Sem cargos, Marina luta para não desaparecer da cena política
Sem partido e sem mandato pela primeira vez em 30 anos, a ex-senadora Marina Silva afirma ter deixado o PV sem uma fórmula para não submergir na cena política. Ela reconhece que deve perder visibilidade, mas diz não estar "ansiosa" para se manter em evidência.
Publicado 09/07/2011 12:46
O problema preocupa aliados da ex-presidenciável, que planeja fundar uma sigla para concorrer novamente ao Planalto em 2014. "Temos que abaixar a ansiedade com essa coisa de ser visto. Não vou ficar com uma melancia no pescoço, fazendo cambalhota para ser vista", disse Marina, sem tampouco explicar seus planos.
Ela deixou claro que continuará a militar na área ambiental em Brasília, mesmo após romper com o PV. "Vou entrar nas causas que são importantes e justas, mesmo que sejam causas perdidas", disse, citando a luta contra as mudanças no Código Florestal. "Estou nessa agenda há muito tempo e jamais deixaria de estar por não ter a certeza do sucesso."
Marina quer usar órgãos ainda incipientes, como o IDS (Instituto Democracia e Sustentabilidade) e o fórum de ex-ministros do Meio Ambiente, para dar respaldo institucional às suas aparições públicas. Já o Instituto Marina Silva — que segundo ela será dedicado a ações de educação ambiental — ainda não tem sequer uma sede própria.
"É algo pequeno, como uma tenda. As pessoas não conseguem entender isso”, afirma. “Depois de ter 20 milhões de votos, acham que você deve ir para uma torre, um palácio. Eu estou indo para uma tenda, uma coisa modesta."
Após criticar todos os partidos no ato que marcou sua saída do PV, na quinta-feira, Marina demonstrou incômodo com as críticas contra uma suposta tendência messiânica — que ela descreve como um "rótulo" a evitar. Mas afirmou ter dificuldade em "administrar o carisma" com os seguidores. "Lideranças carismáticas podem pensar que podem tudo — e isso é uma ilusão, não podem. A melhor forma é saber que o carisma não deve ser usado de qualquer forma."
Marina — que foi a única presidenciável evangélica em 2010 — citou lição de Jesus Cristo sobre o tema. "Jesus nunca se deixou aprisionar pelas armadilhas nem do seu carisma nem do seu poder", afirmou. A ex-senadora sugeriu que seu "sofrimento" por abandonar o PV foi menor do que o da saída do PT, em 2009. "Seria hipocrisia dizer que foi maior agora. São sofrimentos diferentes", disse.
Planos eleitorais
O grupo de Marina, que anunciou na quinta-feira (7) sua desfiliação do PV, apoiará candidatos de outros partidos, desde que se comprometam com plataformas defendidas pela ex-senadora e seus aliados. Isso pode levá-la a pedir votos contra políticos do PV nas eleições municipais de 2012, quando os dissidentes ainda estarão sem partido.
Outro grupo, porém, permanece na sigla. Alguns temem perder o mandato caso saiam; outros ainda tentam tirar José Luiz Penna da presidência do partido — cargo que ocupa há 12 anos. "Não sou muito boa para pedir votos para mim, mas excelente para conseguir votos para os outros", disse Marina. "Estaremos todos juntos, inclusive com pessoas de outros partidos, ou sem nenhum partido."
O deputado Alfredo Sirkis (PV-RJ), que entregou os cargos de direção no partido em apoio a Marina, mas não saiu da legenda, sinalizou que poderá fazer campanha contra candidatos da sigla que considere fisiológicos. Ele citou casos de Mato Grosso, Rondônia, Amazonas e Distrito Federal.
"Quando se está no partido, há um constrangimento em não os apoiar e apoiar outros que tenham compromisso com o nosso programa. Afastado, tenho liberdade de chegar a um município e, para a base do PV, dizer para não votar num candidato a vereador ou a prefeito porque, mesmo filiado ao PV, é um pilantra", disse Sirkis.
O grupo centrou fogo contra o PV e Penna, apontado como o responsável pela saída de Marina. A ex-senadora decidiu sair do partido após a sigla prorrogar por um ano o mandato da atual direção. Para o grupo, o movimento em favor da verde "transbordou" o partido. "A experiência no PV serviu para sentir até que ponto o sistema político está empedernido e sem capacidade de abrir-se para sua própria renovação", disse Marina.
O PV afirmou, em nota, que prepara "atualização programática". Classifica as críticas sobre falta de democracia interna, feita pelo grupo de Marina, como "polêmica artificialmente inflada". A ex-senadora não descartou criar nova sigla nem tentar a Presidência em 2014.
Da Redação, com informações da Folha.com