Evento sobre 52 anos da Revolução Cubana destaca luta midiática
Há muito desconhecimento no Brasil e no mundo sobre a realidade cubana. A avaliação é do professor e jornalista Hélio Doyle, que participou do seminário “A Revolução Cubana. 52 anos depois: Transformações e desafios. Uma visão objetiva da realidade”, promovido pela Frente Parlamentar Brasil-Cuba do Congresso Nacional. Os participantes do evento criticaram a mídia por fazer uma caricatura da realidade cubana.
Publicado 28/06/2011 18:32
Os palestrantes – brasileiros e cubanos, parlamentares e especialistas – destacaram a imagem distorcida da realidade cubana que é divulgada no mundo pela grande mídia. A senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), presidente da Frente Parlamentar, diz que a grande mídia apresenta informações deturpadas e distorcidas da luta do povo cubano pela manutenção do modelo de vida que quer para si.
“Não temos os instrumentos da grande mídia, mas é importante manter o debate para dizer que o país que enfrenta o embargo econômico dos Estados Unidos há 52 anos não sobreviveria sem o apoio e a participação do povo”, avalia a senadora.
Para Doyle, “Cuba é uma experiência única, o mais importante laboratório social da América Latina”. Ele diz que a revolução cubana foi feita pelo povo e não apenas o grupo de guerrilheiro instalado em Sierra Maestra. Por isso, segundo ele, o sistema montado pela revolução, baseado em um sentimento patriótico e anti-imperialista do povo cubano, sobreviverá a qualquer pessoa individualmente, rechaçando a ideia de que a morte de Fidel Castro representaria o fim desse sistema.
Apoio e agradecimento
A fala dos palestrantes se revezou entre manifestações de apoio e solidariedade dos brasileiros e agradecimentos dos cubanos. As palavras da deputada Magaly Llort, de 72 anos, mãe de Fernando González, um dos cinco heróis cubanos presos nos Estados Unidos, foi de agradecimento ao receber da deputada Manuela d´Ávila (PCdoB-RS) cópia da moção em defesa do povo cubano, aprovada, por unanimidade, em reunião da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, que ela preside.
O documento pede que, em respeito à Declaração Universal dos Direitos Humanos, sejam libertados os cinco cubanos Antonio Guerrero, Fernando González, Gerardo Hernández, René González e Ramón Labañino, condenados e presos, há mais de 12 anos, em cárceres privados dos Estados Unidos.
A moção pede também o fim do bloqueio e das ações terroristas contra Cuba e que o Ministério das Relações Exteriores do Brasil discuta as investidas do governo dos EUA sobre a Ilha, junto à União de Nações Sul-Americanas (Unasul).
“Não tenho palavras para agradecer todas as manifestações de solidariedade e apoio a essa luta feroz para enfrentar o bloqueio, que impede o nosso desenvolvimento”, disse a deputada cubana, contando, com detalhes, todo o sofrimento dos cinco cubanos presos e de seus familiares. “Onde estão os paladinos dos direitos humanos?”, indagou, criticando o governo dos Estados Unidos, após falar sobre o tratamento “feroz e inumano aos cinco cubanos”, que estão impedidos de ver as mães – três delas já morreram – e os filhos pequenos, que crescem sem conhecer os pais.
Manuela d´Ávila também destacou a abordagem tendenciosa da grande mídia. “Existem duas grandes violações dos direitos humanos, que são esquecidas pela grande imprensa, que cria factóides de coisas pequenas e abstrai dois grandes casos, como o bloqueio econômico a Cuba e a prisão arbitrária dos cinco heróis cubanos”.
Referência para o mundo
Para o deputado Fernando Ferro (PT-PE), vice-presidente da Frente Parlamentar Brasil-Cuba, “as mudanças políticas na América Latina tiveram a semente na revolução cubana”, enfatizando que “estamos no lado certo da luta política e social que está transformando esse continente”.
O senador João Pedro (PT-AM) também destacou a luta do povo cubano como “uma referência para o mundo pela ousadia de sonhar e fazer, sem se intimidar com a potência militar que são os Estados Unidos”.
Já a senadora Lídice da Mata (PSB-BA) adiantou a avaliação da deputada cubana Kenia Serrano. A parlamentar brasileira disse que o bloqueio econômico imposto à Cuba pelo governo dos Estados Unidos é uma ação perversa para impedir que o povo cubano decida sobre seu próprio destino.
Ato de Genocídio
Kenia Serrano destacou que o bloqueio econômico se constitui um ato de genocídio, que é a adoção de medidas com a intenção de matar uma comunidade por falta de recursos para viver.
Ela fez um retrospecto da situação do país antes de 1959, os desafios da implantação dos princípios socialistas após a vitória da revolução, passando pelo período que os cubanos consideram especial, quando houve colapso da experiência soviética no Leste Europeu.
Sobre os desafios atuais, de mudança no sistema econômico, ela fez questão de destacar que a adoção de novas medidas econômicas visa a manutenção das conquistas. Ela lembrou que, além do bloqueio econômico, o país tem outros problemas, como os furacões, citando um exemplo, mas que a decisão do povo cubano é que o país siga optando pelo socialismo, com garantia de justiça social e mais eficiência em seu desempenho econômico e produtivo.
Também ela falou sobre “a dura luta midiática que faz caricatura da realidade cubana”. E Hélio Doyle acrescentou que não há verdade nas notícias veiculadas na mídia, no mundo interior, sobre as mudanças econômicas em Cuba. Uns dizem que as mudanças econômicas são para acabar com socialismo e voltar ao capitalismo ou adotar um modelo chinês ou vietnamita. “Como há muito preconceito e desconhecimento, procura-se rotular”, diz ele, apontando os erros de análise e interpretação da situação cubana.
Para ele, o modelo cubano é único e não depende de uma só pessoa. E acredita que, com as mudanças implementadas, a tendência é que o regime socialista cubano durará muitos e muitos anos.
De Brasília
Márcia Xavier