Indústria de calçados brasileira perde 3.417 empregos em maio
Maio é tradicionalmente o mês em que a indústria de calçados prepara-se para atender à demanda do verão, já que 60% das vendas do ano concentram-se no segundo semestre. Neste ano, entretanto, o saldo de empregos do setor ficou negativo no mês. Maio registrou 3.417 demissões a mais do que contratações.
Publicado 21/06/2011 18:17
O dado contrasta com o de maio do ano passado, em que a indústria gerou 1.540 novas vagas. No acumulado de 2011, o saldo continua positivo, em 17 mil novos postos, mas é bastante inferior à geração de empregos de janeiro a maio de 2010, de 44 mil vagas. Hoje, a produção de calçados emprega 364 mil pessoas no Brasil.
Juros e câmbio
O resultado está associado à desaceleração da economia, provocado pela elevação dos juros básicos e o ajuste fiscal, e a política de câmbio flutuante, que hoje estimula a valorização do real e subtrai competitividade e mercado dos ramos da indústria mais dependentes de mercado externo ou sujeitos à concorrência internacional.
A Associação Brasileira de Indústrias de Calçados (Abicalçados) culpa a entrada de produtos chineses pela perda de empregos no país. Desde março do ano passado, depois de um processo antidumping, os calçados da China passaram a ter o ingresso taxado no Brasil.
Os fabricantes, entretanto, afirmam que a indústria chinesa dribla a norma por meio de triangulação. Segundo a denúncia, a China envia a sola e cabedal (parte de cima do sapato) para serem montados em outras regiões e no Brasil ou simplesmente modificam o país de origem na etiqueta.
Triangulação
A triangulação, segundo os dados da Abicalçados, é feita por meio de outros países asiáticos. De janeiro a maio de 2011, na comparação com o mesmo período de 2010, a importação de calçados da China cresceu apenas 2% em valor, enquanto o ingresso de produtos da Indonésia cresceu 125%; do Vietnã, 46% e de Hong Kong (que a associação afirma não ter fábrica de sapatos) avançou 207%.
Até o ano passado, segundo a Abicalçados, a triangulação concentrava-se em calçados esportivos e infantis. Desde o início do ano, entretanto, o setor percebe uma extensão para sapatos femininos, principalmente, botas.
No total, as importações de calçados foram de janeiro a maio deste ano 47% superiores às do mesmo período de 2010. “A economia europeia piora com a Grécia, os EUA não geram emprego e o Brasil sobra como a bola da vez para desovar os estoques que sobraram no mundo”, considera o presidente da Abicalçados, Milton Cardoso.
Demissões em junho
Com base no argumento da triangulação, a Abicalçados abriu um processo no Departamento de Defesa Comercial (Decom) em janeiro. A associação foi informada, entretanto, de que ainda não foi possível iniciar a investigação porque o Ministério da Fazenda não liberou dados de importação.
“Até agora não estamos vendo sinais concretos de que o governo vai reagir”, lamenta Cardoso, acrescentando que há sinais claros que haverá mais um saldo negativo de empregos em junho. “Muitas fábricas já estão concedendo férias antecipadas e licenças a seus funcionários”.
Com informações do Valor