pré-sal.

Já a presidente da SBPC, Helena Nader, chamou atenção para propostas em pauta na agenda política nacional que preocupam a comunidade científica brasileira. Nader fez referência à “ausência da comunidade científica nas discussões do novo Código Florestal”. Criticou o projeto de lei nº 220, em tramitação no Senado, que permite contratações de docentes de nível superior sem diploma de pós-graduação. E criticou a possibilidade de cortes no orçamento do MCT. "Além do contingenciamento no orçamento deste ano, há indícios de que se planeja redução nominal das verbas do MCT para 2012", disse.

No final de sua fala a presidente da SBPC reforçou a luta por um novo marco legal para as universidades, capaz de garantir maior autonomia a essas instituições, hoje excessivamente engessadas pelo enquadramento na Lei nº 8666 – a Lei de Licitações. Lembrando o Regime Diferenciado de Contratações (RDC) adotado para as obras da Copa 2014 e das Olimpíadas 2016, Helena Nader pediu solução semelhante nas áreas de educação, ciência e tecnologia, que segundo ela também devem ser entendidas como “urgências nacionais”.

O ministro Aloizio Mercadante, por sua vez, afirmou que SBPC e Academia Brasileira de Ciência (ABC) deram grande contribuição no debate sobre o Código Florestal. O ministro considerou importante a luta pela ampliação das verbas para educação, ciência e tecnologia e propugnou uma maior participação da comunidade acadêmica nos debates sobre a repartição dos recursos do pré-sal. "Se quisermos construir um futuro para o Brasil temos que preparar o país para a economia do conhecimento", sentenciou.

Cientistas homenageados

Como ocorre em todos os anos, a solenidade de abertura da Reunião Anual homenageou pesquisadores com relevantes serviços prestados à ciência brasileira. Neste ano a homenageada foi a física Amélia Hamburger, recentemente falecida. Figura de proa da ciência brasileira, Amelinha – como era carinhosamente chamada – destacou-se na luta em prol da democratização do País e pelos avanços na educação e na ciência. Parte de sua história se encontra retratada no longa “O ano em que meus pais saíram de férias” – produção brasileira que recentemente concorreu ao Oscar de melhor filme estrangeiro.

Além de Amélia Hamburger, também foi homenageado o professor Jofre Marcondes de Rezende, pesquisador da área de saúde da UFG, por sua contribuição seminal à luta contra o Mal de Chagas.

Programação

Ao longo de seis dias, até a próxima sexta (15), a Reunião da SBPC contará em sua programação com exposições, feiras de ciências e de livros, apresentações de trabalhos científicos, minicursos, conferências, mesas-redondas, simpósios e assembleias de sociedades científicas, incluindo a da própria SBPC.

Além das atividades relacionadas ao tema central da Reunião, serão debatidos assuntos como os avanços recentes da ciência brasileira, o marco legal para a ciência, a tecnologia e a inovação, as mudanças climáticas, o programas espacial e nuclear, as políticas educacionais, a interdisciplinaridade na ciência, os desafios das cidades brasileiras e muitos outros. O “Ciência em Ebulição” – formato de debate em que dois contendores duelam em torno de um tema polêmico – terá uma de suas tardes destinada à temática do Código Florestal.

Além disso, sessões especiais homenagearão os 60 anos da Capes e do CNPq, e os 25 anos da ANPG. A entidade dos pós-graduandos também participa da mesa "Produção acadêmica: plágio e acusações de plágio".

Presidida por Olival Freire Jr. – membro do Comitê Central do PCdoB – a Sociedade Brasileira de História da Ciência (uma das afiliadas da SBPC) participou da programação da 63º Reunião Anual promovendo a mesa-redonda “Abordagem histórica das Ciências Naturais e da Antropologia sobre o Cerrado brasileiro”, que buscou retratar a multiplicidade de olhares sobre o bioma.

Fundação Grabois presente

Como parte da programação da 63º Reunião Anual da SBPC a Fundação Maurício Grabois, em parceria com a Secretaria Regional da SBPC Goiás e com a Associação Nacional de Pós-Graduandos, promove na noite de amanhã (13) o debate “A Amazônia, o Cerrado e os desafios da sustentabilidade”. Participam da mesa como expositores o físico Ennio Candotti, presidente de honra da SBPC e coordenador-geral do Museu da Amazônia (MUSA); o engenheiro agrônomo Eron Bezerra, secretário de Estado da Produção Rural do Amazonas, e o professor do Instituto de Estudos Sócio-Ambientais (IESA/UFG) e secretário regional da SBPC-GO Romualdo Pessoa Campos Filho.

Segundo o texto de apresentação da atividade, por suas dimensões e riquezas minerais, biológicas e socioculturais a Amazônia e o Cerrado encarnam em si o desafio da construção de um novo projeto nacional de desenvolvimento. “Qualquer iniciativa que tenha como objetivo impulsionar o desenvolvimento econômico e social não pode passar ao largo dessas regiões estratégicas. É necessário que as capacidades nacionais de geração de conhecimentos se debrucem sobre os dilemas, as potencialidades e os desafios colocados ao desenvolvimento de ambas as regiões. Só assim será possível valorizar suas riquezas naturais e socioculturais, promovendo o desenvolvimento sustentável, evitando a biopirataria e a degradação e transformando nosso país, simultaneamente, em potência alimentar, ambiental e energética”, finaliza o folder promocional do evento.

Na ocasião serão lançados os livros "Cerrado, perspectivas e olhares", de Márcia Pelá e Denis Castilho (Orgs) e "Meio ambiente e desenvolvimento — Em busca de um compromisso", de Aldo Arantes (Org).

Fonte: Fundação Maurício Grabois