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Planos de saúde: Demora para marcar consultas é principal queixa

Paralisação de médicos por melhor remuneração, proposta de aumento da cobertura dos planos, proibição de cobrança por consulta e estabelecimento de prazo máximo para marcar uma. A pressão sobre os planos de saúde para que ofereçam qualidade do serviço que vendem cresce. O motivo pode estar no resultado revelado pela pesquisa encomendada pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) ao Datafolha: quase 60% dos usuários de plano de saúde enfrentaram algum problema no serviço ofertado no último ano.

A demora em conseguir atendimento em pronto-socorro, laboratório ou clínica é a queixa mais comum, apontada por 26% dos entrevistados. Em segundo lugar, aparece a pouca opção de profissionais, hospitais e laboratórios credenciados (21%). Além disso, 14% das pessoas ouvidas disseram que procuraram serviços do SUS (Sistema Único de Saúde) por negativa ou restrição de cobertura por parte do plano de saúde.

"Essa pesquisa veio confirmar a insatisfação com os planos que já falamos há tempos", disse o vice-presidente do CFM, Aloísio Tibiriçá.

No entanto, 76% dos entrevistados afirmaram estar satisfeitos com os serviços. Para o vice-presidente, a satisfação dos usuários ocorre depois de terem sido atendidos pelos médicos. "Isso é depois que é atendido. O problema é chegar no médico, é o acesso", disse.

A pesquisa traz também um perfil sobre quem tem plano de saúde no país, grupo que soma mais de 45 milhões de brasileiros. Cada pessoa procura os serviços do plano, em média, sete vezes por ano. A maioria busca consulta médica ou exame de diagnóstico, como o de sangue ou raio-X.

Os usuários mais frequentes são da região Sudeste e das regiões metropolitanas das capitais. Em geral, o usuário tem alta escolaridade e renda familiar superior a três salários mínimos por mês.

Novos prazos

O levantamento foi divulgado um dia após a ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) definir prazos que as operadoras dos planos terão de cumprir para atender os pacientes. A resolução da ANS publicada nesta segunda-feira (20) estabelece que os planos de saúde terão que cumprir prazos de atendimento. Consultas básicas nas áreas de pediatria, clínica médica, cirurgia geral, ginecologia e obstetrícia devem ser marcadas em no máximo sete dias úteis. O mesmo prazo vale para atendimento com cirurgião-dentista. Urgências e emergências devem ser prestadas de imediato por parte dos planos.

Não há garantia que o usuário será atendido pelo médico de sua escolha, mas sim por qualquer profissional credenciado da mesma especialidade. As regras passam a valer em setembro. A operadora que descumprir estará sujeita a pagamento de multa ou auditoria da agência reguladora.

Para o CFM, as normas da ANS somente serão cumpridas se a rede credenciada for ampliada. Entidades representativas dos planos de saúde afirmam que é viável atender os prazos estipulados pelo governo.

Em abril deste ano a ANS já havia publicado uma nota coibindo práticas abusivas das empresas que administram planos de saúde: a ANS informou, na ocasião, que é vedada a cobrança de valores adicionais por consulta ou qualquer outra prestação de serviço que tenha cobertura obrigatória no plano de saúde. No mesmo mês, a agência realizou consulta pública sobre a atualização da cobertura assistencial obrigatória, com o objetivo de ampliar os serviços oferecidos pelos planos.

Queda de braço

Além da ANS apertar a regulamentação, os médicos têm travado uma verdadeira queda de braço com as operadoras por causa do valor pago pelas empresas aos profissionais credenciados. Em abril, a categoria paralisou, por 24 horas, o atendimento de rotina e as cirurgias marcadas para cobrar reajuste dos valores.

A Agência Brasil procurou a FenaSaúde (Federação Nacional de Saúde Suplementar), que representa 15 operadoras, para comentar o resultado da pesquisa e aguarda retorno.

O Datafolha ouviu 2.061 pessoas em 145 municípios, nos dias 4 e 5 de abril deste ano. Do total de entrevistados, 545 afirmaram possuir plano de saúde.

Da redação, com Folha de S. Paulo