Itália: Saída de Berlusconi e eclosão de crise fiscal e de dívida
A longa gestão do cavagliere – Silvio Berlusconi – está chegando ao final no pior momento para o país. A queda-de-braço de Berlusconi com a Liga do Norte, que exige reduções tributárias, é bem provável que não permita a tomada de medidas preventivas que desencorajariam os mercados de exercerem pressão desestabilizadora contra a Itália.
Por Maria Segre, no Monitor Mercantil
Publicado 30/06/2011 00:43
A adoção de medidas de frugalidade fiscal na Itália não é só unificação da estabilidade governamental e da possibilidade do atual ou do próximo Parlamento para apoiar um governo de maioria parlamentar estável e seguro.
É principalmente reordenação das fortes divergências internas periféricas entre Norte e Sul, considerando que a Itália constitui micrografia das diferenças endoeuropéias entre os superavitários países-membros do Norte da Zona do Euro e os problemáticos da periferia Sul.
Em outras palavras, uma provável crise fiscal na Itália colocará em gravíssima situação não só a estabilidade governamental, mas, também, a própria unidade do país, com o Norte recusando-se a continuar apoiando o "parasita" Sul, um cenário que incentivará a racista Liga do Norte de não só reivindicar sua separação do país, mas também resultará em recomposições e diversificações no total do espectro político italiano.
Tudo isso não constitui fundamentos novos, mas por uma vez mais confirmação dos pecados paternos da Unificação da Itália em meados do Século 19, que lembra – em grau preocupante – as atuis evoluções no interior da Zona do Euro.
Desigualdade ampliada
A unificação italiana, há mais de um século e meio, é exemplo característico de como as políticas monetária, econômica, assim como a política unificação em uma região específica, ao invés de resultarem na eliminação das desigualdades periféricas, poderão ampliá-las e levá-las em ponto de paroxismo.
Além disso, como hoje na Zona do Euro, o grande favorecido, a Alemanha, desdenha o Sul, cujos déficits são, em grau elevado, consequência dos superávits alemães, assim também na Itália o Norte, historicamente e ao longo dos anos responsável pela marginalização e o parasitismo do Sul, expressa um incessantemente crescente descontentamento por ter que apoiar as mais problemáticas regiões do Sul do país.
É óbvio que aquilo que poderá prevalecer para a Itália, prevalecerá muito mais para a Espanha, caso não for controlada a crise fiscal e o país vier a sofrer ataque frontal e pressão dos mercados: A Catalunha e o País Basco verão seu separatismo aumentando equivocados de que sua emancipação de Madri poderá ser uma opção de custo menor.
Com os casos da Itália e da Espanha assemelha-se, também, a Bélgica, Estado sem governo há mais de um ano e registrado desde novembro do ano passado na lista dos países de um eventual dominó de desestabilização na Zona do Euro. O crônico descontentamento dos flamengos por causa do apoio dos valonos dificultará a tomada de quaisquer medidas preventivas para blindar o país.
Na Itália não está sendo abalado somente Berlusconi, mas a própria Segunda República que resultou após a derrocada da Primeira – no início da década de 1990 – e depois da decadência da democracia-cristã.